Meu marido usa drogas. Como saio deste casamento?

E-mail enviado por uma leitora:

“Como sair de um casamento de 14 anos? Não consegui livrá-lo das drogas, cada vez pior.”

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Resposta: Milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem de problemas relacionados com o uso de substâncias psicoativas, como o álcool, cocaína/crack, opioides, anfetaminas etc. Frequentemente, aqueles dependentes que estão na linha de frente deste consumo altamente pernicioso podem causar sérios danos para a sua própria família, o que pode precipitar no divórcio.

Se você estiver se separando do seu esposo com problemas com o uso de drogas, você deve entender como isso poderá afetar seus filhos, familiares e a divisão de bens materiais.

O divórcio tende a se respaldar pelas diferenças irreconciliáveis entre o cônjuge, significando que ambos não conseguem mais caminhar juntos. Adultério, tratamento cruel (violência doméstica), uso de substâncias psicoativas são comuns justificativas para uma separação. Ter provas incontestáveis do uso de substâncias pelo marido é fundamental durante esse pedido.

Uma área sensível nesse processo de separação é o cuidado com os filhos. Ter problemas leves ou moderados com o uso de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode não afetar de forma incisiva a decisão de custódia, visto que as cortes fortemente considerarão a decisão de custódia dos filhos baseando-se nas consequências nocivas que o consumo de substâncias tem acarretado sobre seus filhos e sobre você. Inclusive, uma Interdição Parcial pode ser aventada em casos de problemas graves com a dependência química do marido, conforme reza o artigo 4 do Código Civil:

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Artigo 4 (Código Civil Brasileiro):

São incapazes a certos atos, ou à maneira de os exercer:

II. Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos.

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Mas, para isso, você precisa ter provas contundentes.

Enquanto problemas leves com o consumo de substâncias psicoativas podem não afetar a decisão de custódia dos filhos, desde que o marido dependente consiga prover os recursos financeiros necessários e o bem-estar dos filhos, as cortes fortemente considerarão que o consumo prejudicial causaria sérios impactos sobre os cuidados dispensados aos filhos e a você mesma.

Medidas de proteção 

As cortes têm várias opções para proteger o cônjuge não dependente bem como seus filhos, mesmo durante as visitações das crianças ao pai dependente. O juiz pode determinar acompanhamento durante tais visitações, ou seja, o juiz pode requerer de ofício que profissionais especializados supervisionem todo o período de visitação. Os juízes podem também requerer que o ente dependente químico faça tratamento regular para sanar os problemas relacionados ao consumo de álcool ou de outras drogas. A manutenção das visitas, por exemplo, pode estar atrelada à realização desse tratamento.

Em situações raras, porém importantes nos casos graves, a Justiça pode cancelar as visitas ao pai dependente, principalmente quando o pai dependente causa sérios prejuízos aos cuidados dos próprios filhos (recebe os filhos já estando intoxicado, por exemplo).

Cortes Americanas, inclusive, podem decidir que, na divisão dos bens, o cônjuge não dependente possa receber uma parte maior dos proventos, dados os cuidados com os filhos e levando-se em conta todos os prejuízos financeiros gerados pelo comportamento desarrazoado do marido.

Alegações públicas de problemas com o uso regular e nocivo de substâncias psicoativas podem prejudicar a reputação, carreira ou até mesmo causar problemas na esfera criminal (em casos de comportamento violento, por exemplo) ao ente dependente.



O dependente químico deve ter em mente que o consumo de drogas não afeta só a si mesmo, mas também os outros ao redor   

Não há razão para que seu marido não busque auxílio/tratamento especializado. Ele deve ter em mente que o consumo de substâncias não apenas está afetando a si mesmo, mas também outros ao seu redor.

É possível que você ainda queira auxiliar o seu marido, por diferentes razões. Mas lembre-se: ajudar não significa submeter-se a maus tratos e indisciplinas, nem tampouco permitir que seus filhos padeçam ainda mais.

Não sei qual será a sua decisão. De qualquer forma, você precisa tomar uma decisão para o seu próprio bem. É comum que esposas de parceiros com quadros de dependência química demonstrem significativo sofrimento acerca do comportamento do dependente químico, não poupando esforços no sentido de auxiliá-lo. De qualquer forma, não é razoável você estar sozinha nessa empreitada, tendo em vista o alto custo emocional que a jornada na busca pela recuperação do dependente químico e de si mesma vai representar.

