por Rosemeire Zago
Sete Pecados Capitais – Luxúria
Viver em função da aparência demonstra não gostar de você como você é. Então, busca-se compensar essa falta de confiança na supervalorização do belo, do corpo, tanto no outro como em você
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Irei falar sobre a luxúria neste sexto artigo da série 'Os Sete Pecados Capitais': gula, soberba, luxúria, avareza, preguiça, ira e inveja.
A luxúria representa o desejo desordenado pelos prazeres sexuais. Pode ser definida como uma impulsividade desenfreada, um prazer pelo excesso, tendo também conotações sexuais. Opõe-se à propagação da espécie, sendo consumado apenas para satisfazer as próprias necessidades.
Segundo São Tomás de Aquino, a luxúria refere-se aos prazeres sensuais, onde ele lembra que tanto a comida quanto a relação sexual têm como finalidade a conservação da vida e, desde que utilizadas para esse fim, não são consideradas pecado. Na cultura cristã o sexo sempre esteve associado ao pecado, a algo sujo e mau, mas aceito em nome da procriação ou do amor, apesar de que em nossos dias o sexo ainda provoque muita culpa, em especial nas mulheres.
Porém, na época das cavernas, e por muito tempo depois, o que ligava homens e mulheres era o desejo físico, indiscriminado e passageiro, como se observa hoje nos animais, e infelizmente, em alguns homens. A associação estabelecida entre amor e sexo vem da necessidade cultural de "purificar" o sexo. Criou-se então o amor romântico, aquele sentimento nobre e elevado que uniria um homem e uma mulher.
A origem desse pecado capital pode ser intensificado e reforçado na infância, quando pais reprimem as crianças de todo e qualquer impulso sexual. Esses pais geram através da repressão muita culpa e criam assim adultos reprimidos sexualmente ou liberados em excesso.
Do ponto de vista psíquico a grande diferença que a mulher estabelece entre sexo, amor e intimidade e, a pouca importância que os homens tendem a dar aos dois últimos, é fonte de muitos conflitos nos relacionamentos.
Uma das causas da busca incessante por sexo, aparência e estética, tem origem na própria sociedade, na mídia, que vende a ideia que feliz é quem tem a beleza semelhante a da modelo da capa da revista.
Esse culto pelo belo, pela estética e o prazer geram muita angústia e insatisfação, quase sempre refletida na preocupação excessiva com o próprio físico, principalmente para quem está longe dos moldes ditados.
Na publicidade a imagem de um homem bem-sucedido é sempre associada à fama, poder, dinheiro e belas mulheres. Isso mesmo, no plural. O homem desde pequeno é incentivado a ir à caça, a não se "prender" apenas a uma mulher, mas a ter muitas, como se isso demonstrasse seu poder e sua capacidade sexual. Nas rodas de amigos faz questão de contar suas peripécias sexuais, onde ninguém tem certeza do limite entre a realidade e a fantasia.
O sexo descompromissado e causal é muito mais procurado pelos homens, isso não quer dizer que muitas mulheres também não o procurem. Mas os homens em geral, não só separam muito bem o sexo do amor, como até fogem do amor, da intimidade e do compromisso. A razão destes comportamentos pode favorecer a compulsão pelo sexo, explicada em muitos casos pelo medo que os homens têm do envolvimento e da intimidade que esse amor acarreta e que vem literalmente do berço. Ou seja, da relação que mantiveram com suas mães e da forma mais ou menos traumática pela qual foram obrigados a se separar delas.
É evidente, que todo esse comportamento denota uma necessidade de defesa e proteção que oculta seu desejo maior: ser cuidado e acima de tudo amado. Porém, o medo da rejeição muitas vezes o impede de assumir tal necessidade. A pessoa foge da intimidade e se defende na busca pelo sexo excessivo, que se torna sua única fonte de prazer.
Mas se a vontade obedece apenas ao prazer, a pessoa começa a buscar apenas o que lhe dá satisfação, poderá ocorrer sérios conflitos internos, pois quanto maior o apego ao material, ao físico, ao externo; menor será a busca pelos valores espirituais. Assim se afasta cada vez mais dos valores internos. Na verdade, a luxúria desvirtua a sensualidade e deforma o amor, tornando o apetite sexual insaciável.
Luxúria no trabalho
Nas empresas este pecado pode ser identificado pelo assédio sexual: em nome da posição hierárquica "desfruto do poder de dominar" Aparece com isso a grande dificuldade de relacionamento entre homens e mulheres nos ambientes organizacionais, reforçando heranças culturais arraigadas bem como dificuldades emocionais de expressar a afetividade de forma saudável. No trabalho, a luxúria ainda pode ser percebida pela vontade de ter tudo para si, evidenciando um líder que não democratiza a maior riqueza de uma empresa e de seus colaboradores: o conhecimento.
Ou seja, o líder faz de tudo para deter o conhecimento e as informações da empresa e do mercado por medo de perder o controle da situação, medo de ver algum membro de sua equipe com capacidade e competência maior do que a sua. É típico, por exemplo, no líder que recebe os informativos e não repassa para a equipe ou que faz assinaturas de revistas para o departamento, mas somente ele as lê.
Normalmente este tipo de líder não apura e não tem capacidade e competência técnica, preocupando-se somente em fazer com que outros membros não tenham acesso ao conhecimento o que, na sua cabeça, colocaria em risco a sua posição. Com isso, a equipe nota rapidamente este comportamento detentor do líder o que faz com que ele perca rapidamente a confiança da equipe. Nos fracassos, a equipe tende a culpar o líder por não fornecer as informações e conhecimentos importantes e necessários.
Luxúria e insegurança
A luxúria demonstra uma grande insegurança e sobrepõe-se de tal modo que transforma a natural necessidade de amar e ser amado, em uma necessidade compulsiva e patológica de satisfação, geralmente uma busca pela satisfação imediata.
Podemos encontrar muitas pessoas com "máscaras de bonzinho" para seduzir, conquistar, simplesmente para conseguir o que querem e, depois de satisfeitos, vão embora. Vivem em função da aparência, o que mostra uma pessoa que não consegue gostar de si como é, buscando compensar sua falta de confiança, supervalorizando o belo, o corpo, tanto no outro como em si.
O autoconhecimento e em consequência o crescimento emocional podem levar a um grau de auto-aceitação e autoestima capazes de restabelecer a capacidade de amar aos outros, e principalmente, a si mesmo.