Por Tatiana Ades
Em “As pulsões e os destinos da pulsão” (1915b/1980), Freud define pulsão da seguinte forma:
Uma pulsão é um conceito situado na fronteira entre o psíquico e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.
Nossas pulsões originam-se nas células do corpo e, destas células, temos necessidades vitais como a fome, respiração e sexualidade.
Essas pulsões tem um impacto ininterrupto em nossas vidas, sendo sentida por nós como necessidade constante de prazer, alívio e satisfação.
Ainda quando estamos sendo amamentados por nossas mães, já estamos iniciando um processo característico de pulsões sexuais e autoconservação.
Essas pulsões devem se separar gradativamente, porém, algumas de nossas pulsões sexuais permanecem ligadas às de autoconservação, ou seja, torna-se doença. O corpo se torna a emergência da pulsão parcial sendo satisfeito e aliviado pelo objeto correspondente.
Com a introdução da pulsão de morte, houve uma transformação da primeira teoria das pulsões, o que fez Freud (1923a/1980) redefinir o dualismo pulsional em duas novas classes:
[Eros ou de vida] abrange não apenas a pulsão sexual desinibida propriamente dita e as pulsões de natureza inibida quanto ao objetivo ou sublimada que dele derivam, mas também a pulsão de autoconservação; [e Thanatos ou de morte], cuja tarefa é conduzir a vida orgânica de volta ao estado inanimado.
Então, quando falamos em compulsão alimentar, nos referimos à repetição, ou seja, a nossa volta inconsciente para o seio de nossas mães e a sensação agradável de aconchego, alívio e satisfação.
Mas as compulsões incluem também infâncias não agradáveis, mesmo assim a nossa necessidade neurótica de repetição ao familiar estará presente em rever e saborear situações desagradáveis, porém reconhecidas por nós, mesmo que, no intuito de modifica-las.
Desta forma, o comer se torna em nossas vidas, um poder ímpar nas questões pulsionais.
A criança que irá sugar o leite materno, poderá querer repetir essa sensação em comidas diversas na vida adulta.
Comemos sentimentos, vazios, angústias, medos, alegrias.
Comemoramos comendo e também comemos sozinhos em momentos furiosos de ira.
O amor pela comida, quando se torna doentio, pode fazer com que uma pessoa perca-se de si mesma, fazendo do ato de comer o seu único propósito de vida. Cria-se uma obsessão pelo ato de comer, para um alívio imediato do sentir, assim como outras pessoas podem fazer com drogas, álcool, sexo e pessoas.
Vício: pessoas acometidas pelo comer compulsivo geralmente mantêm os seguintes rituais:
– comem isoladas;
– devoram grande quantidade de comida num espaço curto de tempo;
– isolamento social;
– sentem culpa e angústia após a crise compulsiva;
– ficam com baixa autoestima conforme a doença se agrava;
– têm depressão e pensamentos suicidas.
O comer compulsivo também é muito desconfortável, pois não há como uma pessoa negar o seu vício, elas descrevem que o corpo as traí, engordam muito em pouco tempo e sentem-se humilhadas e desanimadas.
Gostar muito de comer não e doença, porém quando o comer se manifesta em sua vida como desconforto e sofrimento, a doença está instalada e precisa ser tratada. É necessário um processo de análise para o entendimento completo daquilo que estamos fazendo com o nosso alimento, como fazemos e por que o fazemos de determinada forma.
Amar demais a comida pode ser uma tortura e a possibilidade de você estar se amando de menos.