Preconceito de gênero: discriminada no trabalho por ser mulher

Infelizmente, o machismo e o preconceito de gênero feminino, de modo sutil ou não, ainda perduram no ambiente de trabalho

E-mail enviado por uma leitora:

Continua após publicidade

“Fui discriminada em uma reunião de trabalho, pelo simples fato de ser mulher… Fui interrompida durante uma fala e esse meu novo diretor pediu para eu me calar… Fiquei perplexa e perdida com isso, sem saber como lidar com essa situação. Se puder me ajudar, agradeço.”

Como lidar com a situação de machismo no ambiente de trabalho

Resposta: Às vezes essas situações não são escancaradas, podendo ocorrer de forma mais ou menos sutil e, em algumas outras, a mulher até fica em dúvida se o problema não é com ela, se esquecendo de que é algo estrutural na sociedade.

Ser interrompida ou impedida de falar é uma maneira de assediar moralmente uma mulher. A primeira dica que posso lhe dar é: quando for interrompida, continue falando, no mesmo tom, da mesma maneira, sem se alterar ou ainda, diga: “eu gostaria de terminar a minha fala”, “espere que eu conclua meu raciocínio para continuar o seu, por gentileza”.

Se isso ocorrer com mais mulheres da equipe ou da empresa, monte um grupo em que uma apoie a outra e, no momento da interrupção, uma também possa falar pela outra, dizendo: “vamos ouvir o que a colega está tentando dizer, ela ainda não havia terminado sua fala”.

As mulheres devem deixar muito claro que sabem sobre o que estão falando, mostrando seus argumentos e autoridade, não se deixando levar por piadas ou gracejos, não se omitindo ou acanhando.

Machismo também pode ser explicar coisas óbvias para uma mulher, pagar salários diferentes ou roubar a sua ideia, levando crédito por ela. Algumas dessas coisas às vezes não são nem notadas e “passam batido”. Porém, causam estragos emocionais, como o desenvolvimento da Síndrome de Burnout, por exemplo.

Levante a bandeira da mudança

Tenha coragem de levantar o debate sobre o tema na sua empresa, pedindo ajuda do RH e da área responsável pelo Endomarketing para esclarecer os tipos de machismo que ocorrem e erguer a bandeira da conscientização. Assim, todos poderão estar informados e conscientes da situação e o RH poderá, inclusive, ser estimulado a revisar os seus processos de seleção e treinamento, estabelecendo programas de desenvolvimento para os colaboradores com esse foco.

Aqui, a ideia é você se unir a outras mulheres, promovendo a discussão e eventos sobre o tema. Afinal, a mudança deve partir das pessoas, pois, a transformação só pode se dar quando a maioria se propõe a realizá-la. As empresas precisam entender que organizações que promovem equidade tornam-se mais lucrativas e estimulam a felicidade entre seus colaboradores.

Continua após publicidade

Mulheres fazem times de trabalho mais criativos

Times em que há diversidade de pensamento e opiniões, sendo reconhecidos como grupos heterogêneos, têm mais chances de sucesso, pois diferentes ideias poderão ser debatidas e construídas, gerando mais oportunidades de insight e produtividade, além de liberdade para expor pensamentos, errar, acertar, dividir e construir.

Pense no seu grupo de escola, muitas vezes os “iguais” se uniam, os mais estudiosos, os que se sentavam no fundão… sempre foi assim e cabe a cada um mudar esse cenário, propondo novas maneira de pensar. Pode ser bastante desafiador levantar essa bandeira, mas, as coisas só mudam assim.

Obviamente que se essa situação se torna insustentável, a justiça deve ser buscada, pois há casos em que o assédio realmente se perpetua, pois as pessoas não dão chance à mudança e não respeitam os colegas, recusando-se a adotar nova postura. Nesse caso, procurar as vias legais acaba sendo o único caminho, e ele deve ser percorrido!

Vale pensar também em procurar ambientes organizacionais menos machistas e desenhar um plano de carreira em que se possa atuar em uma empresa mais modernizada e de mente aberta. Afinal, as mulheres não são obrigadas a permanecer em um cenário em que não são respeitadas. Você tem poder de escolha e precisa estar ciente disso, o controle da sua carreira está em suas mãos.

Mulheres assertivas são vistas como mandonas

Ao contrário do que acontece com os homens, mulheres que agem de maneira firme ainda são vistas como ameaçadoras.

Eu mesma já ouvi de várias pessoas, quando estava explanando uma ideia de forma profissional, a frase: “mas você está sendo arrogante e insubmissa”, quando eu estava apenas agindo de maneira madura e gentil, me baseando em meus conhecimentos técnicos e domínio do tema. Porém, nunca me deixei intimidar ou abalar, sempre me posicionei e venci pela competência. Isso não vemos em relação aos homens que, quanto mais “machos alfa” são, mais valorizados serão no mercado de trabalho.

Homens são mais respeitados no mundo corporativo do que as mulheres

Estudos mostram que as mulheres são menos respeitadas do que os homens, ainda que ocupem cargos iguais aos deles. A dica nesse caso é sempre se posicionar, não mostrando fraqueza ou o quanto aquilo te atinge, mas, buscando alianças e parcerias dentro da empresa, que deixem clara a sua competência e conhecimento, fazendo com que, naturalmente, as pessoas te respeitem e te ajudem. Porém, se isso passar dos limites, não deixe de denunciar.

Por outro lado, como as mulheres são vistas como aquelas que choram demais, alguns homens se intimidam ao falar algo mais assertivo, como um feedback, por exemplo. A ideia aqui é estimular homens e mulheres a terem uma relação mais transparente, em que os argumentos possam ser explicados, discutidos e, principalmente, respeitados. Mas, para isso, o apoio do RH é essencial.

Os líderes têm papel fundamental nesse caso, pois devem tratar todos de maneira igualitária. Por exemplo, em relação a oferecer um aumento ou uma promoção. Somente assim, se combaterão as diferenças salariais e de tratamento.

Impedir uma mulher de ser promovida, tendo ela todas as competências para o cargo, somente por ser mulher, realmente é lamentável, mas, por outro lado, uma mulher não deve ver com maus olhos um colega promovido por sua competência, somente por ser homem. Em um ambiente em que o respeito é estimulado, todos saem ganhando e tudo fica às claras.

Quando a sociedade conseguir entender todos como seres humanos, igualmente capazes, sem privilégios devido a qualquer característica, mas estimulando o respeito pelas pessoas, simplesmente por serem pessoas, certamente tudo ficará mais fácil… cabe a cada um de nós começar a mudança!

Continua após publicidade

Psicóloga Clínica, Especialista em Desenvolvimento Humano, RH, Carreira, Liderança, Executive & Life Coaching CRP: 06/74914 https://www.lucianevecchioconsultora.com.br