O que é família? Pergunta capciosa essa, principalmente em dias de incertezas em que vivemos de modo tão dicotômico, já que não dá para falar sobre família sem ter em mente que família está atrelada à complexidade, suspendendo juízos de valor, conceitos fechados, lineares e prontos, pontos estes que produzem uma concepção reducionista da família.
Podemos de forma prática e objetiva, se é que é possível, compreender família como um sistema aberto e interconectado com outras estruturas sociais e outros sistemas que compõem a sociedade, constituído por um grupo de pessoas que comparam a relação de cuidado (proteção, alimentação, socialização), estabelecem vínculos afetivos, de convivência, de parentesco consanguíneo, ou não, condicionados pelos valores socioeconômicos e culturais predominantes em um dado contexto geográfico, histórico e cultural.
Assim, cada família é uma, de fato, na medida em que cria os seus próprios problemas e estrutura como suas formas de relação, tendo suas percepções, vínculos e suas especificidades próprias.
Não existe família enquanto conceito único; existem configurações vinculares íntimas que dão sentimento de pertença, habitat, ideais, escolhas, fantasias, limites, papéis, regras e modos de se comunicar que podem (ou não) se diferenciar das relações sociais do indivíduo humano no mundo. Mas, a família, seja ela qual for, tem a configuração que tem, e será, o meio relacional básico para as relações no mundo, da norma à transgressão dela, da saúde à patologia, do amor ao ódio, conforme escreveu o professor e psicólogo Ileno Izídio da Costa, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
Cada família tem uma cultura própria em que circulam seus códigos: normas de convivência, regras ou acordos relacionais, ritos, jogos, crenças ou mitos familiares, com um modo próprio de expressar e interpretar as emoções e comunicações.
Cada família é única
Como as ações são interpretadas em um contexto de emoções e de significados pessoais, familiares e culturais mais amplos. Tais emoções geram ações que formam o enredo do sistema familiar e constroem a história singular de cada família, que se transforma com o tempo, com a cultura e com as mudanças sociais.
Dessa forma, o tema família refere-se a uma realidade muito próxima a cada um de nós. O significado, o sentido, os sentimentos despertados são diferentes de acordo com a experiência de cada um e sua história familiar. Isso, muitas vezes, dificulta a percepção e o entendimento dos profissionais de Saúde em relação às configurações familiares dos usuários, pois suas referências individuais, culturais e sociais são diferentes.
O olhar, o escutar, o observador, o perceber e o entender a diversidade da forma de viver em família são fortemente influenciados por concepções de família, pelas crenças e valores de cada indivíduo que busca uma compreensão da família, mas essas barreiras culturais e de comunicação podem ser enfrentadas a partir de uma abordagem que favoreça a reflexão, o diálogo, a escuta, o acolhimento e por que não a empatia.
Então, agora será que temos pistas para responder à pergunta: O que é família?
Para saber mais: Cadernos de Atenção Básica, n. 34 – ISBN 978-85-334-2019-91. Saúde Mental