Muitas esposas (parceiras) de dependentes químicos acabam por desenvolver notáveis sintomas psíquicos que perturbam gravemente a própria qualidade de vida, a do casal e a dos filhos.

Comportamentos do parceiro do dependente químico 

 
Abaixo, aponto algumas características típicas de parceiros de dependentes químicos:

a) a parceira desempenha enormes esforços e sacrifícios para preencher as necessidades dos dependentes

b) a parceira tem dificuldades para impor limites ao dependente ou mesmo para dizer “não” diante das demandas dele

c) a parceira “encobre” problemas profissionais, legais e familiares gerados pelo comportamento do dependente químico, com a finalidade de não o prejudicar ou mesmo de não causar vergonha diante dos familiares e amigos próximos

d) a parceira demonstra elevada preocupação com as opiniões de terceiros

e) a parceira não mostra o quanto está infeliz, angustiada, magoada e preocupada para o próprio parceiro dependente químico nem tampouco para os demais membros familiares

f) a parceira percebe que não consegue modificar o comportamento e atitudes do esposo dependente e, consequentemente, sente-se impotente

g) a parceira desempenha diferentes atos no sentido de auxiliar o parceiro dependente, inclusive deixando de cuidar adequadamente de si mesma e dos seus filhos.



O parceiro de um dependente químico também precisa de tratamento psiquiátrico  

Geralmente, a parceira não dependente inicia o processo conhecido como codependência estabelecendo um sistema de crenças nocivo. A esposa codependente pode então avaliar de forma distorcida o seu próprio comportamento, suas necessidades, sua história e seus relacionamentos pretéritos.

A partir de então, desenvolve pensamentos que distorcem a realidade e amparam o comportamento do parceiro dependente. Por exemplo, “sempre fui pouco desejável; logo, é melhor permanecer nessa forma atual do que em uma outra”. Ou mesmo: “minha mãe sempre manteve o relacionamento com meu pai, apesar dos seus problemas com o álcool; logo, tenho a mesma sina”. Ou mesmo: “ele é assim, porque sofreu muito na infância. Tenho a obrigação de ser conivente”.

A mesma sensação de solidão e de perda do controle experimentada pelo dependente químico pode ser vivenciada pelo parceiro codependente.

Comportamentos do codependente 

Consequentemente, muitos codependentes manifestam:

1ª) Perda de amigos

2ª) Tristeza e pensamentos de ruína

3ª) Sonhos não usuais

4ª) Mudanças de apetite e padrão do sono

5ª) Falha no desempenho de tarefas usuais

6ª) Problemas financeiros

7ª) Comportamentos degradantes ou humilhantes.

Em situações como estas, aliás nada incomuns, é recomendável e desejável que tanto o parceiro dependente quanto o parceiro codependente iniciem um tratamento específico.

Caso o parceiro dependente não o deseje, é fundamental que o companheiro não dependente químico (mas codependente) faça seu próprio tratamento. É essencial que os pensamentos disfuncionais sejam reconhecidos e comportamentos não saudáveis possam ser modificados.

Infelizmente, muitos codependentes acreditam que conseguem domar a situação por si mesmos ou com o auxílio de alguns familiares. No entanto, um ciclo de comportamentos problemáticos e desenfreados pode já estar ocorrendo há algum tempo e o reconhecimento disso, bem como o seu manejo, pode ser bastante salutar.

Uma atitude recomendada para a parceira codependente é a busca por tratamento psiquiátrico especializado para si mesma. Muito amiúde, não basta que “o ente dependente químico tenha agendado uma consulta com o psicólogo”. Você tem que agendar a sua própria consulta, comparecer à consulta, e iniciar um tratamento sério e condizente com a sua situação. Também, é essencial que você se certifique de que ele esteja se tratando e esteja seguindo as orientações dos profissionais médicos e de outras áreas afins.

Não aguarde soluções mágicas. Da mesma forma, não espere soluções provenientes apenas do tratamento dele (se ele realmente comparecer às consultas agendadas). Comece por você e para você. Somente assim, fortalecida e com os instrumentos necessários, poderá tomar as decisões mais corretas para você e para a sua família.

Fortaleça-se para poder decidir 

Não vale a pena manter o sofrimento se o outro não deseja modificar o seu comportamento altamente nocivo. Avalie a sua situação, considere os prós e contras da sua decisão. Fortaleça-se, para tomar a melhor decisão. Mas, advirto: NÃO HÁ RAZÃO PARA NÃO SE TRATAR.