O Dr. Guimarães Rosa dizia não ter medo de ver morte, mas de ver nascimento. Pensando bem, nascer é um momento amedrontador. Dá preguiça pensar o trabalhão que é nascer. Além disso, dá curiosidade, como algo tão grande e grandioso pode caber em espaço tão exíguo como o corpo físico?
As coisas grandes chamam atenção e daí o propósito dessa pequena reflexão. Afinal, uma vez nascidos, algo precisa ser feito. E viver, já sabemos, é muito perigoso. Mas tão mais perigoso quanto menos soubermos lidar com esses dois paradoxos, o perdão e o precisão.
O que é perdoar?
Sobre o perdão, os saudáveis sabem que se trata de devolver algo que não lhes pertence. Assim sendo, devolvem ao remetente o material enviado, sempre com gratidão e prontidão. A devolução proporciona sensação de alívio e relaxamento, imprescindíveis ao bom viver.
Mas como o adoecido lida com o perdão?
De forma surpreendente! Não lida! E o que acontece com alguém que desconhece a função dessa ferramenta da alma? Que a guarda no fundo de sua caixa de ferramentas? O inevitável. O que seria exercício de lubrificação das engrenagens da alma se torna uma grande perda, ou seja, um PERDÃO. Perdão que é grande perda de oportunidade e que se manifesta na retirada de algo precioso que se torna insustentável, por inabilidade. Como é para você o perdão? Emancipação de seus excessos ou perda forçada de algo de valor?
O que é o precisão?
Sobre precisão as coisas ficam ainda mais surpreendentes. Os seres adoecidos que trabalham com precisão, em hipótese alguma abrem mão de seus microscópios e lupas, além da minuciosa análise calculista de tudo que lhes aparece pela frente. A marca desses seres é a necessidade de controle e o total desprezo por tudo o que se revele como coincidências, surpresas, inusitado, enfim tudo o que não estava previsto em seus mapas de bordo. O que sai do controle deve ser desconsiderado ou contornado. Toda essa precisão e controle são marcas de quem a vida é uma prisão com leis rígidas.
Como escapar da prisão da precisão?
Tornando a precisão uma necessidade de vida, um querer viver. Um querer que não é controle, senão aceitação daquilo que a vida oferece e convida. Ciente de que o que vem é exatamente aquilo de que preciso. Quando saio da precisão e adentro o reino do PRECISÃO, as expectativas se dissolvem e o medo do fracasso se transforma em gratidão pela experiência que me cabe. Transforme a necessidade de precisão (controle) em necessidade de vida, um querer e precisar muito de viver (aspiração), enfim um PRECISÃO!