por Danilo Baltieri
Estou casada com um suíço há oito meses e juntos temos um filho de seis meses. A questão é o estado em que meu marido se encontra: ele não joga por dinheiro, mas são jogos que ele instala no PC (futebol, piratas, etc). Ele já chegou a jogar 18 horas em um dia, sem trocar uma palavra comigo e com o nosso filho. Não sei o que fazer… Já pensei até na separação mas… acho que isso é uma doença e antes de tomar uma decisão dessa, gostaria de ajudá-lo. Como faço?
Jogos de computador – “Alguns casos podem demandar tratamento farmacológico concomitante”
Resposta: Embora estudos apontem alguns benefícios de jogos de computador, tanto em termos de desenvolvimento de habilidades cognitivas quanto motoras, o uso excessivo ou problemático é uma realidade nefasta que não pode ser negligenciada.
Jogadores comumente declaram atingir estados de grande concentração, perdendo-se na aventura fantasiosa gerada pelo jogo. Tais experiências podem ser positivas bem como negativas. Por exemplo, ao “perderem-se” dentro deste universo fantasioso, alguns jogadores encontram alívio para o estresse; outros obtêm enorme prazer e bem-estar. Contudo, alguns jogadores perdem o controle sobre a quantidade de tempo despendido ao jogar, bem como sobre a intensidade da atividade. Esta então chamada “imersão tóxica” na atividade de jogar é altamente prejudicial para o próprio indivíduo quanto para aqueles que o rodeiam.
Na literatura científica, poucos estudos têm sido desenvolvidos no que concerne ao manejo e tratamento de usuários problemáticos de jogos de computador.
Cinco sintomas de compulsão por jogos de computador
Algumas das características do uso problemático de jogos de computador têm sido descritas, tais como:
a) O jogo torna-se progressivamente a atividade mais importante da vida do indivíduo, polarizando seus pensamentos e ações;
b) O ato de jogar promove prazer e alívio da ansiedade e irritação;
c) Deixar de jogar provoca sintomas de ansiedade, irritação, nervosismo;
d) O jogar excessivo afasta o jogador de outras atividades da vida diária, gerando conflitos familiares, no trabalho e em outras áreas da vida social do indivíduo;
e) Após longo período de afastamento dos jogos, o jogador tende a voltar jogar assumindo rapidamente o mesmo padrão anterior.
Alguns pesquisadores definem o uso problemático de jogos eletrônicos no momento em que o indivíduo demonstra algum tipo de prejuízo significativo em sua via (familiar, social, acadêmica, etc.) decorrente das atividades relacionadas ao jogo.
Jogos de computador, bem como videogames e outros jogos eletrônicos, compartilham de algumas características:
(a) proporcionam a interação entre o jogador e a tecnologia progressivamente mais refinada;
(b) permitem ao jogador o acúmulo de créditos baseados em resultados do jogo;
(c) geram muitos estímulos estruturais (sons, luzes, movimentos, etc) que tentam manter a atenção do jogador.
A ideia de muitos desses jogos é manter a atenção do jogador o maior período de tempo possível, sem perder ou mesmo representando desafios progressivos. Assim, esses jogos podem influenciar algumas pessoas mais susceptíveis. Alguns jogadores podem achar difícil obter prazer em outras atividades além do jogo e, quando afastadas do computador, podem manifestar sintomas de ansiedade e irritação.
Da mesma forma como ocorre com portadores de dependência de substâncias psicoativas, a taxa de comorbidades entre jogadores problemáticos de jogos eletrônicos parece ser alta. A maioria dos relatos de caso envolvendo jovens e adultos com esse uso problemático também sugere a presença de outros transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade social, alguns tipos de transtornos da personalidade, hiperatividade.
De uma forma geral, o tempo gasto em jogos eletrônicos é inversamente proporcional à qualidade dos relacionamentos interpessoais e diretamente associado com sintomas de ansiedade social.
Você deve insistir para que seu esposo procure ajuda especializada. Você também deve procurar auxílio de especialista para melhor manejar a situação.
Procedimentos psicoterapêuticos geralmente são propostos. Alguns casos podem demandar tratamento farmacológico concomitante, que pode variar dependendo da comorbidade presente.
Abaixo, cito interessante referência sobre o tema:
Abreu CN, Karam RG, Goes DS, Spritzer DT. [Internet and videogame addiction: a review]. Rev Bras Psiquiatr. 2008;30(2):156-67.