por Patricia Gebrim
“Antes de postar, questione…”
Observo com tristeza a onda sombria de preconceito e separatividade que se derrama nas redes sociais, anteriormente e posteriormente ao resultado da última eleição. E agora nesse momento de policrise: crise política, econômica, ética e social.
As redes sociais estão cada vez mais agressivas. Um comentário infeliz ou preconceituoso pode se tornar um viral de efeito exponencial capaz de destruir toda a vida de uma pessoa em minutos.
É verdade que temos convivido com desafios imensos e um panorama um tanto quanto sombrio.
Medo torna-se base do ódio e do preconceito
É verdade que isso gera medo. Um medo que, quando não é enfrentado com consciência, torna-se a base do ódio e preconceito que vem sendo derramados sobre todos nós.
Isso me faz pensar no quão necessário e séria é essa questão do uso do Facebook, por exemplo. O Face nos oferece algo muito precioso: uma maravilhosa tela em branco. Mas precisamos olhar de maneira mais crítica e responsável para a maneira como estamos escolhendo preenchê-la. As mídias sociais são um fenômeno ainda muito recente na história da humanidade, o que pode explicar tanta distorção.
Tenho a esperança de que possamos aprender a utilizá-la de maneira mais saudável e proveitosa. Para que isso aconteça, é fundamental que sejamos capazes de aprender com os erros que temos cometido. Temos derramado sobre a tela do computador nossas frustrações, anseios, medos e distorções, muitas vezes sem medir o alcance de nossas postagens, agredindo e invadindo milhares de pessoas que estão vulneráveis às mensagens que surgem em frente a seus olhos.
O que ganhamos com isso?
Estamos ganhando ou perdendo amigos?
Estamos crescendo ou vomitando conteúdos mal digeridos?
Precisamos parar de postar impulsivamente, e passar a escolher de maneira mais cuidadosa o que escolhemos disseminar.
Antes de postar, questione…
Deveríamos nos perguntar sempre, antes de qualquer postagem:
– Isso fará bem a alguém? É útil? É verdadeiro?
De que serve julgar e criticar? Querer manipular as pessoas? Moldar a realidade?
Se fôssemos conscientes o suficiente para compreender que a realidade externa é uma criação coletiva que brota das profundezas de todos nós (sem exceções), perceberíamos que não há sentido algum na separatividade, em culpar o outro pelo que não nos agrada. Não existe um lado certo e um lado errado. Um lado bom e um lado mau. Como no caso do resultado da recente eleição: ma parte do país vítima e outra algoz. Somos um todo. Todos nós, em nosso íntimo, quando deitamos em nossas camas antes de dormir (ou nas redes ao relento, nos sacos de dormir, na grama, na calçada sob cobertores para tentar fugir do frio…), todos nós desejamos profundamente a mesma coisa: uma vida digna, feita de paz, segurança e alegria. Desejamos amar e sermos amados. Não transforme os “outros” em uma massa informe e sem contornos. Os “outros” são pessoas como você, com sonhos, desejos, anseios, medos e vulnerabilidades. Sentem cócegas e sentem dor.
Para que sejamos capazes de atravessar as ilusões e criar união e paz entre todos, o bem e o mal precisam ser integrados “dentro” de cada um de nós, de forma que a luz abrace e dissolva a sombra. Sem essa aceitação de nossa própria escuridão, sem essa compreensão, acabamos projetando nossos próprios aspectos sombrios nos outros. Colocamos na realidade externa aquilo que não conseguimos equilibrar dentro de nós. E assim negamos a nós mesmos. Negamos nossa própria avareza, nosso egoísmo, nossa ignorância. Fingimos que isso não existe dentro de nós. E então é o “outro” que é ignorante, egoísta, avarento. Nunca nós.
– O “outro” é a sombra e eu sou apenas luz.
Essa é a ilusão que tem aprisionado tantos de nós. A mentira que contamos para nós mesmos, na tentativa de nos acreditarmos perfeitos, ou quase.
Acreditar nessa falsa percepção, baseada numa ilusória separatividade, nos têm permitido justificar atos cruéis, agressivos e injustos.
Pelo bem de todos nós, de nosso país, de nosso planeta, precisamos ser corajosos o suficiente para acolher em nosso íntimo tudo o que nos pertence. O claro e o escuro que nos habita, libertando todas as outras pessoas, para que façam o mesmo.
Esse é o desafio para cada um de nós neste momento. O passo de crescimento e o movimento que poderia iniciar uma verdadeira revolução, independente de partidos políticos ou governantes.
É momento de cada um de nós se tornar seu próprio governante e fazer o que já deveríamos estar fazendo há muito tempo.