por Tatiana Ades
"Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que encontrasse a imagem, que entre mil, conviesse ao meu desejo. Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo esse? Por que o desejo, por tanto tempo, languidamente?… "
(Roland Barthes – Fragmentos de um Discurso Amoroso)
Neste pequeno trecho de Roland percebemos a perplexidade que o amor causa, assim como o questionamento do porquê nos vincularmos tanto a uma pessoa x e não a outra y, sendo que a y se mostra mais amável e compatível conosco.
O que faz com que nos fixemos com afinco em uma pessoa e essa sensação de amor e vínculo acabe se tornando uma obsessão?
Freud dizia que quando pequenos nos apegamos a diversas imagens, gestos, cheiros, de nossos progenitores, de forma inconsciente nos apegamos a "algo" em um momento de carinho, por exemplo: uma criança pode receber carinho de seu pai, num momento de carência grande, e esse pai possui uma barba ruiva rala. Quando adulta essa pessoa, sem ter a menor consciência do porquê, se vê extasiada por um homem com uma barba semelhante a de seu pai, o inconsciente recebe um estímulo guardado de "carinho", sensação que marcou aquele momento antigo.
E dessa forma, sem entender o porquê, a imagem física fica presa à sensação passada que a pessoa vivenciou e assim cria-se um processo de fixação e até de obsessão.
Somos seguidores de sensações passadas e nem ao menos sabemos disso, por isso ficamos tão perplexos com certas escolhas em relação ao amor que sentimos por uma pessoa e não por outra.
Freud define a fixação como "Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do desenvolvimento aumenta, se a pessoa desenvolveu uma fixação nesse estágio".
Muitas vezes esse processo é repetido, ou seja, quando há um término, a pessoa sem saber por que irá buscar as mesmas características da pessoa anterior.
Imprinting: "copiar" o progenitor e seguí-lo
*Lorenz estava interessado no estudo dos animais no seu contato com a natureza e na forma como sobreviviam nos ambientes reais.
Sugeriu que as espécies animais estão geneticamente construídas para aprenderem tipos específicos de informação que são importantes à sua sobrevivência. Isso se dá já nas primeiras horas de vida por um processo demoninado de imprinting, que é decisivo para o desenvolvimento dos animais, e que marcará toda a vida deles. Um exemplo disso, é quando um animal pode seguir outro que não a sua mãe verdadeira, caso receba estímulos e cuidados desse outro animal. Esse animal passa então a assimilar esse outro como protetor e com a sensação de suposto progenitor.
O imprinting ocorre também em seres humanos, ou seja um processo de fixação durante a idade infantil, que marcará sua mente por toda a vida.
* Konrad Zacharias Lorenz (Viena, 7 de Novembro de 1903 – Viena, 27 de Fevereiro de 1989) foi um zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco.