por Arlete Gavranic
“… o tempo pode ser um aliado que faz neuroticamente a raiva aumentar …”
Depois de viver um relacionamento (não vou delimitar tempo, pois existem relações intensas e marcantes, mesmo que tenham tido anos de duração), muitas vezes chega a hora de seguir outro caminho.
Muitos podem ser os fatores que motivaram o esfriamento dessa relação, pode ser o desencantamento, o despertar para outros afetos, a mágoa de uma traição, o cansaço acumulado pelos desencontros, chatices ou a mesmice do relacionamento.
Não vale aqui entrar na análise de qual parte foi omissa ou foi responsável pelo desencanto. Acredito que sempre existe uma coparticipação dos parceiros tanto nos processos de sedução e encantamento como no desencantar.
A questão é que muitos relacionamentos não serão felizes para sempre, eles terão começo, meio e fim.
Em alguns desses rompimentos ambos chegarão ao consenso de que não estão felizes, ou de que não sentem mais desejo de viverem juntos, ou que a chama acabou e, para não gerarem um desgaste maior, que magoe ou crie antipatias, vão seguir novos caminhos. Não estou dizendo que essa decisão seja fácil e rápida, ou que a maioria dos casais viva com maturidade essa separação consensual, mas aqueles que conseguem fazê-lo – muitas vezes até com ajuda de um psicoterapeuta para elaborar a separação como o fechamento de um ciclo, que teve seus momentos bons, e a possibilidade de construir novas buscas, sem animosidades ou mágoas – em geral, terão mais tranquilidade para assumirem novos relacionamentos e não rivalizarem um com a conquista do outro.
Mas tudo pode ser bem mais complicado e conflituoso se entre o casal não houver esse desejo consensual da separação.
Comportamentos cotidianos que podem levar à separação:
– Podemos encontrar situações onde um gosta, ama, idealiza talvez, enquanto o outro por motivos pessoais (que nem sempre foram trazidos para serem dialogados ou negociados na relação) se desencantou;
– Pode haver a mágoa da traição que decepcionou a parte que vivia o relacionamento como se tudo estivesse bem;
– Pode haver um novo apaixonamento que faz uma das partes “adolescer” enquanto a outra parte se sente desamparada;
– Uma parte pode ter se acomodado a “ser sustentada – alimentada” assumindo uma postura dependente, e sem reconhecimento ou valorização do outro, e isso ter desgastado o vínculo;
– Pode ter havido diferença no ritmo ou no eixo de crescimento deles e isso pode colaborar para distanciar e até dificultar o relacionamento e envolvimento;
– Pode ser que ambos entraram em uma dinâmica sutil de competição e isso alimentou um afastamento e um olhar rivalizado com o outro.
– Muitos podem ser os motivos que levaram a uma separação, mas o fato é que, com ou sem filhos, algumas relações não resistem a esses desgastes e terminam.
O luto das perdas vividas em uma separação sempre irá existir, ou porque se estranha a mudança de alguns hábitos, se sente falta da presença, existem muitas vezes perdas financeiras que exigem uma reformulação em alguns hábitos ou costumes da família.
Para alguns há uma perda de status social e o receio se haverá aceitação (acolhimento) ou rejeição do grupo de amigos. A sensação de fracasso ou culpa pode acompanhar principalmente a parte que se sentiu “pega de surpresa” com esse final; fora a possível cobrança de alguns filhos que se ressentem com a separação. Mas esses sentimentos terão que ser trabalhados, pois o tempo quase nada cura. Muitas vezes o tempo pode ser um aliado que faz neuroticamente a raiva aumentar, a rivalização se tornar pública ou deixar a mágoa corroer e fazer adoecer física e psiquicamente.
Isso tudo pode perdurar enquanto esses sentimentos não forem elaborados para entender que o fim de um relacionamento significa o final de uma etapa (ciclo) de vida e não o final da vida. Aquela história acabou, embora, na maioria das vezes, os ex-cônjuges terão sempre de conviver em algum nível por conta de filhos que farão com que o casal converse para alguns acordos na educação e resolução de problemas dos filhos. Mas elaborar essa perda para se libertar de mágoas e rivalizações pode trazer a possibilidade de uma nova etapa na história de vida.
Abra-se para um novo caminho:
– Conheça outras pessoas;
– Volte a estudar;
– Busque um trabalho (ou uma mudança na rotina ou estilo do que já vive);
– Realize alguns sonhos e hobbies;
– Viaje, saia para se divertir com amigos;
– Dê uma repaginada na vida, talvez no visual ou nos seus hábitos.
Tudo isso pode ser muito importante e gostoso de ser vivido se houver um amadurecimento do processo de separação, onde essas vivências não ocorram para chamar atenção da outra parte, para desmoralizar, seduzir ou competir. Se essa competição estiver acontecendo, vá em busca de ajuda terapêutica, pois enquanto sua vida estiver pautada em fazer coisas que agrida ou que seduza a outra parte, você não estará liberto e ficará mais difícil se dar a oportunidade de reconstruir sua história de um jeito livre e prazerosamente novo!