por Anette Lewin
"Sou casada há 23 anos e não tivemos filhos. Nosso casamento está insuportável, pois não há diálogo. Quando o chamo para conversar, ele sempre foge do assunto. Vivemos como conhecidos dentro de casa e vivo muito triste com isso. Já falei em separação e ele fica calado. O que devo fazer?"
Resposta: Parece que, apesar de casada, você sente que está sozinha. E não é de hoje. Seu sentimento de solidão já é crônico.Chama atenção porém essa frase: "Vivemos como conhecidos dentro de casa…". Em geral, nesse tipo de queixa costuma-se dizer: "Vivemos como desconhecidos dentro de casa". Será que foi apenas um lapso? Ou seu sentimento é de que pessoas que já se conhecem não têm mais o que dizer, ou não têm mais o que ouvir?
Bem, o que fica claro é que você gostaria que ele participasse de sua proposta de diálogo, mas ele não quer. Por que será? Talvez, para ele, as coisas não estejam tão ruins. Afinal, você falou em separação e nem assim ele reagiu; não aceitou prontamente sua ideia.
É importante, num primeiro momento, entender quando foi que esse silêncio verbal , por parte dele, se instalou entre vocês. Sempre foi assim? Ou nos primeiros anos o diálogo fluía? Será que existiu um momento de ruptura? Algum acontecimento traumático entre vocês? Reflita sobre tudo isso e tente entender quando essa falta de participação dele começou.
É possível que você não encontre uma ligação direta entre o silêncio dele e alguma coisa concreta; é possível que as conversas foram minguando e você começou a falar sozinha, sem a participação dele. Mas é possível também que as coisas sempre foram assim: você mais falante e ele mais calado. Se assim for, ao invés de pensar em terminar seu casamento, talvez valha a pena você procurar pessoas que estejam dispostas, como você, a expor suas ideias e ouvir as suas, criando diálogos. Procure amigas, parentes, novas atividades, cursos, novos trabalhos… Enfim, situações onde existam pessoas diferentes. Assim você terá novas experiências para contar ao seu marido e aumentar as chances de ser ouvida novamente.
Às vezes quando nos acomodamos demais em nosso cotidiano acabamos falando sempre as mesmas coisas e deixamos de ser ouvidos.
Por outro lado, conversar não é a única troca possível num casamento. Fazer atividades em conjunto muitas vezes promove um "diálogo" muito mais rico do que discutir teoricamente uma relação. Afinal, as famosas "DRs" em geral são chatas, circulares e tensas. Enquanto um passeio, uma viagem, um filme, podem ser divertidos, inusitados e relaxantes.
Saia da teoria para a prática
Assim, tente sair do plano teórico e proponha atividades em conjunto. É muito mais fácil divertir-se com uma nova atividade do que com experiências do passado carregadas de mágoa, que, em geral, são os temas das DRs. O que passou passou, não dá para modificar. Fazer planos para o futuro é importante, mas às vezes o plano não se concretizará. Agora, sair de casa e dar uma volta no parque faz parte do presente que é onde podemos agir. Assim, mãos à obra, rechear o presente para que ele se transforme em uma boa recordação do passado e um novo incentivo para o futuro.
Finalmente, entenda que casamentos longos como o seu passam por crises, questionamentos e redefinições. Talvez o momento atual não seja o melhor, mas quem opta por viver junto, se compromete a transformar todos os momentos, bons ou maus, em novos desafios. Quem ficou junto por 23 anos certamente viveu bons momentos e acredita em relações profundas. Começar tudo de novo não deixa de ser uma opção.
Viver com alguem desconhecido, em oposição a viver com quem já se conhece à exaustão, certamente trará novas emoções. Por uns tempos. Mas é importante entender que depois de algum tempo, qualquer relacionamento se mantém através de trabalho, dedicação, compreensão e generosidade. Com qualquer pessoa.