Por Marta Relvas
Segundo LEDOUX, os pesquisadores das emoções devem compreender como as informações emocionais são representadas na memória de trabalho.
O grande desafio é descobrir de que maneira o conteúdo da memória de trabalho é experimentado conscientemente e como esses fenômenos subjetivos emergem do cérebro.
Podemos considerar que memória de trabalho constitui a chave da consciência. Utiliza-se a memória de trabalho para explicar os sentimentos. Em sua obra “Cérebro Emocional”, ele diz que os sentimentos surgem quando a atividade dos sistemas de emoção especializados é representada no sistema que dá origem à consciência, e faz uso da memória de trabalho como uma versão amplamente aceita para o possível surgimento dessa última.
Compartilhando um exemplo a seguir, quero descrever como a emoção é desencadeada no organismo humano.
Num ambiente de trabalho, no dia a dia, não é raro, o colaborador da organização, defender-se de não ter executado tal tarefa e/ou entrar em contato com determinado fornecedor para agendar aquela reunião dentro do prazo solicitado pelo gestor da operação. Com objetivo de entender o sistema de defesa, como um sistema especializado da emoção, a seguir será descrito a forma como a atividade desse sistema pode vir a ser representada na memória de trabalho, dando origem ao sentimento que conhecemos como medo.
O colaborador se depara com a cobrança do gestor durante a realização de inúmeras tarefas no expediente. Seus olhos recebem o reflexo da luz sobre o gestor. Então os sinais são transmitidos, por meio do sistema visual, ao seu tálamo visual, e por sua vez, ao córtex visual, onde uma representação sensorial do gestor é criada e mantida num buffer de objeto visual de curto prazo. Conexões entre o córtex visual e as redes de memórias corticais de longo prazo ativam lembranças relevantes (fatos sobre cobranças armazenados na memória, assim como possíveis lembranças de suas experiências passadas com cobranças na infância, em casa, na família…). Por meio das conexões entre as redes de memória de longo prazo ativadas são integradas à representação sensorial do estímulo na memória de trabalho, possibilitando a percepção consciente de que o objeto que o colaborador está de frente é seu gestor.
Avançando mais um pouco na observação, o colaborador observa que na mão direita de seu gestor tem um papel. Seus olhos também captam este estímulo. Representações conscientes são criadas da mesma maneira que no exemplo da cobrança do gestor, pela integração na memória de trabalho, de representações visuais de curto prazo com informações da memória de longo prazo. Contudo, no caso do papel na mão direita, a memória de longo prazo também informa-o de que este tipo de abordagem pode estar seguida de mais uma atividade a ser realizada, uma carta de advertência e/ou desligamento da empresa.
Não cumprir atividades solicitadas pela gestão, pode ser o fim e ameaçar a carreira do colaborador por não ter cumprido a atividade dentro do prazo estipulado pelo gestor, logo o colaborador pode estar em perigo.
Segundo LEDOUX, segundo as teorias de avaliação cognitiva, dentro do processo emocional descrito, a avaliação da situação, seria suficiente para produzir o “medo” que o colaborador sente como resultado da cobrança do gestor.
A diferença entre a representação da memória de trabalho da cobrança do gestor e da folha na mão direita é que esta última inclui informações sobre o perigo que o papel na mão direita do gestor representa. Mas essas representações e avaliações cognitivas não são suficientes para transformar a experiência em uma vivência emocional plena. É necessário algo mais para transformar as avaliações cognitivas em emoções, o que falta é a ativação do sistema construído pela evolução para enfrentar os perigos. Esse sistema, tem a participação fundamental das amígdalas cerebrais.
As amigdalas são pequenas estruturas do sistema nervoso em forma de amêndoa, importante na aquisição de informações de perigo, processamento, elaboracão e produção de respostas aos agentes estressores.
Elas estão situadas dentro da região antero-inferior do lobo temporal, que se interconectam com o hipocampo, com o tálamo, com os núcleos septais e com o córtex pré-frontal. Essas conexões garantem seu importante desempenho na mediação e controle das atividades emocionais, como amizade, amor e afeição, nas exteriorizações do humor e, principalmente, nos estados de medo e ira e na agressividade.
Portanto, as amigdalas cerebrais são fundamentais para a autopreservação, por serem o centro identificador do perigo, gerando medo e ansiedade e colocando a pessoa em situação de alerta, aprontando-se para se evadir ou lutar.