Nativos digitais: quem são eles e como educá-los?

Nativos digitais são crianças, adolescentes e adultos nascidos nesse século. São chamados também de geração Z por estarem crescendo junto às tecnologias digitais.

O século XXI tem sido até agora, o século da globalização e da revolução digital por excelência. A crise mundial da pandemia, Covid-19, deixou isso claríssimo. As novas possibilidades de comunicação, os novos desenvolvimentos da tecnologia geraram modos diferentes de viver a vida, no estudo, no trabalho e no lazer.

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Adquirimos um “cérebro pandêmico”, usando o conceito do neurologista americano Michael Yassa, que mostra que o confinamento social, causa uma exposição prolongada ao estresse, impactando o funcionamento do cérebro, principalmente nas áreas da atenção e da memória. Mas adquirimos também, por necessidade premente, mais treino e mais facilidade no uso de novas ferramentas digitais e, como decorrência, novas habilidades mentais com certeza. Sabe-se que o cérebro é dependente do uso e sensível a condicionamentos.

Cumpre observar os nativos digitais, que são as crianças, os adolescentes e os adultos bem jovens que nasceram nesse século. São chamados de nativos digitais, de geração Z, por estarem crescendo com as tecnologias digitais em suas vidas. O cyberespaço, ou o mundo tecnológico foi um espaço privilegiado de brincar e de explorar o mundo dessa geração, pelo uso da internet, do iPad, do celular, dos videogames, das redes sociais etc desde muito cedo na vida. Com o confinamento social determinado pela pandemia, o uso desses eletrônicos expandiu-se para praticamente 24 horas por dia, sete dias por semana, fazendo parte integral da vida, principalmente dos adolescentes.

Além de um espaço para brincar e para explorar o mundo, as tecnologias digitais criam um mundo de existência virtual, que acaba sendo também um lugar para treino de construção de identidade. Ana Carolina Falcone Garcia, psicóloga em São Paulo, em recente estudo, mostra que os aplicativos de redes sociais permitem aos usuários serem quem quiserem ser, desde características pessoais e físicas até possibilidades morais e psíquicas. Ela relata que essa pluralidade de modelos que surge no espaço virtual é positiva, num primeiro momento, permitindo a criatividade, a imaginação, a exploração de conteúdos, o treino de novas habilidades e formas de convivência. Alerta porém, sobre a necessidade do acompanhamento dos pais para ajuda à discriminação dos riscos e aumento dos recursos de proteção, principalmente frente ao cyberbullying.

Nativos digitais no mundo virtual

Cabe aos pais aprender o uso das ferramentas digitais que seus filhos estão usando

O mundo virtual é essencial aos nativos digitais e é um mundo sem fronteiras em termos de tempo e espaço. É um mundo amplo, sem limites, fluido. Cumpre aos pais aprender o uso das ferramentas digitais que seus filhos estão usando, até para que tenham a noção do alcance dessas tecnologias. Não lhe são permitidos o não saber, pois isso seria negligência.

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Habitando esse espaço/tempo sem delimitações, sem começo e sem fim, principalmente os pré-adolescentes e adolescentes vão perdendo a noção das horas, do cansaço, da necessidade de se alimentar, de dormir, das rotinas diárias etc. O uso constante das telas eletrônicas, além de prejudicar a visão, cria dependência, pois o cérebro fica exposto à ativação constante e excessiva de áreas relacionadas a recompensas. Assim, se justificam as alterações nos padrões de sono/vigília, as alterações de humor e as mudanças de comportamento. São sinais de alerta, possivelmente pelo abuso do mundo virtual.

Tempo online

Dessa maneira é importante estabelecer o tempo de permanência junto aos eletrônicos, que é claro, será diferente para cada idade. É igualmente importante criar rotinas para a vida diária, durante a semana e no fim de semana. Se, para às crianças, a determinação do tempo e dos horários deve ser dos pais, no caso dos adolescentes, o estabelecimento do tempo de acesso aos eletrônicos deve ser discutido, entendido e combinado com eles. Até para que eles se envolvam no cumprimentos das regras.

Nos tempos da educação tradicional, no tempos pré-digitais, as regras eram claras: “primeiro as lições de casa, depois o brincar”. Hoje, quase tudo se faz na frente das telas eletrônicas. O espaço, praticamente passou a ser apenas um. O controle fica sendo um esforço mais árduo para os pais.

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Além do controle frente à permanência no mundo virtual, pode ser interessante favorecer aos filhos a inserção criativa, prazerosa no mundo real. Com a atenuação das regras do confinamento social, presenciamos a volta das crianças e jovens à escola presencial, às atividades esportivas e aos eventos sociais. Resta, em casa, estimular atividades conjuntas com os pais, entre os irmãos, mediadas por jogos físicos, por livros, por desenhos, pinturas, montagens colagens etc.

O essencial é a preservação da saúde física e mental dos chamados nativos digitais.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.