Meu marido não gosta de sair de casa

E quando no casamento o marido ou a mulher não gosta de sair de casa? O que fazer? O que pode estar por trás desse comportamento?   

E-mail enviado por uma leitora:

“Dra. nunca saio e passo a maior parte do tempo fazendo meus bolos em casa. Marquei com meu marido de sairmos no domingo. No sábado falei com ele, inclusive o horário. Aí ele emprestou o carro para a mãe dele, os irmãos e as sobrinhas saírem. E quando o questionei, ele disse que não iria voltar atrás e que comprou o carro com dinheiro dele e que talvez fosse o caso de vendê-lo para evitar brigas. Isso dói muito, pois ao comprar ele disse que o carro iria ser nosso e agora a prioridade são os outros e não eu! Sou uma esposa que não mede esforços para ajudar em casa. E ainda assim, ele fica sem falar comigo! Sendo que em todas brigas sou eu é quem volto a falar, mesmo estando certa. Me ajude.”

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Resposta: A questão aqui não parece ser sair ou não sair para passear apenas. Parece que existe uma competição sua com a família de origem dele. Aparentemente, não é a primeira vez que isso acontece. Além do mais, você relata que ele não respeita o que combinou com você, não dá valor à sua dedicação aos seus bolos, e não se coloca como seu parceiro, mas como o dono das coisas que ele compra. E que você, apesar de contrariada depois dos conflitos, é sempre quem quebra o gelo e volta a falar com ele. Em resumo: segundo sua visão, apesar de você fazer tudo “direitinho”, ele não a leva a sério.

Enfim, muita coisa não está realmente funcionando nesse casamento… Talvez você realmente esteja se esforçando para ser uma boa esposa, para agradá-lo, mas a realidade é que seu comportamento não está resultando em um relacionamento harmonioso.

Mas por que seu marido não gosta de sair?

Mas vamos tentar abordar especificamente a questão do seu marido, que não gosta de sair de casa.  Se para ele é tão difícil atender a um simples pedido seu de fazer um passeio de carro num domingo, é porque a perspectiva desse passeio não é tão atraente para ele. Você já se perguntou por que isso ocorre? Tente lembrar dos últimos passeios que fizeram: foram agradáveis? Vocês se divertiram? Ou foram tensos com brigas? Sim, é importante avaliar essa questão pois, em geral, só queremos repetir um programa que deu certo. Se foi ruim tendemos a fugir dele.
   
Por outro lado, tente entender se, independentemente da sua companhia, ele gosta de sair de carro aos domingos. Provavelmente seu marido trabalha, talvez saia de casa diariamente, mesmo na pandemia. Então, para ele, o domingo pode ser um dia em que ele queira relaxar dentro de casa. Diferentemente de você, que fica em casa e acaba sentindo necessidade de sair mais.

Certamente, em tempos “normais” tudo poderia ser mais simples de resolver: você poderia sair sozinha, ou com amigas e deixá-lo descansar em casa; vocês poderiam fazer um programa agradável para os dois o que, talvez, não criasse tanta resistência por parte dele. Enfim, existiriam mais formas de resolver a questão. Mas no meio de uma pandemia, onde o isolamento social é quase mandatório, fica até difícil sugerir qualquer coisa.

Resistência do seu marido em sair de casa

O que você pode fazer é conversar mais com ele e perguntar por que essa resistência em fazer um simples passeio de carro, uma das únicas alternativas de lazer do momento. Ou então, você poderia, por exemplo, em momento de disputa pelo carro, sugerir que os dois saíssem a pé. Agora, outra alternativa, seria você sair sozinha. Por que não? Para fazer pequenas caminhadas, ir até algum parque quando abrir ou fazer suas compras no supermercado.

Atualmente isso é o máximo que as pessoas estão fazendo. Certamente todo mundo, neste momento, gostaria de sair mais, passear mais, mas estamos presos até as coisas melhorarem. Assim, tente olhar também para outros aspectos do seu casamento e melhorar o clima entre vocês, mesmo dentro de casa.

Seu marido também não está se sentindo bem nessa situação com o carro. Pelas palavras dele, a disputa familiar pelo carro desperta nele a vontade de vendê-lo. Talvez ele não se sinta respeitado como pessoa, se veja como alguém que é apenas valorizado pelo conforto que oferece (carro) mas não pelo que é.

Você, como esposa, que não se sente ouvida e respeitada por ele, tente avaliar se o melhor que você pode dar a ele é realmente apenas seu esforço para ajudar em casa ou sua cumplicidade para evitar problemas familiares é mais valiosa, neste momento.

Antes de pensar em sair, reflita sobre o companheirismo

É importante que você lute pelo seu lazer, por bons momentos a dois, mas existem fases em que tudo o que um casal necessita é companheirismo. Brigas com as famílias de origem só pioram a situação.

Assim, repense suas atitudes e entenda: o que sustenta a vontade de um casal de continuar junto é a parceria em momentos difíceis. Quando esses momentos são superados através de um trabalho conjunto, a vontade de se divertir, fazer um passeio a dois de carro e dar boas gargalhadas aumenta.

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Sensação positiva no casamento: sentir que tem uma real parceria

Afinal, nada melhor do que sentir que, no casamento, você tem uma real parceria; alguém que entende suas necessidades e as respeita mesmo que, em alguns momentos, isso cause um certo desconforto; alguém que queira agradar você porque também se sente agradado e compreendido por você.

Olha, boas parcerias amorosas nem sempre são romanticamente confortáveis. Mas podem ser profundamente valiosas se sua essência for respeitada e cotidianamente reforçada.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.

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