Por Aurea Caetano
Para começar precisamos compreender o que chamamos aqui de uma psicoterapia “efetiva”. Somos procurados em busca de alívio. A pessoa que chega ao nosso consultório tem uma queixa, algumas vezes pontual, outras vezes difusa, mas sempre importante; ou não teria feito o movimento de nos procurar em busca de ajuda.
Costumamos começar o trabalho explicitando essa queixa, sabendo que muitas vezes ela é, apenas, a “ponta do iceberg”. Muito importante especialmente neste momento, e claro durante todo o trabalho, é poder propiciar um ambiente acolhedor, a pessoa que temos diante de nós está em sofrimento, em desconforto. Tem muitas vezes um segredo, algo que a incomoda profundamente e procura no atendimento um espaço de contenção no qual possa se sentir cuidada, sem julgamentos ou ideias preconcebidas.
A personalidade do terapeuta: quem é, como pensa a vida, como realiza seu trabalho, é de fundamental importância para que esse acolhimento inicial possa ser proporcionado, iniciando o processo que pode vir a ser uma “psicoterapia efetiva”.
Jung, ainda em sua extensa troca com Freud, já preconizava a importância da terapia individual do próprio terapeuta. Ele afirmava que em um processo psicoterápico tanto o terapeuta quanto o paciente estão em transformação. Justificava assim a importância fundamental do autoconhecimento por parte do terapeuta, afirmando que ele deve estar atento a suas próprias questões, para que possa estar mais “livre” no trabalho com seus pacientes.
Interessante observar que estudos recentes acerca dessas questões referendam essas ideias tão importantes para nós. Pesquisa publicada pela APA (American Psychoanalytic Association) identificou uma série de preditores de resultados favoráveis e componentes de tratamentos efetivos, incluindo força da aliança, técnica terapêutica e contratransferência do terapeuta. “Teóricos e clínicos afirmam que o relacionamento terapêutico entre cliente e terapeuta parece ser uma das contribuições mais significativas aos resultados positivos”.
Shedler, pesquisador americano, em um interessante e atual estudo sobre a eficácia da psicoterapia psicodinâmica, afirma que:
Há diferenças profundas na prática de cada terapeuta, mesmo entre terapeutas que usam de forma extensiva o mesmo tipo de tratamento. “O que acontece no consultório reflete as qualidades e o estilo de cada paciente e cada terapeuta e os padrões únicos de relacionamento que se desenvolvem entre eles. (Shedler, 2010)
Cada um de nós terapeutas, com nossas personalidades únicas, através de nosso trabalho individual, confessamos nossa subjetividade, buscando através da relação com nossos clientes a transformação. Procuramos realizar, desta forma, o que poderia ser chamado de “psicoterapia efetiva”.