por Marcelo Toniette
"Desde que engravidei, perdi completamente o desejo sexual. Simplesmente não tenho vontade nenhuma de fazer sexo. Hoje meu filho já tem um ano, e ainda não sinto desejo sexual. Meu marido reclama muito. Tento fazer sexo com ele, mas ele percebe que não é igual, até porque ultimamente faço por obrigação. Um dia conversei com minha ginecologista, e ela disse que com o tempo minha libido voltaria, mas já se passou um ano."
Resposta: Ao longo da gravidez o desejo sexual varia de mulher para mulher. A redução do desejo sexual geralmente está relacionada às mudanças físicas e hormonais, e como a mulher compreende e vivencia este momento da vida. Apesar de a gravidez ser um evento que marca profundamente a mulher, é importante que este momento seja vivido como uma experiência do casal.
Dependendo de como a mulher lida com a maternidade, toda a sua atenção se volta para o bebê. O homem pode sentir-se um pouco rejeitado, ou mesmo à parte da relação da mãe e do bebê. Daí a importância dos parceiros em respeitar os limites um do outro e, na medida do possível, compartilhar, juntar forças, para viver este momento especial e que gera muita demanda para mãe e pai.
Mulher amante e mulher-mãe
Dadas às intensas mudanças físicas e emocionais na mulher, ela pode sentir-se menos desejada, ou mesmo pouco atraente para o parceiro. Assim, abre espaço para o conflito entre os papeis de mulher-amante e o papel de mulher-mãe, como se tais papéis fossem incompatíveis entre si, o que sabemos não ser verdade. A verdade é que a dinâmica do casal muda, seja com a gravidez, seja com a chegada do bebê. "O bebê faz parte da vida de vocês e não deve ser visto como um empecilho ou mesmo justificativa para a suspensão da vida a dois. Tentem administrar o tempo para que vocês compartilhem alguns momentos, mesmo que sejam escassos, mas caprichem na qualidade"
Quando este momento é bem administrado, a experiência pode ser algo muito positivo, além de fortalecer ainda mais a relação do casal.
Veja se você não está se sobrecarregando no papel de mãe, e dando pouca atenção à sua vivência enquanto mulher. Sem dúvida a mulher acaba sendo mais exigida na maternidade, mas tente encontrar, junto com seu parceiro, formas de dividir tarefas e preocupações. Sua ginecologista tem razão em dizer que o desejo sexual retornaria com o tempo, mas você não deve esquecer que são necessários disponibilidade e estímulos para a vivência sexual. Imagino que ao longo desse um ano vivendo intensamente o papel de mãe, você tenha perdido um pouco o jeito no sexo. Antes de você se forçar a uma situação, cabe o diálogo com seu marido para que ele tenha ciência do que você sente e do que acontece com você.
O encontro de novas possibilidades se dá justamente dentro do clima de parceria entre você e seu marido. Neste momento em que o bebê tem 1 ano de idade, a exigência de cuidados já não é tão intensa como antes. Isso posto, é fundamental ter um ponto de partida para a retomada da vida sexual. Tente identificar em você as suas fantasias com relação ao sexo, ou que sensações a ideia de sexo desperta em você. É preciso checar qual o significado que a maternidade tem para você, e como você está vivenciando esta experiência. Compartilhe com seu marido aquilo que você sente mais agradável ou desagradável, no sentido de que juntos, encontrem alternativas que torne a relação o mais confortável e prazerosa possível para ambos.
Retomada sexual deve ser progressiva e sem cobranças
A retomada da vida sexual deve acontecer progressivamente. Sugiro que neste momento seja suspensa a cobrança do sexo, pois quanto mais você sentir-se cobrada, menor será a sua disponibilidade para o contato. Você se forçar a fazer sexo somente complica mais as coisas, pois o seu desejo tende a ficar cada vez mais baixo. Claro, “ter que” fazer sexo é completamente diferente do “sentir vontade de” fazer sexo. Mas não se esqueça o desejo não surge do nada, mas é um desdobramento da percepção de coisas que você se sente estimulada.
É recomendável que você e seu marido adotem atitudes mais acolhedoras, compreensivas e favoráveis com relação à expressão afetiva e sexual. Outra possibilidade para retomar o contato afetivo-sexual de vocês:
Lembra daquelas coisas boas que você e seu marido faziam quando eram namorados? O ficar junto, o contato, a carícia, o olho-no-olho, o beijo, o abraço, as mãos dadas, as brincadeiras… Se não faziam isso, é um bom momento para experimentar. Invistam em atividades que vocês gostam de fazer juntos: passeios, hobbies, entre outros. Quando estiverem na cama, caprichem nas preliminares e nas carícias. Ao longo dos dias, conforme você se sentir disposta, aí sim a penetração pode ser tentada.
Bebê não deve ser visto como empecilho à vida sexual
O bebê faz parte da vida de vocês e não deve ser visto como um empecilho ou mesmo justificativa para a suspensão da vida a dois. Tentem administrar o tempo para que vocês compartilhem alguns momentos, mesmo que sejam escassos, mas caprichem na qualidade de como vocês aproveitarão este tempo.
Neste momento, a calma e a persistência são companhias bem-vindas. Calma, para compreender este momento vivenciado por você e seu marido; e persistência, para que aos poucos, dia-a-dia, vocês retomem o prazer do contato afetivo-sexual. Se a dificuldade persistir, sugiro que procurem a ajuda profissional, que pode ser de um/a psicoterapeuta para que os auxilie em como lidar com este momento da vida. Boa Sorte!