por Danilo Baltieri
"Ela é manipulada por ele e está viciada."
Resposta: Os casos de abuso e de síndrome de dependência de substâncias sempre devem ser avaliados pelos profissionais de saúde mental através de perspectivas amplas e diversificadas, incluindo a natureza da própria substância e dos seus efeitos, as relações do usuário com os familiares e pares, os efeitos das crenças pessoais e grupais, as relações com os fornecedores das substâncias, dentre outros fatores.
Em alguns casos, especialmente entre adolescentes, é particularmente importante aos profissionais da saúde dar atenção à rede de parceiros do usuário envolvidos na troca de informações sobre fornecedores, no compartilhamento do uso e nas eventuais “ajudas” para angariar a droga ou mesmo para disfarçar os efeitos.
Nesses casos, os pares usuários de substâncias comumente são o único grupo de referência para o sujeito dependente e a relação entre esse sujeito e o grupo pode se tornar progressivamente mais intensa. Também, o funcionamento familiar deve ser intensamente revisto objetivando detectar “falhas” nos relacionamentos e problemas de comunicação.
Na verdade, o adequado funcionamento da família é um dos principais fatores de prevenção contra o abuso e dependência de substâncias entre os seus membros.
No campo da dependência química, todo ano cerca de 90% dos indivíduos dependentes de álcool e/ou outras drogas não se engajam em qualquer forma de tratamento médico ou psicossocial para esse problema. Nesses casos, os familiares têm a opção de eles mesmos iniciarem um tratamento objetivando a resolução do problema.
Não existe fórmula única, mas várias propostas terapêuticas
Não existe uma fórmula única para o bom funcionamento familiar, nem tampouco para o tratamento familiar nos casos de um dos membros com problemas relacionados ao uso inadequado de substâncias psicoativas. Na verdade, várias propostas terapêuticas existem e são recomendadas de acordo com o problema detectado. Logo, há a necessidade da procura por um profissional adequadamente especializado na área, para o estabelecimento do manejo familiar e das suas disfunções.
O envolvimento de membros da família do dependente químico adulto jovem ou adolescente no tratamento é essencial, porque comumente os pais ainda exercem substancial influência sobre a vida dos filhos. Além disso, freqüentemente, esses jovens são dependentes dos pais, não apenas emocionalmente, mas também financeiramente.
Deve-se ressaltar que alguns membros familiares do sujeito dependente químico acabam por se tornar completamente dependentes dos problemas desse sujeito, direcionando toda a sua energia para ele. Esse familiar co-dependente precisa ser tratado, porque além do intenso sofrimento pelo qual passa, pode terminar por dificultar a recuperação do seu ente relacionado. Pessoas que já apresentam problemas psicológicos ou mesmo já imersas em seus próprios problemas pessoais e relacionais são mais vulneráveis ao desenvolvimento da co-dependência.
Durante o processo de desenvolvimento da co-dependência, pode-se observar:
a) Abandono progressivo dos próprios objetivos e metas;
b) Minimização dos comportamentos do membro dependente;
c) Encobrimento de comportamentos absolutamente inadequados do dependente;
d) Aparentar felicidade para os outros, quando na realidade, existe muita tristeza;
e) Evitar conflitos para manter as aparências;
f) Ser desrespeitada continuamente;
g) Permitir que seus próprios valores sejam deturpados e ameaçados;
h) Acusar-se repetidamente pelos problemas familiares;
i) Acreditar que não há outras opções, além de continuar se comportando da mesma forma.
As conseqüências da co-dependência podem ser devastadoras, como por exemplo:
a) Autonegligência;
b) Perda de amigos;
c) Sonhos perturbadores;
d) Mudanças do sono e apetite;
e) Estresse continuado e vários problemas e distúrbios advindos dele;
f) Pensamentos de morte;
g) Problemas financeiros;
h) Assumir deveres e responsabilidades do dependente;
i) Humilhação.
Dessa forma, vale a pena um consulta com profissional capacitado na matéria em questão, objetivando a resolução, ou pelo menos, a amenização do seu problema atual. Os dependentes químicos precisam de tratamento médico e psicossocial; os co-dependentes também.
Atenção!
As respostas do profissional desta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um profissional de psiquiatria e não se caracterizam como sendo um atendimento