Se o seu chefe te designou funções não ligadas ao seu cargo, saiba que alterações no seu contrato/atividades devem ser feitas com o seu conhecimento e consentimento e não de forma unilateral; saiba como lidar com essa situação

Pergunta de um leitor:

“Com essa crise, houve demissões na empresa e meu chefe passou a me dar tarefas não ligadas ao meu cargo e formação. O que faço hein? Isso tá certo? Não estou gostando nada, nada disso. Qualquer tipo de orientação que puderem me dar, ficarei contente! Obrigado.”

Desvio de função

Resposta: Compreendo e concordo com a máxima de que devemos ser proativos, abraçar diferentes atividades e nos dispormos a ir além das tarefas para as quais fomos contratados. Isso mostra que a empresa pode contar conosco e que desejamos crescer, bem como fazer prosperar a empresa.

Porém, a própria CLT em seu artigo 468, mostra claramente a regra do jogo: “Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia.”

Ou seja, alterações no contrato/atividades devem ser feitas com o conhecimento e consentimento do colaborador e não de forma unilateral.

Por mais controverso que isso seja nos tribunais, me coloco no seu lugar pensando que eu, por exemplo, estaria sendo contratada como Head de RH de uma empresa, mas, passaria a exercer também as atividades da gestão da área Fiscal, sem nenhuma formação e até mesmo interesse em atuar nessa área.

Jogo aberto com o líder

Entendo que muitas vezes acabamos nos calando. Ainda mais em um ambiente como esse, em que pode estar imperando aquele clima de “quem vai ser o próximo”. Mas, ao mesmo tempo, é lícito e necessário nos posicionarmos, não ficarmos passivos.

Sendo assim, converse com o seu líder abertamente, inclusive levando sugestões de como imagina que essa situação possa ser resolvida.

Imagino que ainda não tenha tido essa conversa com ele, mas, é necessário que explique, inclusive, os riscos de realizar algo para o qual não foi tecnicamente treinado.

Faça essa conversa não em tom de reclamação, mas, se posicionando sobre como isso está afetando a sua produtividade e até mesmo a sua motivação. Se você não foi um dos demitidos, obviamente ele gosta do seu trabalho. Imagino então que vai te ouvir e não desejar lhe perder.

Você poderia até mesmo pedir um aumento de salário e um novo cargo, mas, pelo que entendo, você não está satisfeito com o excesso de trabalho e atividades de outros setores.

Busque seus direitos

Sentindo-se prejudicado por essa situação, caso tente uma solução amigável e ela não ocorra, ainda existem as vias legais em que você pode buscar para resolver o caso:

1. Solicitar a rescisão indireta (requerida por meio de reclamatória trabalhista junto à Justiça do Trabalho) pois, um dos motivos desse tipo de rescisão ocorre quando a empresa descumpre obrigações contidas no contrato de trabalho, sendo considerada uma “rescisão por justa causa” do empregador.
2. Após o desligamento, ajuizar uma reclamação trabalhista requerendo o direito à diferença salarial do tempo em que exerceu as atividades. Lembre-se de guardar provas de que a situação ocorreu e por quanto tempo.

Propósito

Mas, vamos pensar juntos: qual é a sua meta de carreira e futuro? Pelo seu texto, você estará nitidamente incomodado e insatisfeito.

Será que deve permanecer nessa empresa? Ou começar a se valorizar, atualizar o seu CV e buscar novas vagas no mercado? Principalmente se isso estiver afetando a sua saúde física, mental e o seu tempo com a família.

O que você pretende em termos de sucesso profissional e como pode desenhar um planejamento para alcançá-lo?

Se planeje para começar a agitar a sua rede de contatos, suas redes sociais profissionais e voltar a fazer aquilo que verdadeiramente gosta.

A solução, mesmo não parecendo, está em suas mãos e a mudança somente acontecerá quando você se posicionar!

Sucesso!