por Antonio Carlos Amador
“Nunca me senti tão mal como no dia em que descobri a vida paralela que meu marido mantinha com minha melhor amiga, praticamente desde o início de nossa vida de casados. Parecia que meu mundo havia desmoronado de repente. Comecei a sentir muita raiva e uma vontade enorme de me vingar daquele patife e daquela piranha. Pedi o divórcio, me afastei da falsa amiga. Voltei para a terapia porque estava precisando de apoio. Aprendi a cuidar de mim mesma. ”
Todos nós temos alguma história para contar de como em algum momento de nossas vidas fomos maltratados por alguém próximo. Alguns tiveram pais que não foram capazes de proporcionar amor e carinho; outros foram iludidos por parceiros que mentiram ou tiveram casos extraconjugais; ou tiveram amigos que as desapontaram.
Quando essas coisas acontecem, é comum a pessoa sentir-se magoada ou irada por um período de tempo. Mas a mágoa e o rancor deveriam ser sentimentos passageiros, não permanentes. Neste último caso, muitas pessoas nunca superam os acontecimentos ruins de que foram vítimas e guardam ressentimentos que atrapalham a vida e prejudicam a saúde.
Perdoar é ser capaz de por desejosamente de lado ressentimentos em relação a uma pessoa que fez algo errado, foi injusta ou causou sofrimento ou dano de alguma outra forma. Não é o mesmo que se reconciliar com o outro ou desculpá-lo, e não é apenas aceitar o que aconteceu ou deixar de sentir raiva. Em vez disso, perdoar envolve uma transformação voluntária de nossos sentimentos, atitudes e comportamentos em relação a alguém, de modo que não sejamos mais dominados pelo ressentimento e possamos expressar compaixão, generosidade ou sentimentos semelhantes pela pessoa.
Não é uma questão de entender o perdão como uma renúncia ao direito de nos sentirmos irados quando formos maltratados ou feridos. Quando somos capazes de perdoar conservamos também a possibilidade de nos sentirmos irados, mas usamos essa habilidade com mais sabedoria.
Perdoar não significa fechar os olhos às coisas ruins que nos fizeram. O perdão nos ajuda a controlar as emoções e a preservar o bom senso. Neste sentido não gastamos uma energia desnecessária, sentindo raiva e sofrimento em relação a coisas sobre as quais não temos poder. O perdão nos ajuda a reconhecer que não podemos mudar o passado, mas nos permite libertar-nos do mesmo.
Quando somos capazes de perdoar alguém por sua terrível conduta (sem esquecê-la) podemos renascer, descobrindo que o perdão nos permite sentir menos raiva. Não renunciamos à nossa capacidade de nos sentirmos irados, mas à sensação de ficarmos presos a uma quantidade excessiva de raiva. Constatamos que à medida em que diminui nossa obsessão pela situação que nos injuriou, somos capazes de tomar decisões melhores e de apreciar a vida e nossos entes queridos.