por Anette Lewin
"Com o passar do tempo perdoei, mas ele quer que meus filhos convivam com essa criança que hoje tem um ano. Meu coração está fechado para essa criança."
Resposta: Sua questão é um exemplo de como sentimentos e razão podem gerar conflitos quase indissolúveis. Realmente, no seu caso, encontrar uma solução em que você se sinta confortável é praticamente impossível. Pelo menos dentro de uma sociedade onde o casamento monogâmico é a regra. E numa situação onde você e seus filhos estão sendo praticamente coagidos a conviverem com o fruto da traição de seu marido. Difícil mesmo. Mas não raro. Se a natureza deu à mulher a certeza de quem são seus filhos, pois ela os gera, o mesmo não acontece com o homem. Diz a lenda que, do ponto de vista biológico, ele trai para garantir a prole. Quanto mais fêmeas ele fecundar, mais certeza terá que gerou filhos.
Mas, no caso, biologia e sentimentos não se dão muito bem. Afinal, quando se casou, você combinou que formariam uma parceria única para constituir família. E o trato não foi respeitado.
Você diz que perdoou. Será? Talvez você tenha usado a razão para poder continuar com o parceiro que escolheu, mas sentimentos não se escolhe. Sente-se e pronto. E se o seu "perdão" resolveu a situação momentaneamente, agora novas condições são impostas e você não sabe como agir.
Lembre-se que, no momento, qualquer solução possível será difícil. Separar-se dele ou ficar com ele nas condições que ele solicita trará um grande desconforto emocional. Pelo menos por um bom tempo.
Se você optar pela separação talvez se sinta vingada, mas não resolvida. Se optar por ficar com ele terá que engolir um convívio difícil para você. Tente colocar na balança o que pesa mais para você. No caso não existe solução melhor ou pior. Existe a que você escolher e arcar com as consequências.
No caso de optar por ficar casada, existem algumas condições que você pode colocar para que se sinta melhor. Se seu marido quer que seus filhos que você gerou se relacionem com a irmã gerada fora do casamento, você pode escolher se quer ou não participar dessa convivência. Tente entender se você prefere acompanhar seu marido nos encontros com a filha ou prefere ficar longe. Afinal, se ele traz as condições dele para a continuação do casamento você também pode trazer as suas. E tente entender também se você ainda se sente amada por ele. Afinal, uma coisa é um "escorregão" que gerou uma filha. Outra é um desapego que gerou uma nova paixão que, por sua vez, gerou uma filha.
Em outras palavras, tente entender qual a importância que você tem para o seu marido agora; se a mãe da filha dele ainda faz parte da vida dele; se você vê perspectivas para que seu casamento consiga readquirir o significado que um dia teve.
Tudo isso para que você não encare uma situação penosa em vão. Às vezes um recomeço pode ser melhor do que tentar remendar um vínculo machucado.
E avalie também o que você ainda sente por ele depois de toda essa história. Porque você até pode querer continuar com ele, porque ele é pai dos seus filhos, porque não vai morrer na praia depois de tantos anos, ou por vários outros motivos racionais. Mas o que justifica duas pessoas quererem dividir uma vida é a sensação de que algo que vale a pena ainda pode ser construído ou vivido por elas. Filhos, você já teve; casar, você já casou. Será que existe algo mais que você acredita poder compartilhar com a pessoa que está ao seu lado? Pense nisso.