por Aurea Afonso Caetano
Falamos no texto passado sobre a questão da "Enantiodromia" veja aqui.
Para compreender melhor como se dá o processo simbólico na psique (mente) precisamos falar em imagem e símbolo.
Samuels, importante pensador junguiano, em seu "Jung e os Pós-Junguianos" (pg. 146) diz que "antes que algo possa se tornar um símbolo, precisa ser uma imagem. Contudo, olhar símbolos de maneira acadêmica transforma-os em algo menos que imagens, ao retirá-los de qualquer contexto, clima emocional ou cenário específico."
Jung disse que o processo simbólico é uma experiência em imagens e de imagens e que não haveria símbolos sem imagens. Na psicologia arquetípica (James Hillman, seu maior representante) as imagens não são representações, sinais, símbolos, alegorias ou comunicações. São simplesmente imagens e são parte do domínio da realidade psíquica.
Nesta abordagem direta as imagens devem ser vivenciadas, acariciadas, tratadas ludicamente, invertidas, respondidas, em suma, que haja uma relação com elas através do sentimento e não que sejam apenas interpretadas ou explicadas através da função pensamento.
Daí a proposta de uma "conversa" com as imagens. Isto é, caminhar com elas, conversar, perceber, ver para onde nos levam, que territórios abrem; que caminhos iluminam.
Diz Hillman, em Ficções que curam; pag. 118:
"… quando Jung formula sua experiência, diz: 'Imagem é psique'. Portanto, quando pergunto: 'Onde está minha alma? Como a encontro? O que ela quer agora?' a resposta é: volte-se para suas imagens. Jung diz: 'Todo processo psíquico é uma imagem e um imaginar… E estas imagens são tão reais quanto você mesmo é real'."
À guisa de exemplo: um cliente nos conta um sonho:
"Estou caminhando por um lugar desconhecido e de repente à minha frente surge uma ponte… Acordo antes de saber se a atravesso ou não…"
Fazemos as perguntas habituais:
– qual era o clima do sonho?
– estava só ou acompanhado?
– se acompanhado- com quem?
– o que havia do outro lado?
– qual sua sensação ao acordar?
– quais suas associações com a ponte?
– de que tipo de ponte falamos?
Lembrem-se há milhares de tipos de pontes diferentes e elas unem lugares diferentes, de formas diferentes. Isto é sonhar com uma ponte é sim sonhar com a possibilidade de uma travessia, mas de que travessia falamos nós? E quais os perigos que esse caminho propõe? Ou… quais os prêmios?
A psique em sua dinâmica tem a capacidade de estabelecer pontes unindo elementos conhecidos com desconhecidos em uma forma simbólica. Essa capacidade foi chamada por Jung de "função transcendente". Essa função aparece, de forma frequente, como um símbolo. E símbolo, para Jung, surge como "a melhor formulação possível de algo ainda desconhecido que não pode, por essa razão, ser mais ou melhor representado."
Portanto, é importante observar para onde nos leva cada imagem que surge em nossos sonhos ou nos sonhos de nossos clientes. Não de uma forma racional, cognitiva mas a partir do encantamento que ela pode nos provocar. É importante caminhar com ela, perceber o que desperta em mim, partir em busca do desconhecido lembrando que há sempre algo novo junto com aquela imagem que muitas vezes pode nos parecer um simples objeto.