Por Danilo Baltieri
E-mail enviado por uma leitora:
“Minha filha sempre foi muito inteligente. E nesse ano, no 3º modulo em odontologia, ficou de DP em 4 matérias. Fiz exame toxicológico escondido em minha filha e deu ecstasy, grau grave. Por favor, preciso de uma orientação de como proceder. Sempre pergunto se ela está usando algum tipo de droga. Ela sempre nega. Estou muito preocupada. Ajude-me, por favor. No aguardo. Agradeço.”
Resposta: O uso do ecstasy, nome popular para a droga 3,4-Methyleno-Dioxi-Metanfetamina (MDMA), tem rapidamente se expandido principalmente entre jovens que fazem uso dessa droga durante festas e eventos diversos.
Apesar dos vários casos de mortes já registrados e associados diretamente com o uso dessa substância psicoativa, muitos usuários infelizmente ainda acreditam ser uma droga segura. O perigo associado com o uso dessa droga tem sempre sido relacionado com a desidratação do usuário, com o inadequado controle da temperatura dos ambientes frequentados e com as impurezas (adulterações) dos comprimidos.
No entanto, os efeitos tóxicos do MDMA são diversos e facilmente atingidos. Embora inicialmente fosse imaginado que o ecstasy provocaria consequências nocivas nos casos de usuários frequentes da droga, estudos mais recentes têm mostrado que apenas uma exposição à droga (em doses superiores a 120 mg) produz similar efeito de toxicidade cerebral. Seguramente, vários fatores devem ser levados em consideração durante a avaliação da toxicidade, tais como a suscetibilidade individual, a pureza da droga contida nos comprimidos, a presença de adulterantes também tóxicos e a dose propriamente dita.
Os efeitos do MDMA não apenas são agudos e recompensadores, como a sensação de aumento da energia, sensação de que se está “curtindo” melhor os sons e as cores do ambiente, o aumento na capacidade para sentir prazer, a agitação psicomotora. De fato, o MDMA tem efeitos tóxicos para o cérebro, em especial para um importante sistema de neurotransmissão, conhecido como serotoninérgico. Outrossim, sistemas de controle hormonal cerebral acabam também sendo afetados. Áreas cerebrais como o hipocampo (centro essencial para o processamento da memória) e amígdala (centro essencial no controle das emoções) são atingidos diretamente.
De fato, o sistema serotoninérgico é responsável, dentre outras atividades, pela regulação das emoções, ciclo sono-vigília, dor, memória e atenção. Pode-se deduzir, a partir de então, que a droga pode provocar prejuízos nas funções cerebrais e psíquicas mencionadas.
Estudos têm registrado que usuários de ecstasy demonstram prejuízo nas seguintes funções cognitivas:
a) memória visual;
b) reconhecimento semântico (relacionado a conceitos e às palavras);
c) recuperação da memória de curto prazo.
Tais consequências danosas do uso do MDMA podem ser decorrentes diretamente dos seus efeitos deletérios sobre o sistema serotoninérgico e neuroendocrinológico, como mencionado. No entanto, é importante destacar que o ecstasy também provoca diferentes atividades na circulação sanguínea cerebral, aumentando a chance de acidentes vasculares e alteração da vascularização cerebral normal.
Muitos dos jovens usuários recreativos dessa substância comumente não se deixam abalar por dados como os reportados acima, uma vez que seus pares muitas vezes também fazem uso da droga, a sensação de prazer é suficientemente alta para minimizar quaisquer consequências negativas e as experiências prévias até então experimentadas como positivas contrariam os dados de pesquisa objetiva.
Tenho sempre reiterado aqui no site Vya Estelar que, nas situações em que o ente querido nega o consumo de quaisquer substâncias, apesar das evidências ao contrário, os pais e os demais amigos não usuários devem convencê-lo a procurar um médico para fazer uma avaliação geral.
Naturalmente, tal “avaliação geral” não diz respeito necessariamente ao uso de substâncias psicoativas. Todos nós devemos fazer exames gerais de rotina. Por exemplo, a sua filha está apresentando um desempenho insatisfatório no curso universitário que correntemente frequenta; isso, segundo as suas informações, está totalmente em oposição à atuação acadêmica prévia. É um importante motivo para procurar um profissional psiquiatra com o intuito de avaliar se algo, nas diferentes esferas do comportamento e do afeto, está comprometido.
Os exames toxicológicos durante o tratamento médico devem ser feitos dentro de um contexto e planejamento terapêutico, frequentemente com a autorização do paciente. Já em contextos forenses, ou seja, quando existe uma dúvida judicial pertinente sobre o consumo de substâncias e um nexo causal com o consumo de substâncias é de extrema valia, os trâmites tendem a ser diferentes.
De qualquer forma, a intimidade da pessoa é inviolável.
Conduza a sua filha até um médico com a finalidade de realizar uma avaliação de rotina. A confiança é um elemento essencial no processo de tratamento de qualquer doença.
Boa sorte!
Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.