por Roberto Shinyashiki
No filme Agonia e Êxtase, que conta a história de Michelângelo, há uma cena que considero especialmente inspiradora. Ele está pintando o teto da Capela Sistina, o papa entra e pede que pinte mais um anjo. O artista, pacientemente, obedece. Mas no íntimo ele se sente frustrado, pois sabe que seu trabalho não está bom.
Mais tarde, vai a uma taverna beber vinho. Acha o vinho muito ruim, mas aceita bebê-lo mesmo assim. Até que outro freguês grita, chateado, para o taverneiro:
— O seu vinho está uma porcaria!
— Ao que o taverneiro responde:
— Impossível. Meu vinho é ótimo. Eu garanto a qualidade do meu vinho.
— Então prove! Venha beber o seu vinho. Ele está um lixo — reage o freguês.
O dono da taverna então bebe e descobre que o vinho está estragado. Ele pega um machado e começa a destruir os barris, gritando muitas vezes:
— Este vinho está uma porcaria!
Michelângelo sai da taverna e volta para a capela. Pega alguns potes de tinta e começa a jogá-los em cima do seu trabalho, gritando:
— Este trabalho está uma porcaria! Este trabalho está uma porcaria!
No dia seguinte, o papa lhe pergunta o que aconteceu. E o artista responde que o trabalho estava um lixo. O papa estranha, mas não diz nada. Bem, o novo resultado toda a humanidade conhece: o teto da Capela Sistina é uma das maiores obras de arte de todos os tempos.
Há situações na vida que não têm conserto. É melhor jogar tudo fora e começar do zero. A gente tenta um remendo aqui, outro lá, mas, apesar de todo o esforço, as coisas só pioram. É aquele texto que não tem conserto, a empresa que não dá certo e tantas outras situações que todos nós vivemos em algum momento da vida.
Nessas horas, é preciso ter a humildade de reconhecer que o trabalho foi perdido. É preciso limpar o coração e partir para um novo projeto. Assim como o grande artista, é preciso reconhecer que o trabalho estava uma porcaria e jogá-lo fora. A partir desse momento, você tira a angústia dos ombros e fica somente com o trabalho.