por Patricia Gebrim
Voltando para casa, por entre esse mar de carros, de repente me percebi observando as pessoas pelas ruas, seus rostos exaustos, os olhares perdidos em lugares que talvez nem mesmo elas soubessem encontrar…
E eis que meu coração subitamente ficou grandão, e nele cabia cada lágrima, cada sorriso, cada ruga, cada sonho, cada decepção. E todo o Universo foi sendo sugado lá para dentro, até que aconteceu… a explosão.
Uma estrela nasceu do nada, e subitamente compreendi a razão da existência daquilo que chamamos dor.
Ando pensando… Nosso mundo anda carente de compaixão.
Compaixão é essa qualidade luminosa que nos leva a olharmos para além de nós mesmos e perceber a dor do outro. Não importa se é uma pessoa, um animal, ou até mesmo uma plantinha qualquer que esteja sofrendo, a compaixão pode trazer muito alívio. A compaixão, quando é verdadeira, nos leva a algo quase tão poderoso quanto ela; o comprometimento. Quando sentimos nosso coração apertado pelo sofrimento de um outro ser e, de alguma forma, nos comprometemos, nos tornamos capazes de mudar a realidade.
Lembrei-me agora de uma linda história que ouvi em meu consultório na qual um grupo de rapazes, jovens, em uma viagem de final de semana, decididos a absorver o que de melhor existe na vida, se depararam com um cãozinho que chorava entre os galhos de uma moita, tinha a pata quebrada. E eis que, inesperadamente, aquele choro triste despertou algo nos corações daqueles rapazes, que deixaram de lado seus planos e passaram o final de semana inteiro procurando formas de ajudar o cão. Levaram-no a um hospital veterinário em uma cidade vizinha, rodaram quilômetros e quilômetros para longe das baladas que tinham planejado para aqueles dias. Mesmo quando voltaram para São Paulo, trazendo com eles o cãozinho, continuaram envolvidos, até que encontraram um lar que acolhesse o animalzinho.
Quando ouvi essa história, de um desses rapazes, percebi que algo extraordinário tinha se passado com ele. Não digo que tenha sido fácil, talvez fácil fosse fingir que não ouviam os uivos de dor do cãozinho e seguir em frente, afinal, "não era problema deles". Mas o fato foi que depois de tudo eu me pergunto:
– Quem terá sido mais beneficiado? O cãozinho, com certeza, foi salvo por aqueles rapazes, mas estou certa de que esses também foram salvos de certa forma. Saíram dessa aventura com mais alma, com mais amor por quem são, e isso é precioso demais para que não prestemos atenção.
– Quando somos capazes de sentir compaixão, e quando permitimos que essa compaixão se transforme em ação, nos tornamos poderosos.
Mudamos o mundo e mudamos a nós mesmos. Pensem nisso.