por Carminha Levy
Dando continuação ao tema xamanismo tradicional, vamos relatar um caso.
A paciente vem trazida por uma amiga e apresenta como sintoma uma grande apatia, aparentemente um tipo de depressão que a impedia de trabalhar. Essa situação estava tornando-se insustentável, pois como jornalista necessitava produzir diariamente. Afetivamente sua vida era um caos, não conseguia levar adiante uma relação, pois apresentava um profundo medo do sexo oposto. Tinha também um forte traço de personalidade: não concluía os inúmeros cursos que freqüentava.
Na primeira sessão, foi feito um levantamento do seu histórico de vida. Foi revelado que ela provinha de uma família disfuncional. Pais ausentes e frios e que sua infância tinha sido apagada da mente, não tinha recordações boas ou más dessa época.
Recomendei a sua acompanhante que seria necessário vir com ela todas as sessões do Resgate de Alma; precaução que o xamã deve ter, pois o contato com o trauma que ocasionou a perda de um pedaço de alma é muitas vezes chocante deixando o paciente inicialmente mais fragilizado. Mas como todo o processo ocorre com a permissão do Eu Superior do paciente, só será revelado o que o seu ego possa suportar sem desestruturação.
A segunda sessão transcorreu num ótimo clima de confiança do paciente que abriu seu inconsciente ao xamã terapeuta. Após eu pedi permissão ao Eu Superior da paciente (Ana nome fictício) recebi dela a licença para fazer o resgate, pedi a meus quatro animais sagrados da Madona Negra que me abençoassem e me levassem ao início do problema.
Sou reportada para uns 30 anos atrás e me vejo numa casa do interior, onde a Ana como criança brincava sozinha. Chega um homem conhecido dela que se propunha a brincar junto. Ana carente de pais e amiguinhos sempre recebia o homem com alegria e confiança.
Cenas como essa repetiram-se umas quatro vezes. Até que minha visão foi toldada e por mais que meus animais sagrados tentassem ajudar, levando-me de volta para as cenas, tudo escureceu e tive que voltar. O ego da Ana não me permitiu ultrapassar a barreira do trauma.
Ao contar minha viagem ela foi ficando muito inquieta, invadida por um início de pânico. Amorosamente expliquei que essa barreira é protetora, assegurei-lhe de que estávamos indo muito bem e que ela confiasse, além de mim, no próprio inconsciente dela e se entregasse na próxima sessão ao seu EU Superior.
Na terceira sessão peço ao seu Eu Superior permissão para a viagem de libertação de algum animal dela que estivesse preso. Encontro levada por meu animal de poder, uma gazela de profundos olhos tristes e muito machucada, ferida, aprisionada por uma corda amarrada as suas quatro patas. Libertei a corça, curei suas feridas e pedi que ela diminuísse de tamanho para entrar na minha bolsa xamânica e poder voltar para Ana.
Em seguida, meu animal de poder me mostra a continuação do que aconteceu. O homem que posteriormente a Ana identificou como tio, aproveitando do abandono familiar dela e com a confiança adquirida, por serem parceiros de brincadeiras, violentou-a. O trauma por se ver indefesa, traída, abandonada e entregue a sua própria sorte foi tão grande, que um pedaço de alma dela se dividiu e foi jogado para o inconsciente profundo deixando em seu lugar o esquecimento.
Seu animalzinho a corça nesse momento foi manietada e desde então uma força vital de Ana foi retirada. Sufocando minha indignação, pois o xamã tem que trabalhar equilibrado, sem amor e sem ódio (imparcial). O quadro ficou claro para mim. A falta de vitalidade, medo dos homens, não estabelecer relações, não continuidade no que iniciava são sintomas que, por si só, já evidência que houve um abuso sexual, daí decorrendo sua protetora falta de lembranças da infância.
Com meus quatro animais sagrados fui buscar o pedaço de alma da Ana. Eles levaram-me à caverna das crianças perdidas, onde milhares de olhinhos pertencentes a crianças violentadas de todas as maneiras, nos espreita, luminosos e desconfiados. Chamei por Ana diversas vezes, afirmei que era uma amiga que queria conhecê-la e esperei amorosamente. O amor tem um brilho especial que tal qual uma fosforescência, atrai essas alminhas desesperadas. Finalmente Ana aparece e eu consegui identificá-la por um anel que Ana adulta usa.
Segurando meus arroubos amorosos confirmo que é ela e convido-a a voltar, dizendo que hoje ela é forte, que pode cuidar da Ana criança com a proteção que ela como criança não teve. Da parte da Ana adulta, existe o profundo desejo de ter seu pedaço de alma de volta, o que só a Ana criança poderia realizar.
Para ambas, Ana criança e Ana adulta, seria um grande ganho amoroso de parceria, pois ambas ao se ampararem ganhariam força, liberdade, determinação e alegria de viver. Após convencê-la, peço que diminua e a coloco no meu apanhador de alma. Volto com os quatro animais e a proteção e benção da Madona Negra e do Divino Espírito Santo pelo trabalho concluído.
Relato a viagem após soprar o pedaço de alma e a gazela no chakra do coração levantá-la e soprar no chakra da coroa enquanto abraço-a e digo “Bem-vinda à sua casa”.
Selo os chakras com a maracá. Levamos algum tempo compondo a história. Ana está realmente estupefata mais dona de si. Chamo a acompanhante e peço que esteja com Ana naquele dia, dando todo amor e proteção que ela necessita.
Marco a quarta e última sessão para 15 dias adiante. Peço a Ana que faça um diário contando tudo o que ocorrer. Com esta sessão fecha-se o Resgate de Alma.
P.S: Pedofilia é o maior crime que pode ser feito a uma alma e temos, como xamãs e seres humanos de combatê-lo e denunciá-lo.