O mal nosso de cada dia tem uma das suas faces na supervalorização do ego. Entenda o que está por trás do bem e do mal.
Para começar, penso que o mal não é um bem em formação, não está a serviço do bem e não é a ausência de bem. O mal tem endereço e atua, por isso pedimos: “Livrai-nos do mal”. Não me canso de pensar no livro de Jó e no Fausto de Goethe, a respeito do que o diabo estaria fazendo na presença de Deus.
Guimarães Rosa desmascara o mal quando nos ensina que: “Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver. A gente sabendo que ele não existe aí é que ele toma conta de tudo”.
O mal que percebo fora é o mal que não curei em mim. Se não há mal em mim, não existe a matéria-prima para o encontro com o mal de fora, não há o que temer. O mal é exclusivo e separa, enquanto o bem inclui e agrega. O mal se antecipa, limita, planeja, controla, impõe, desafia e desafina, já o bem, é sempre atual, é prontidão (nunca expectativa, seu oposto), permite, propõe, compõe, confia e afina.
No face a face com Deus, o mal é luz e doçura, conforme Jacob Boehme. Quando meu ser comunga em Deus é assim que o mal se apresenta. A supervalorização do ego é uma das faces do mal. O Frederico Nietzsche falou na obra “Além do bem e do mal”: “Quem se despreza, ainda preza a si mesmo como desprezador”. De fato, está escrito há bastante tempo que aquele a se humilhar será exaltado e o que se exalta será humilhado.
O mal nosso de cada dia
“Basta para cada dia seu mal” é a frase-chave para meditar sobre a depressão e a ansiedade. De fato, o ansioso é aquele que se preocupa com o mal de amanhã e o depressivo o que se preocupa com o mal de ontem. É um sobrepeso acrescentar mal ao mal de cada dia, se puder, considere evitar. Isso tudo apenas para lembrar quem ainda não se deu conta de que se não vai por bem, vai por mal.