Por que não vou embora? Porque um lado seu acaba obtendo algum benefício; entenda
E-mail enviado por um leitor:
“Olá! Lembra certa vez que escrevi ter visto no iPad de minha esposa que ela andava pesquisando sobre se apaixonar por homem mais novo? Pois bem, a história tem continuação longa… A descoberta dos links no iPad foi no segundo semestre de 2017. Depois disso, em 2018 e 2019, descobri almoços em restaurantes caros e presentes. Mesmo com muitas discussões, brigas e separações temporárias que não duraram mais que uma semana. Mas ainda assim, continuamos juntos.
A última grande briga foi em março de 2020, quando fui fazer o Imposto de Renda dela e me deparei com o WhatsApp aberto em seu computador. Ali vi que ela mantinha intensa troca de mensagens com o garotão, com ‘o coração apertado de saudades’, ‘vontade de te dar um abraço apertado’, ‘te amo’ em três idiomas diferentes, se oferecendo para ir à casa dele tomar um vinho.
Disse a ela que ela poderia fazer o que quisesse, eu não era o ‘dono’ dela e se ela achava tão importante e gratificante continuar com isso poderia ir em frente, mas sem mim. Eu não poderia fazer parte disso e saí novamente de casa. Para mim não importa o que ela faz quando está longe, mas sim o fato dela mentir sempre e me fazer de bobo. Novamente ela chorou e implorou por dias para que eu voltasse. Então, ela inundou meu WhatsApp de súplicas e desculpas, que a vida não tinha sentido sem mim! Não é louco isso? Ela ainda jura de pés juntos que ‘não houve nada’, possivelmente se referindo a sexo. Assim, acabei voltando. Por que simplesmente não fui embora? Ainda me faço essa pergunta todo dia.”
Resposta: Você já foi embora várias vezes mas voltou: ela está com o “garotão” há vários anos, mas quer continuar o relacionamento. Parece que tudo já se tornou crônico. Você diz que o grande problema é ela estar enganando e mentindo para você; que o que ela fez com ele longe de você não importa, o que importa é ela estar mentindo. Vamos tentar entender essas colocações.
Em primeiro lugar: o que vocês combinaram nas vezes em que você saiu e voltou para casa? Ela prometeu que terminaria o relacionamento com o “garotão”? Provavelmente não. E se prometeu, não cumpriu. E você aceitou. Ela diz que quer ficar com você mas, nesse tempo todo, acabou ficando com os dois. O emocional dela foi compartilhado entre os dois. O sexo? Você não tem certeza. E você acabou aceitando. Assim, quando você se pergunta: “Por que simplesmente não fui embora?”, a resposta é: porque um lado seu acaba obtendo algum benefício em cronificar essa situação.
Onde está o ganho em manter esta relação?
Qual é esse benefício? Bem, aí seria bom você tentar responder à questão. Talvez esse vai-e-volta, esse eterno retorno a um recomeço com uma pessoa que você já conhece, seja menos arriscado do que romper de vez e correr o risco de não encontrar alguém que te mobilize como ela. Porque, cá entre nós, graças ao comportamento dela, sua vida é bem agitada emocionalmente. Tentar entender a cabeça dela te mobiliza bastante. E muitas vezes a mobilização é mais importante do que o conforto afetivo. Pelo menos para você parece que é. Esse talvez seja um dos benefícios que você obtém ficando na relação. Pense em outros, provavelmente eles existem.
Como sair desse círculo vicioso?
Se você quiser sair desse círculo vicioso, a primeira coisa a ser feita é tirar o foco da vida de sua esposa e concentrar-se nos seus próprios objetivos. Percebe-se que você já refletiu bastante sobre a questão amorosa e, nesse sentido, avançou um pouco; pelo menos parou de focar no que estaria acontecendo entre os dois e passou a tentar entender o que o comportamento dela provoca em você. Mas é necessário avançar mais nesse processo de autoanálise. E é preciso aprimorar-se como ser humano através de vivências pessoais suas que não a incluam.
Para que sua volta para casa adquira um significado mais duradouro, você tem que voltar diferente, com novas propostas, com algo a dizer. Tem que voltar a ser alguém que não sirva apenas como conforto, troféu afetivo ou porto seguro na vida dela; alguém que tenha algo real a oferecer, planos de vida a construir e viva situações interessantes ao lado dela, ao invés de ser coadjuvante da relação dela com o “garotão”. Assuma seu protagonismo! Com ou sem ela. Corra seus próprios riscos para não ficar se alimentando dos riscos que ela corre. Seja alguém que vive a própria vida e não apenas se alimente da vida de alguém.
Não existe certo e errado em relacionamento. Como vimos acima, um relacionamento se sustenta, por mais neurótico que seja, quando os ganhos subjetivos são maiores do que as perdas. E ao que parece, no seu caso, tanto você quanto ela ainda estão no lucro. Isso, subjetivamente falando.
Então, continue observando o equilíbrio dessa balança e esteja atento às oscilações dela. Dependendo de como for a condução das próximas idas e vindas, em algum momento ela pode pender para o lado das perdas. E quando isso ocorrer, provavelmente você conseguirá intuir qual é a hora de sair desse círculo vicioso sem se machucar muito.
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.