por Regina Wielenska
Nesta copa de 2014 um jogador uruguaio (Luis Suárez) mordeu o ombro do oponente italiano (Giorgio Chiellini). O episódio ecoou em todos os meios de comunicação, sendo o mordedor até alvo de chacotas.
Para meu espanto, descobri que esta era a terceira vez que ele apresentava esse tipo de comportamento durante partidas. Oficialmente, a FIFA consequenciou com firmeza o comportamento reprovável, vetando a participação dele em nove jogos oficiais, e isso significou sua exclusão da Copa do Mundo. No total, serão quatro meses fora dos campos.
Eu me perguntava se essa consequência seria uma forma potente de inibir esse comportamento agressivo para que nunca mais se repetisse. Inicialmente imaginei que sim. Afinal, o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso, dizia um amigo bem humorado. E uma exclusão prolongada significa perder prêmios por vitórias, patrocinadores que o deixariam de fora em suas campanhas publicitárias e por aí em diante.
Acho que caí do cavalo em minha opinião inicial. O rapaz foi recebido em sua casa com honras de herói, fãs aglomerados dando apoio a ele e alguns times europeus disputando seu passe. Advogados vão entrar com recurso no tribunal desportivo pedindo redução da pena. O jogador escreveu uma carta de retratação à vítima e verbalizou seu pesar. O italiano expressou aceitar a mensagem e inclusive afirmou que a punição era justa e necessária, mas não precisava ser tão longa e pesada.
No universo do esporte, jogadores são objetos de luxo, valem milhões. Há muito interesse de que ele volte logo aos campos. The show must go on. Jogador parado é bem que se desvaloriza rapidinho.
Com aprovação dos torcedores e tantas atenuantes, dá pra se dizer que o comportamento foi agora fortemente coibido do ponto de vista das normas sociais? Provavelmente não.
Por que Suárez morde seus oponentes?
Parece que o esportista teve origem humilde, veio do nada e muito se esforçou até se destacar em seu país. Entre uma batalha e outra, teria ele podido aprender a manejar estressores e sentimentos de raiva, cansaço, medo e assemelhados?
Creio que não, sob pressão ele age como uma criança frustrada que ataca com os dentes seu semelhante no playground e ele, já grande, faz o mesmo no campo.
Promover habilidades de autocontrole será o grande desafio para a equipe técnica. Ao rapaz impõe-se a tarefa de expressar seus sentimentos por vias socialmente mais adequadas, como um palavrão sussurrado, mas que não chegue aos ouvidos do árbitro.
Resumindo, de verdade, nas três ocasiões, nunca houve expressiva sanção. A tendência é que a agressividade se repita se não forem desenvolvidos novos jeitos de lidar com as dificuldades típicas da vida, dentro e fora do esporte.