Por Regina Wielesnka
Medo é uma expressão vaga demais, inclui fenômenos variados, grandes e pequenos, de muitos tipos. A raiz de boa parte dos medos (enquanto um estado corporal e comportamental alterado em função de um dado evento, pessoa ou objeto) tem a ver com alguma ameaça à sobrevivência ou bem-estar do indivíduo.
Alguém com medo talvez sinta o coração acelerado, frio na barriga, tremor, o corpo se modifica. Outra característica usual é que a atenção e o foco das ações da pessoa com medo se voltam prioritariamente para afastar o objeto do medo ou algo que sinalize a proximidade com esse objeto. O estado de medo e os sinais relacionados ao objeto temido podem ser úteis, é como se a pessoa estivesse sendo avisada em tempo de que deve se proteger.
Alarmes de incêndio facilitam a evacuação de edifícios, avisos de tsunamis também. Se eu tenho medo da febre amarela dou um jeito para me vacinar. O problema surge quando o medo se torna incapacitante, atrapalhando o desfrute da vida, com suas oportunidades e desafios. Esse tipo de medo atrapalha a vida do indivíduo, ganha proporções descabidas; para os observadores externos parece irracional, exagerado, ilógico. Um exemplo é o do indivíduo com forte medo de injeção que corre o risco de contrair a febre amarela, por exemplo, mas não consegue ir até o posto em busca de vacina. Um fóbico de cachorros deixa de ir à casa de queridos amigos com cachorros, evita sair desacompanhado pelas ruas, fica hipervigilante para detectar a chance de haver um cão no pedaço por onde passa.
Descobrir o que causa o medo não é o suficiente
Sob o ponto de vista de tratamento das fobias um aspecto que surpreende as pessoas é que descobrir o processo pelo qual a fobia se desenvolveu ao longo da vida da pessoa na maioria das vezes não basta para dissipar os medos exacerbados. Geralmente se necessita de algo mais: um plano de ação para enfrentar na prática o objeto do medo.
Alguém com fobia de dirigir precisará de boas horas de treino supervisionado para aprender corretamente os fundamentos do dirigir, coisas como trocar marcha, técnicas de direção defensiva, atenção aos sinais de trânsito, acho que meus leitores conseguem imaginar o rol de habilidades. Um fóbico de cachorros precisará ser ajudado a entender a linguagem corporal dos animais, vai ter que, de um jeito ou do outro, se aproximar fisicamente dos cães, preferencialmente de forma gradual.
O ponto crucial desses processos de enfrentamento do medo é que o sentimento “ruim” vai perder força somente depois que as habilidades que faltam forem desenvolvidas e a pessoa estabelecer um contato consistente (gradual, duradouro, frequente) com o objeto temido e os sinais a ele relacionados. Os fóbicos prefeririam primeiro perder o medo para depois enfrentarem as situações. Má notícia: assim não funciona. Mas, como podemos ver, há solução para as fobias.
Não há razão para hesitar na busca por um profissional de saúde para tratar fobias caso os esforços individuais não tenham se mostrado suficientes para dar conta das dificuldades. Fobia não deve ser razão para chacotas ou assédio moral. Respeito é bom e todo mundo gosta, tá?