Mudar um hábito é um processo que transcende a uma simples decisão; saiba como driblar os obstáculos e facilitar essa mudança
Em 2020 tivemos que viver de um modo novo, pleno em restrições, perigos, necessidade de adaptações abruptas e muito mais. Nada disso é fácil, dentro ou fora do contexto da pandemia.
O que talvez nos ajude ao longo do processo? Pensei em levantar perguntas norteadoras dos comportamentos que podemos adotar.
Um alerta, não estou me referindo a mudar o comportamento de terceiros, apenas mudar um hábito da gente mesmo. Tente especificar exatamente o que você deseja mudar. Por exemplo, suponha que você diga que deseja reduzir o consumo de refrigerantes. Quanto é uma redução relevante? Um copo a menos na média semanal pode ser pouco demais para um consumidor de litros semanais. Por outro lado, alcançar o nível zero de consumo é possível, mas será que você conseguirá isso logo, ou deseja alcançar esta proposta restrita?
Ter metas “tranquilas” e “suaves” ajudam
Defina metas realísticas, nada radical. Seja razoável e especifique aonde você quer chegar. Nenhum consumo, refrigerantes nunca mais? Seria suficiente para você consumir “refris” apenas em passeios eventuais e festinhas no fim de semana? Dia sim, dia não? Nenhuma meta é inerentemente certa ou errada. Apenas defina um norte, algo tangível, que represente progresso para você e impacte positivamente sua vida.
O item anterior está atrelado a uma indagação importante: quais razões você tem para mudar? Quer simplesmente fugir da pressão dos amigos ou do gastroenterologista? Ou você notou que as calorias vazias das bebidas gaseificadas, cheias de açúcar, só te ajudam a ganhar quilos extras, prejudicar o esmalte dos dentes e torrar uma grana no supermercado? O refrigerante tem propriedades aditivas, recebe enorme investimento publicitário, o qual martela prazeres em nossa mente se tomarmos a bebida X ou Y. Então precisamos especificar as razões pessoais que justificariam nossas renúncias, esforços, sacrifícios. Razões fracas não nos ajudam a mudar hábitos. Pense nos benefícios em curto prazo, haverá algum? Mais para a frente, o lucro final vai compensar todo o esforço? Resumindo, encontre fortes razões para mudar e sempre ressalte cada uma delas para si mesmo.
Será preciso decidir prazos e etapas. Você vai mudar da água para o vinho usando um método radical? Vai jogar fora os refrigerantes que tiver em casa, nunca mais os terá nas listas de compras e vai delicadamente recusar quando te oferecerem um copo? Ou você prefere planejar e pôr em prática alguma estratégia de redução gradual até atingir a meta que lhe pareça satisfatória?
Renunciar a refrigerantes pode representar uma redução em prazeres gustativos na hora de se hidratar. Você consegue partir direto para consumir água, pura e simples? Uma cliente minha passou a deixar na geladeira uma jarra grande de água com rodelas, pedaços, gomos de frutas, alternadas a cada dia. Aromatizar a água gelada com limão, mexerica, goiaba e outras frutas lhe deu mais prazer. Eu pessoalmente recorri a baldes de chá ou infusões com adoçante. Um amigo passou a consumir água com gás. Veja se você precisa mesmo de atalhos menos nocivos, ou se vai direto ao ponto, isto é decisão a ser tomada caso a caso, claro.
Compartilhar suas metas com pessoas queridas pode ajudar
Analise o quanto outras pessoas podem te ajudar a mudar. Há casos em que especificar a elas teus intentos configura um tipo de compromisso moral e alguns amigos ou familiares podem vibrar com teus sucessos, podem dar boas ideias, talvez até entrem na mesma vibe e mudem junto com você. Outras pessoas parecem bolas de ferro amarradas a nossos tornozelos. Nos afundam com sua pressão, dificultam nossa caminhada, oferecem os refrigerantes despudoradamente para nós e não são sensíveis aos nossos esforços, talvez tenha um prazer secreto ao nos levarem ao fracasso. Não conte para esse tipo de criatura o que você pretende fazer. Se te oferecerem refrigerante, agradeça e diga simplesmente que tua sede está pedindo um copão de água gelada. Bico de siri é o segredo para lidar com essas pessoas nocivas.
A cada pequeno progresso real (nada de autoilusões,) lembre-se de se congratular. Seja justo e compassivo com você mesmo.
Mas e se nada der certo? Faça como a maioria dos inventores. Reveja o projeto, analise erros e acertos, comece tudo de novo, com calma e paciência. Não esgotei o tema e numa coluna futura ampliarei a discussão.