por Anette Lewin
“O que alimenta uma relação a dois são momentos a dois!”
“Não suporto os sobrinhos da minha mulher, eles são bonzinhos, mas eu sei que o problema está em mim, mas eu não aguento nem olhar para eles. Minha esposa insiste em trazê-los para a nossa casa. Quando consigo tirar cinco dias de férias, ela chega com um dos sobrinhos para viajar com a gente. Eu não consigo lidar com essa situação. Estou vendo a hora que o nosso casamento vai acabar por cauda disso.”
Resposta: Sua sensação, provavelmente, é a de que você não basta como companhia para sua esposa. E, sim, essa é uma sensação muito desagradável. É importante que você reflita sobre o porquê dessa atitude dela.
Se sempre foi assim, podemos arriscar dizer que ela se sente melhor em situações com mais pessoas, talvez ache divertido estar junto com crianças, no meio de uma situação mais dinâmica e bagunçada do que numa situação a dois. Isso pode acontecer por costume ou por não saber realmente como preencher momentos a dois. Afinal, crianças dinamizam qualquer ambiente e dois adultos, depois de um certo tempo, têm que ser mais criativos para que não se instale entre eles um silêncio ou temas recorrentes que já foram esgotados.
Se essa situação incomoda você, antes de mais nada, e para não ser injusto, faça uma avaliação sobre a sua responsabilidade nela.
Será que você está sendo uma companhia agradável?
Nos momentos a dois vocês se divertem? Fazem planos juntos? Saem para fazer programas agradáveis? O papo entre vocês flui?
Você propõe atividades que são sedutoras para ela?
O sexo entre vocês funciona?
Sim, todas essas questões são pontos de reflexões importantes para avaliar se o sobrinho de sua mulher não está funcionando como um atenuador de possíveis problemas de relacionamento entre vocês. Afinal, com ele por perto, dificilmente haverá, por exemplo, um silêncio perturbador; com ele por perto, caso a vida sexual tenha problemas, esses problemas serão adiados; com eles por perto os programas e os papos girarão em torno dele e não dos eventuais problemas entre vocês.
Feita essa análise, se você concluir que é uma companhia agradável, que não costuma pesar o ambiente e nem deixá-lo monótono ou esperar que sua esposa tome todas as atitudes de mobilização na relação, talvez possamos levantar a hipótese de uma falta de maturidade dela para entender que uma relação a dois tem que ser alimentada para crescer. E que o que alimenta uma relação a dois são … momentos a dois! Mesmo que de vez em quando esses momentos possam ser difíceis de preencher, vale o exercício de tentar encará-los para que eles formem a história do casal.
Converse com sua esposa num momento tranquilo, e explique para ela como você se sente quando sua fantasia de férias românticas com ela se transforma na perspectiva de férias barulhentas e agitadas; quando sua vontade de ser o centro da atenção dela por cinco dias se transforma na ideia de se sentir colocado de lado em detrimento de necessidades da criança; como sua vontade de ficar tranquilamente relaxando ao lado dela se transforma na ideia dela ficar se preocupando com a alimentação e o banho do sobrinho.
Afinal, pelo que se entende do seu e-mail, vocês ainda não têm filhos. Assim, diga a ela que neste momento da relação você quer aproveitar a fase somente a dois.
Caso consiga convencê-la a viajar só com você, lembre-se que não vale a pena ficar discutindo a relação durante as férias; mesmo que no início ela se sinta chateada por não ter a companhia do sobrinho, lembre-se dos momentos agradáveis a dois e tente reestabelecê-los entre vocês. Tente ser leve, relaxar, fazer coisas que ambos apreciam. Caso as circunstâncias tragam alguma frustração, evite ficar lamentando o tempo todo. Se chover e vocês queriam sol, paciência. Afinal um dia de chuva pode ser lindo dependendo de como for encarado.
Lembre-se também que se ela ceder dessa vez, na próxima quem tem que ceder é você. E entenda que, pelas características de sua mulher, é provável que você não consiga ser o foco de atenção dela o tempo todo.
Assim evite forçar a barra e ficar querendo mais atenção do que ela pode dar a você. Procure encarar seu trabalho e suas experiências pessoais como fontes de preenchimento que podem ajudar você a se tornar uma companhia cada vez mais interessante. E livrar-se da angústia de ter que ficar implorando por atenção.