por Angelina Garcia
Fernanda conversava com a amiga sobre sua sensação de fracasso. Planejara tanto e via outro ano chegar sem ter riscado um item sequer da lista, já amarelada, ali na geladeira.
– Isso não vai se repetir. Estou fazendo minha nova lista, embora o ano já me pareça pequeno demais para tanta coisa.
– E se você escolhesse apenas uma?
Esta era exatamente a dificuldade de Fernanda, escolher; mesmo porque a ideia de ano novo nos dá a impressão de ter pela frente um espaço de tempo suficiente para realizarmos, ou pelo menos iniciarmos, todos os projetos até então protelados.
Diante da constatação de que fizemos pouco, ou quase nada do que planejamos, é imprescindível refletirmos sobre a maneira como nos organizamos em torno daquilo que não conseguimos concretizar: o quanto os desejos eram viáveis; o quanto investimos neles e, principalmente, o que nos afastou da nossa meta, se necessidades reais, imprevisíveis, inadiáveis, ou se nos perdemos no emaranhado de vontades e acabamos engolidos por elas.
Um dos perigos é dar a todas as necessidades a mesma urgência, ou dar às mais simples urgência nenhuma. Ao escolhermos determinada coisa para fazer temos uma tendência a acreditar que ela está roubando o espaço de outras, e, assim, continuamos a arrastar todas sob o peso da culpa.
Se a questão, por exemplo, for inserir algo novo na rotina, começar pelo mais simples poderá nos ajudar, uma vez que requer, em outras medidas, o que seria necessário aos grandes projetos; porém, a ideia de curto prazo é mais favorável a um primeiro movimento.
Para abrir espaço ao novo devemos averiguar nossa disponibilidade para sair da rotina. É necessário colocá-la a nosso favor. Que sejam mudanças mínimas temos que fazê-las, para, aos poucos, ganharmos segurança em direção a passos maiores e mais firmes. Da mesma forma, precisamos ficar atentos ao nosso nível de exigência e ao tempo que levamos na execução de determinadas tarefas.
Algumas coisas poderemos fazer mais rapidamente e outras já deveríamos ter eliminado, se a prática veio nos mostrando que não estão nos levando a lugar algum. Isso ajuda a limpar a área para que possamos enxergar o projeto maior, além de impedir a possibilidade de ficarmos paralisados em detalhes pouco significativos, ou de usá-los como desculpa para não avançar.
É importante nos colocarmos inteiros em cada etapa, mas sem chegarmos à exaustão, pois este pode ser um outro motivo para desistirmos no meio do caminho. Devagar nosso grande projeto vai tomando forma e por si só passa a exigir mais espaço.
Agora é tratá-lo com carinho, como coisa única, e alimentá-lo com ideias e ações, pequenas que sejam, todos os dias. Além, claro, de protegê-lo de quem não acredita nele. Um ano poderá ser pouco para vê-lo terminado, mas suficiente para torná-lo visível.