Meu marido me humilha muito

A pergunta que se faz é: você quer sair dessa relação? Ou quer tentar mudar sua postura dentro dela?

E-mail enviado por uma leitora:

“Meu marido me xinga de nome ruim perto dos meus filhos, me atira chinelo, me chama de bosta e ainda joga na minha cara tudo o que faz por mim: tipo comida, carro que ando. Vivo com ele em uma união estável há 19 anos. Ele me humilha e se eu falar que vou trabalhar fora para ter meu dinheiro, ele fala que se eu arrumar, eu posso sair de casa( que mulher dele não trabalha fora). Ele tá me deixando doente psicologicamente e deixando meus filhos assim, porque me xinga perto deles. Não sei mais o que fazer, pois me trata igual lixo e depois quer carinho e que eu faça meu ‘papel de mulher na cama’.”

Continua após publicidade

Resposta: Você está há 19 anos com um homem que humilha você, prende você, rebaixa a sua autoestima, e , praticamente, pela sua descrição, escraviza você.

A pergunta que se faz é: você quer sair dessa relação? Ou quer tentar mudar sua postura dentro dela? Sim, porque esperar que seu marido mude sem você tomar alguma atitude diferente das que tem tomado até agora, é ilusório.

Talvez o que você tem feito até o presente momento é apenas o que fez nesse e-mail: desabafar. E desabafar ajuda, com certeza, mas não é suficiente para mudar a situação. Para tentar mudar uma situação, é necessário mudar de postura. E quem deve mudar de postura é quem se sente desconfortável, no caso, você.

O que levou sua relação a chegar nesse ponto?

Assim, tente entender por que a relação com seu marido foi levando você a ser tratada desta maneira. Quando ele a agride e humilha é porque, certamente, ele está com raiva de você.

Continua após publicidade

Por que será que ele fica com raiva de você? Por que você não faz o que ele quer? Ou, pelo contrário, porque você se tornou uma mulher subserviente, sem força para bancar suas opiniões e que se submete às regras dele por mais absurdas que elas sejam?

Bem, aí temos um paradoxo. Porque fazer tudo só para agradar uma pessoa nem sempre resulta em amor. Muitas vezes resulta em ódio. Como alguém vai amar ou respeitar uma pessoa que não respeita a si própria? Uma pessoa que não luta pelas suas opiniões, pelos seus sonhos, pelos seus ideais?

Submissão em nome do amor é uma armadilha

A submissão em nome do amor é uma armadilha. Uma armadilha difícil de sair como a que prende você agora.

Certamente depois de 19 anos, não é fácil mudar a dinâmica de um casamento. Mas é a única tentativa válida neste momento. Se você quiser tentar manter o casamento, é claro.

Continua após publicidade

Você já tentou dar um primeiro passo para mudar essa situação quando falou em trabalhar. Mas o que aconteceu? Ele disse que mulher dele não trabalha. Se trabalhar, sai de casa, certo? E você parou por aí. Que tal retomar essa proposta? Claro que para isso você teria que ter um trabalho em vista, algo concreto para apresentar a ele. Caso contrário, ele continuaria a duvidar da sua capacidade. E você continuaria a duvidar de você mesma também.

Lembre-se que os primeiros passos para uma mudança dependem de uma ação sua, um primeiro passo realizado integralmente por você mesma; um passo que renove sua autoconfiança e, consequentemente, sua esperança de reconquistar sua liberdade dentro ou fora do casamento.

Nem sempre querer é poder

Mas nem sempre querer é poder. É possível que nas primeiras tentativas de estabelecer uma nova ordem no relacionamento, você perceba que independentemente de você mudar suas atitudes ou não, seu marido não vai mudar o jeito dele com você. Aí é hora de realmente pensar em sair dessa relação. Ou então assumi-la do jeito que ela é, consciente de que sempre será assim.

Caso opte pela separação, lembre-se de tentar fazer isso com cuidado, e só anunciar sua decisão quando estiver pronta para isso. Ou seja, quando tiver onde morar e como se sustentar. Como já teve a oportunidade de ver, só ameaçar não adianta.

Certamente você, do seu ponto de vista, já tentou fazer tudo o que foi discutido aqui e não deu certo. Mas a questão não é apenas tentar. Então, a questão é ter um projeto e fazer o que for possível para concretizá-lo. Desistir frente às primeiras tentativas fracassadas é o caminho certo para o fundo do poço. Ou seja, o mesmo destino de quem tenta sempre do mesmo jeito esperando um resultado diferente. Tentar não é repetir. É encontrar novos caminhos para uma mesma meta. Incansavelmente, com muito empenho, persistência e criatividade.

E uma boa meta a ser perseguida, é aprender a respeitar a si mesma para que os outros a respeitem; é não deixar que uma segunda tentativa de desmoralizá-la aconteça; é aprender a dizer não para o que não aceita; é tentar ser autossuficiente para que ninguém mais possa aprisioná-la em troca de um teto ou comida e, principalmente, agarrar-se com empenho à sua meta. Isso dá trabalho, envolve sofrimento, mas em troca devolverá a você a dignidade e o orgulho de ser uma pessoa melhor.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.