Qual é a tênue linha que separa a saudável proteção da superproteção? Pais estão superprotegendo demais os filhos?
Os compositores Erasmo e Roberto Carlos cantam: proteção desprotege e carinho demais faz arrepender. Ei, mãe, já sei de antemão que você fez tudo por mim e jamais quer que eu sofra…
A criança precisa de amor, carinho, cuidado e proteção. Criar e educar filhos é uma grande aventura, na qual o amor e os cuidados com os filhos irão garantir um apego seguro, base afetiva a partir da qual surge a possibilidade de poder confiar nos outros, de pedir ajuda quando necessário e de acreditar na bondade do destino.
É função dos pais cuidar e amar os filhos com desvelo, porém também, é função dos pais estimular o desenvolvimento deles, favorecendo o enfrentamento de situações novas. Algumas serão positivas outras negativas, mas sempre trarão aprendizado. Para que a criança cresça de forma saudável, é importante que ela treine e ganhe autonomia.
A linha tênue entre a proteção e a superproteção
Sabe-se que a linha entre a proteção e a superproteção é tênue. Muitos pais esforçam-se para poupar os filhos de todos os sofrimentos, esquecendo-se que as insatisfações, as frustrações, as perdas, as adversidades fazem parte da vida e que são justamente elas que ensinam as crianças a tolerar esperas, a aguentar tensões e a se tornarem mais fortes e resilientes.
Na nossa cultura, o choro é associado a sofrimento e, desde o nascimento, os pais correm para atender os filhos de maneira imediata. Cumpre observar que apenas no útero da mãe, o feto tem suas necessidades atendidas de maneira imediata. Depois que nasce, o bebê expressa suas necessidades através do choro, que não necessariamente quer dizer sofrimento, pois é sua única linguagem para pedir o que necessita.
A superproteção leva a acreditar que a criança é muito pequena para sofrer e que precisa do acompanhamento do adulto, não permitindo espaço para autonomia e prejudicando o desenvolvimento emocional. E, é preciso deixar a criança crescer e amadurecer.
Nos dias de hoje, em função da violência das cidades, os filhos crescem confinados às suas casas, às suas escolas e aos espaços guardados por pessoas que tem como profissão garantir a segurança dos outros. O treino da autonomia é drasticamente reduzido, pois as ruas e as praças das cidades grandes são interditadas às crianças.
Isso parece ter mudado as formas de cuidar dos filhos e consequentemente os modos de crescer, pois as crianças estão sempre acompanhadas por adultos. Superprotegidas, muitas delas não conseguem aprender a brincar sozinhas, a desenvolver a imaginação através do faz-de-conta. Quando eventualmente sozinhas ou por fim sozinhas, as crianças tendem a buscar os aparelhos eletrônicos, que passam a ser os “brinquedos” escolhidos. Cumpre lembrar ainda que, ao acessarem os sites na internet elas ficam expostas ao condicionamento feito pelos algoritmos, numa idade que não têm ainda a capacidade de escolher o que faz bem para elas e, portanto, ficam, assim, desprotegidas.
Medo e insegurança frente à violência dos nossos tempos, real e virtual, caracterizam nossa vida de cidadãos adultos. Estamos nos cercando de todos os meios de proteção possíveis e, com isso, limitando nossa vida a espaços protegidos. Superproteção aos filhos sempre existiu, mas talvez pelas nossas inseguranças e nossos medos aumentados, estejamos ainda mais superprotegendo nossas crianças com o risco de criar e educar indivíduos frágeis, dependentes, sem condições de enfrentarem as adversidades que a vida inexoravelmente traz. É importante lembrar que proteção em excesso… desprotege.