por Ricardo Arida
Uma sequência de estudos nas duas últimas décadas tem mostrado a influência do exercício físico regular na cognição (capacidade de adquirir conhecimento). Portanto, esse assunto não é novidade, uma vez que pesquisas em animais e em humanos procuram explicar os mecanismos pelo qual a atividade esportiva ou um programa de exercício físico afeta positivamente a *plasticidade do sistema nervoso central.
Entretanto, o que impressionou o meio científico recentemente foi uma publicação sobre esse tema numa das mais respeitadas revistas científicas, a PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences). **Eles mostraram uma positiva associação entre condição cardiovascular e rendimento cognitivo.
O estudo acompanhou um milhão e duzentos mil adolescentes na faixa etária de 18 anos alistados para o serviço militar na Suécia. Jovens que apresentavam uma melhora cardiovascular entre 15 e 18 anos exibiram melhor rendimento nos testes de inteligência do que aqueles com condição física mais baixa no mesmo período. Para verificar se os resultados poderiam refletir uma influência genética ou meio familiar, os pesquisadores analisaram na amostra, 3147 pares de gêmeos, nos quais 1432 eram idênticos. Foi observado que os fatores ambientais e não genéticos exerceram uma influência nessa associação.
Os resultados sugerem que a melhora da condição cardiovascular como estratégia de saúde pública pode atingir as metas educacionais propostas pelos diferentes governos. Uma política educacional para aumentar a carga horária de educação física no currículo escolar seria uma forma de investir no futuro dos adolescentes para uma melhor realização acadêmica e profissional, assim como na prevenção de doenças.
Uma vez que a relação entre exercício físico e função cognitiva em adolescentes não está bem esclarecida, tendo em vista os dados conflitantes da literatura, não podemos afirmar que esses achados asseguram os resultados descritos acima.
De qualquer forma, um número crescente de estudos tem mostrado os efeitos benéficos sobre os aspectos cognitivos, na recuperação de lesões do sistema nervoso e na melhora da qualidade de vida, fortalecendo a importância do exercício físico regular tanto durante a infância e adolescência como no envelhecimento.
* Refere-se à capacidade do sistema nervoso de alterar algumas das propriedades morfológicas (estrutura externa) e funcionais em resposta a diferentes tipos de estímulos (meio ambiente, aprendizado, lesão, exercício físico, etc)
**Cardiovascular fitness is associated with cognition in young adulthood',
Maria A. I. Åberga et al. PNAS, 2009;106(49):20906–20911.