O que é consumismo?

O que move ou está por trás da roda do consumismo? Por que o consumismo entrou em loop? Qual é a mercadoria de primeira ordem? Como o sistema de consumo transforma pessoas em mercadorias?

Em geral, criticamos o consumismo em função de que ele parece encarnar um tipo de comportamento marcado pelo exagero. Na verdade, nunca sabemos claramente quando termina o consumo consciente e quando começa o consumismo, que seria seu primo perverso. Ele é da mesma família que o consumo razoável, mas se diferenciaria pelo excesso. A questão é que ninguém sabe o que é excessivo em se tratando de consumo. Assim, há uma certa indefinição sobre o assunto: todo mundo condena o consumismo desde que ele não se identifique com nenhum dos nossos comportamentos como consumidores.

O assunto é tão duradouro e longo como parece não levar a parte alguma, já que ninguém altera o próprio comportamento por julgá-lo condenável. Afinal, consumir em excesso é diferente daquilo que fazemos: suprir nossas necessidades. Deve ser porque as nossas necessidades funcionam como o horizonte: assim que nos aproximamos da meta, ela se afasta para um ponto distante e quando chegamos ali, ela já não se encontra mais no mesmo lugar.

Consumismo: o sistema de consumo entrou em loop e nos tornamos mercadorias

Embora o assunto não leve a nada de produtivo, há uma metamorfose no consumismo que me parece interessante: hoje as mercadorias consumidas sofreram uma mutação. Essa alteração parece indicar que o sistema de consumo – a produção, a circulação e o consumo, propriamente dito – entraram em um loop. Isso quer dizer que nós, os consumidores, tornamo-nos mercadorias. Se antes nós éramos consumidores, hoje somos também uma das mercadorias.

Fundamentalmente em função da digitalização da vida, a informação sobre nossos hábitos de consumo tornaram-se uma mercadoria importante. Todos nós já nos surpreendemos, ao menos algumas vezes, pela maneira como somos abordados pela propaganda atualmente. Basta executar uma busca simples sobre algum produto que começamos a receber anúncios a esse respeito. Pode ser em outro tipo de mídia, em outro aparelho, em outro programa ou mídia social, somos rastreados de tal forma que a propaganda chega até nós.

Esse direcionamento nada mais é do que a objetividade da mídia: para que enviar uma propaganda para milhões de pessoas se ela pode ser direcionada a alguém que manifestou interesse em consumir um tipo específico de mercadoria? A probabilidade de acertar o alvo aumenta, se o número de pessoas for reduzido apenas àquelas que tem interesse.

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Consumismo: qual é a mercadoria de primeira ordem, a mais importante?

Tudo se resume, portanto, a encontrar quem possui interesse verdadeiro. A possibilidade de descobrir nossos desejos, nossas necessidades momentâneas tornou-se a maior fonte de rendimentos para qualquer tipo de sistema produtivo. Quem sabe o que queremos, pode nos vender o que for. Não saber é encontrar-se às cegas. A mercadoria fundamental, a mercadoria que vem em primeiro lugar é, portanto, o nosso desejo. É ele que move a roda do consumo, da circulação e da produção.

Saber o que queremos, estar na posse do conteúdo do nosso desejo, tornou-se uma espécie de mercadoria de primeira ordem da qual todas as demais dependem para serem consumidas. Por isso que faz todo sentido venderem e comprarem as informações relativas a tais desejos, à chave de todo o consumo.

O que é interessante é que o sistema de consumo, através dessa volta sobre si mesmo, transforma consumidores em mercadoria. Nós que antes estávamos de fora, por assim dizer, que só fazíamos parte da etapa final do processo de consumo como consumidores, agora estamos no meio. O sistema produtivo simplesmente nos engoliu, tornou-nos parte do seu próprio processo.

Se considerarmos tudo, agora sabemos que o fim do sistema de consumo são mesmos as mercadorias. O que interessa é sua vida, sua reprodução, sua lógica interna. Nós somos um meio. Meio para que elas tenham vida. Parece que estamos sendo parasitados. Ou não. Talvez sejamos os parasitas. Se for assim, pelo menos o consumismo revelou quem realmente somos.

Ronie Alexsandro Teles da Silveira é professor de filosofia e trabalha na Universidade Federal do Sul da Bahia. Mais informações: https://roniefilosofia.wixsite.com/ronie