por Blenda de Oliveira
"Tenho um filho de 12 anos que não para de criticar o pai. Para ele, tudo que o pai faz é errado. Nosso filho tem um temperamento muito forte. O pai age com palavras agressivas, berra alto ou vira as costas e vai para cama chorar. Estou muito triste com essa situação"
Resposta: Até pouco tempo atrás o pai era visto unicamente como um provedor familiar.
Sua identidade era mais estável e unificada. Hoje esse pai é questionado, formado por várias identidades, algumas vezes contraditórias e mal resolvidas. Para o homem ser profissional, namorado, marido são identidades que ocupam um lugar quase natural, assim como provedor. Entretanto, ser pai é uma outra função que requer novas habilidades e contato com emoções pouco comuns aos homens. Ou seja, o pai é um fator fundamental de equilíbrio psíquico e emocional para que a criança possa ter seu processo de integração social mais pleno.
Hoje está bem claro que ser pai está muito além do papel de provedor, até mesmo porque várias pesquisas apontam para um número cada vez maior de mulheres sustentando a família.
Entretanto é importante termos claro que o filho reage ao pai e vice-versa conforme se desenrola a relação conjugal. A vida entre você e seu marido, desde o nascimento do seu filho, até os dias de hoje é muito importante como formadora do tipo de vínculo que se formou entre pai e filho.
Pelo que me conta, há uma perda total de fronteiras hierárquicas entre ambos. Talvez o seu filho esteja reagindo a situações vistas por ele e que contribuíram para que perdesse o respeito e admiração pelo pai. O pai por sua vez, demonstra imaturidade e confusão para exercer sua função e tomar conta do seu importante lugar. O resultado desse desencontro é a desvalorização, o medo, a ameaça e a perda de possibilidades de encontros amorosos.
Vocês precisam de ajuda, sozinhos não conseguirão refazer e resgatar os vínculos entre pai e filho. Embora o problema apareça concentrado na relação deles, é necessário refletir e repensar qual tem sido seu papel na criação e manutenção dessa situação.
O pai não nasce pai, ele aprende a ser pai, diferentemente da mulher que biologicamente já nasce com o preparo para ser mãe. A mulher desenvolve o vínculo afetivo desde a gestação, o homem aprende a amar seu filho. A paternidade é um processo complexo e sensível. A mãe é uma grande colaboradora desse processo, pois há homens que não conseguem aderir à paternidade e entram em conflito e competição com o filho, tornando-se lamentavelmente inadequados.
Sugiro que você e seu marido procurem uma ajuda por parte de uma terapeuta familiar para que possam juntos compreender melhor o início e o prosseguimento dessa situação tão conflitante que poderá ficar cada vez pior, chegando ao ponto de ter que se interromper a convivência ou terminarem chegando a agressões mais e mais violentas. Seu filho também precisa de ajuda e de acordo com as orientações, ele poderá ser incluído nos atendimentos.
Se cuidarem poderá haver uma reversão na relação entre pai e filho, mas todos vocês estão implicados nisso. Uma família é um sistema que se alimenta das relações entre cada um de seus membros. Quando mexemos numa parte da engrenagem, imediatamente outra parte reage.
Homens não foram feitos só para terem filhos, mas também para serem pais. Mergulhem de cabeça para resolverem essa situação. A forma como lidamos com os nossos problemas é uma enorme fonte de amor para com nossas crianças.
Hoje sabemos mais e mais que crianças que vivem em ambientes confusos, violentos, com pouco respeito serão adultos pouco seguros, medrosos ou tão violentos quanto foram tratados.
Desejo que tenham coragem e muita determinação para lidarem com a situação. Seu filho está pedindo ajuda e só vocês como pais podem fazer o melhor.