por Anette Lewn
“Tenho consciência que meu relacionamento é doentio. Meu marido não me ama. Ele é egoísta, machista e me humilha diariamente. Não sei explicar o porquê de continuar com esse casamento. Não dependo dele financeiramente falando e não preciso dele. Pelo contrário, tudo o que nós temos eu comprei. Eu guardo tudo que sinto, pois nunca posso conversar, quando começo a conversar ele grita, me xinga, sai de casa. Ele já me traiu várias vezes e eu me odeio por continuar com esse relacionamento. Quero me separar, mas não consigo.”
Resposta: Pela sua descrição só mesmo alguém que se odeia, como você diz, aguenta um casamento sem amor, com agressões, traições e humilhações. Talvez seu problema esteja, de certa forma, relacionado à uma autoimagem tão negativa e uma autoestima tão baixa que você chega a achar que não merece mais do que o marido que tem. Isso talvez seja parte do problema mas, de alguma forma, devem existir outros fatores que a fazem resistir à quebra do vínculo de casamento.
Você diz que não consegue conversar com ele, porque quando começa a falar, ele grita, xinga e sai de casa. Aí você se cala e ele a agride do mesmo jeito. Ou seja, as agressões não dependem do que você faz ou deixa de fazer. São inerentes ao caráter dele. Tente pensar sobre seus sentimentos ao ser agredida. Será que eles trazem algum tipo de revolta? Será que apesar de tudo, as agressões dele a fazem se sentir mobilizada? Será que, no fundo, o fato de outras mulheres se aproximarem dele traz a você uma sensação de que ele é uma pessoa interessante, mas que você não soube ou não sabe conquistá-lo? Será que você ainda acha que um dia ele vai mudar? E, finalmente, será que as agressões dele causam algum tipo de alívio em você, por mais paradoxal que isso possa parecer?
Bem, poderíamos levantar aqui um sem-número de perguntas e hipóteses para explicar essa ligação doentia. Mas explicações, por si só, não são suficientemente fortes para romper um vínculo. O mais importante para que uma pessoa aja, é a sensação interna de que ela chegou ao seu limite. E que vale a pena correr riscos para sair de uma situação que se esgotou. Assim, faça a si mesma essa pergunta e tente responder: você ainda tem alguma esperança que ele mude? Ou está convencida que qualquer risco, mesmo o de ficar sozinha, é melhor do que o inferno que está vivendo?
Difícil, não? Mas ninguém, a não ser você mesma, pode responder a essa questão. E agir. Como diz o ditado, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Seus motivos para ficar com ele só pertencem a você e só você tem o poder de resolver qual é a hora de sair desse relacionamento. Ou continuar como está.
Se você é autossuficiente economicamente falando, emocionalmente não parece ser. E romper esse vínculo sem se sentir pronta para isso, pode levá-la a cair nas mãos de outro parceiro com quem você estabeleça o mesmo tipo de relação neurótica.
Talvez valha a pena você procurar apoio psicoterápico para ajudá-la a agir de uma forma consciente. Fazer uma retrospectiva de sua vida, descobrir seus pontos fracos e seus pontos fortes, entender melhor sua dinâmica interna. Esses são aspectos que se costumam trabalhar em terapia e que podem ajudá-la a sentir-se mais preparada para decidir sobre seu futuro amoroso.
Não hesite em cuidar de você mesma para poder se proteger nesse ou em qualquer outro relacionamento afetivo. Quanto mais consciente você for, mais forte se sentirá. E poderá bancar suas escolhas sem resquícios de culpa interditando as estradas pelas quais você quer passar.
Comece a fazer coisas por você ao invés de colocar seu parceiro amoroso como o centro de seu universo. Comece a se respeitar para que os outros a respeitem. E, principalmente, aproveite o momento para reconstruir-se de forma a se orgulhar de quem você é. E se livrar da autoimagem negativa que ajudou a jogá-la na situação de sofrimento em que se encontra.