por Edson Toledo
O Estatuto do Menor e Adolescente (ECA) acaba de fazer 25 anos de idade. Por isso, acho bastante oportuno escrever sobre a gravidez na adolescência. Indiscutivelmente a gravidez afeta tantos os jovens quanto as jovens. Porém, hoje trago o foco para as meninas.
Os casos de gravidez na adolescência têm crescido assustadoramente em nosso país.
Segundo os dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 1980 o numero de adolescentes na faixa etária dos 15 e 19 anos grávidas representou um aumento de 15%. Para que possamos ter a dimensão desse aumento, isso significa que cerca de 700 mil meninas se tornarão mães a cada ano no Brasil. Desse total, o que mais assusta é o fato de que 1,3% dos partos são realizados em garotas de 10 a 14 anos. Em relatório divulgado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que em 2000, dos 2,5 milhões de partos realizados em hospitais públicos no país, 26,6% (689 mil) eram de adolescentes.
O problema se torna alarmante quando se sabe que um terço desses bebês serão abandonados praticamente depois dos primeiros dois anos de vida. Refletindo fatalmente em toda uma geração sem oportunidades de crescimento saudável. É preciso que não só as autoridades competentes, mas toda a sociedade acorde urgentemente para esse fato, assumindo a tarefa de proteger a infância e a adolescência e garantir um futuro de educação, crescimento e cidadania. Afinal, é sobre isso que fala o ECA.
Como tudo começa na família, também é essencial que os pais invistam mais tempo para conviver com seus filhos. Sabemos que com a vida corrida de trabalho e as pressões diárias, pais e mães têm delegado a terceiros a preciosa missão de educar e conviver com os filhos. A questão é que os problemas dessa falta de convivência aparecem na pré-adolescência, quando os pais percebem que não "há mais diálogo" com seus filhos.
Também, como é sabido, nessa fase é difícil estabelecer, de uma hora para outra, um vínculo de confiança e afinidade. Por isso, o relacionamento deve ser trabalhado desde a infância ou desde sempre. É essencial mostrar para o filho que ele é uma prioridade na vida de seus pais; mostrar o quanto que ele é querido e amado. Certamente, esse elo poderá garantir que a criança cresça de forma equilibrada e não queira procurar fora de casa, isso é, nas drogas e sexo precoce, por exemplo, compensações emocionais para as suas carências.
Assim, os pais (e por que não, vivemos na era da informação) poderiam orientar sobre métodos contraceptivos, alertar sobre a importância da camisinha e falar das consequências de uma gravidez na adolescência. Também é a oportunidade de falar do sexo inserido em uma relação afetiva e amorosa. Por causa da valorização excessiva do erotismo, especialmente na mídia, muitos jovens veem o sexo de forma mecânica e fugaz, sem sentimento e quase sempre descontextualizada.
Certamente, é possível reduzir e até evitar a gravidez na adolescência, uma questão que já se constitui num problema de saúde pública no Brasil. As precárias condições de nutrição e assistência médica comprometem as gestações dessas meninas, que se sentem hostilizadas pela família, sem qualquer apoio afetivo e emocional, na grande maioria das vezes.
Sabemos que a gravidez na adolescência é realmente uma questão complexa, que deve ser debatida por toda a sociedade, família, governo, escola, médicos, psicólogos. Mas, no dia a dia, os pais já podem evitar esse "salto no escuro" conversando com seus filhos (meninos e meninas) e procurando, caso necessário, a orientação de educadores e psicólogos.