por Nicole Witek
Herbert Benson, médico e professor adjunto na Faculdade de Medicina de Harvard e no Deaconess Hospital se especializou na clínica Body and Mind (Boston, estados Unidos) nos efeitos do estresse.
Já sabemos que 50% das doenças cardiovasculares têm como origem o estresse negativo e crônico. A insônia muitas vezes tem essa mesma origem.
Existem muitos fatores que podem desencadear insônia: choque emocional, mudança de situação social ou familiar… Mas a situação mais corriqueira é essa onde simplesmente o estresse positivo do desafio, da ação, do fazer acontecer, passa a ser ansiedade e preocupação crônica, infelizmente alterando o funcionamento das glândulas e principalmente a produção de adrenalina, atrapalhando o sono.
A insônia leva a muitas outras complicações, tanto físicas como mentais ou emocionais e prejudica as atividades exteriores. A insônia crônica altera o funcionamento de toda fisiologia gerando esgotamento e cansaço do sistema nervoso.
No plano fisiológico: é importante dormir. O sono permite a descarbonização do organismo. Durante o sono existe um consumo menor de oxigênio, o cérebro emite ondas cujos padrões mudam significativamente, dependendo do estado mental, emocional ou físico: são as ondas delta, teta, alfa e beta. Para conseguir um sono natural e de boa qualidade, é necessário abaixar as altas frequências do cérebro, que dominam quando voltamos a nossa atenção para o mundo externo (ondas beta).
O programa medicinal de redução dos sintomas da insônia elaborado pelo Dr. Benson da Faculdade de Medicina de Harvard inclui:
– trabalho sobre a respiração com o diafragma;
– observação dos pensamentos e readequação dos pensamentos para servir a saúde;
– exercícios físicos incluindo alongamento e yoga;
– comportamentos positivos perante a vida;
– definição de metas;
Aqui está a visão contemporânea do Dr. Benson para reduzir os sintomas da insônia.
Voltando milênios no tempo, na época de 200 até 300 d.C, temos um texto básico que poderíamos chamar: vide bula da autorrealização.
Com vocabulário sânscrito*, e de uma maneira concisa, o Patanjali, grande sábio da filosofia yogi, mencionou que a primeira condição para ser feliz é "controlar, reduzir e finalmente parar as ondas mentais".
Para conseguir esse desempenho extraordinário precisamos passar por vários níveis que abrangem nosso ser.
Precisamos aplicar os seguintes componentes do yoga: yamas e niyamas, asanas, pranayama, pratyahara, dharana, samadhi no cotidiano.
Esses oito componentes são necessários em nossa vida, e vão permitir nos levar ao bem-estar interno, a nossa felicidade profunda e ao sono reparador e feliz.
Oito atitudes do yoga para combater a insônia
Yamas – tratam da ética social e individual: não violência, a autenticidade, não roubar, controle da sexualidade, não possessividade.
Nyamas – a limpeza, o contentamento, o trabalho, o estudo, o estudo de si e a entrega dos atos ao seu ser profundo.
Asanas – se refere ao corpo, permitir que o corpo seja liberado das tensões físicas, dos bloqueios para que o pranayama seja útil.
Pranayama – significa energização, captação, armazenagem e circulação da energia vital.
Pratyhara – possibilidade de esquecer do mundo, parando de analisar as informações que vêm pelos sentidos, permitindo assim ser atento, sem espalhar a atenção.
Dharana – concentração mental, deve ser trabalhada. Da mesma forma que se faz malhação para o corpo, se faz malhação para a mente.
Dhyana – a meditação onde o praticante se distancia das atividade da mente para ser o observador.
Samadhi – a união ao todo, a sensação e consciência final de pertencer ao universo.
É na realização desses oito componentes do yoga que encontramos a cura de nossa insônia.
Se agirmos durante o dia da forma "prescrita na bula", não podemos mais permitir vacilações da mente, preocupações esgotantes para o sistema nervoso.
Com a consciência de que por trás da pessoa está o ser profundo, podemos observar nossos processos fisiológicos e admirar a magia da nossa respiração, das batidas do coração, podemos enxergar nosso corpo como "um animalzinho" que precisa recompor suas energias e nos colocar como observador, nos distanciando dos problemas do ego.
A primeira frase do "modo de usar" consta no aforismo do Patanjali "controlar, reduzir e finalmente parar as ondas mentais". Isso não é nada mais do que entrar num estado alterado de consciência que – se o praticante não fica atento – pode levar ao sono.
Mas até cair no sono deve ser de maneira consciente, escolhida, definida para que o último pensamento influencie o dia seguinte, para que a meta seja bem clara.
O Dr. Benson fala de definir objetivos. O Patanjali fala de ter suas intenções firmes, ou seja seu Sankalpa! Harvard ou Yoga… Ou seja, a mesma meta.
* sânscrito : idioma antigo e sagrado dos brahmanes, sacerdotes na Índia