por Patricia Gebrim
Quando comecei a escrever este artigo comecei a rir sozinha… me lembrei de um e-mail de um irado leitor que certa vez me escreveu dizendo que eu parecia uma “catequizadora” e precisava “cair na real”!!! …rs … ah … é mesmo impossível agradar a todos! Este artigo com certeza o desagradará novamente . Mas estou certa de que não faltarão aos desejosos muitas pessoas que escrevem a partir de opiniões diversas das minhas, cada uma se expressando de acordo com a própria essência, com as próprias crenças.
Ao meu ver a diversidade é saudável. Existem os leitores românticos, os ácidos, os céticos, os crentes, os realistas, os sonhadores… assim sendo, existe espaço para todo tipo de escritor… isso me consolou um pouco.
Quanto a mim, resta apenas ser quem sou, e quem sou é essa pessoa que ainda acredita que “fazer o bem faz bem” … fazer o quê?
Eu me considero uma pessoa privilegiada. Como sabem, sou psicóloga. Meu trabalho consiste basicamente em estar com pessoas, ouvir suas angústias, suas alegrias, seus medos … e em tentar ajudá-las a reencontrarem em si próprias aquele lugar silencioso onde moram as respostas e a paz que tanto procuram para suas vidas.
Algumas vezes já me perguntaram se eu não ficava “mal” por “ouvir problemas” o dia todo (estou usando as palavras exatamente como foram ditas). E foi então que eu reforcei a minha teoria que virou título deste artigo.
– Não, eu não fico mal!
Isso foi uma das coisas importantes que aprendi com meu trabalho: quando uma pessoa tira de si própria o foco, quando não pensa apenas nos próprios problemas, nas próprias questões e se volta para o outro com o intuito de fazer algum bem, por incrível que pareça, isso lhe faz bem também.
Por que isso acontece?
A meu ver podemos encontrar mais de uma explicação (neste mundo tudo vem em “parzinhos de opostos”, nada é só mau ou só bom!).
Podemos pensar em uma explicação menor, bem egoísta… que seria mais ou menos assim:
– Ah, você fica bem ao ajudar o outro porque se sente “bonzinho”, valorizado… o que quer dizer que na verdade queria mesmo é fazer bem para si mesmo, e não para o outro!… Bingo! (Sabe que isso pode muito bem ser uma verdade, e às vezes de fato é?)
Mas … vamos procurar o outro lado? … Também pode ser que “fazer bem” nos faça bem porque ao, nos voltar para o outro, estamos ultrapassando essa imensa separatividade que cria uma linha de desamor e medo entre as pessoas. Pense! Somos partes de um todo. Se é verdade que a vida é indivisível, um “todo”, que funciona como uma vasta e milagrosa rede de relações, não há sentido algum em querermos o nosso bem às custas do bem do outro. Seria como se jogássemos o nosso lixo doméstico nos reservatórios da água que nós mesmos bebemos! (que pena, ainda fazemos isso)
Não há como ficarmos “bem” quando olhamos ao redor e existe tanto sofrimento. Por mais muros e blindagens que criemos, é impossível, a não ser que nos tornemos insanos! É claro que podemos fazer o nosso melhor, encontrar um ponto dentro de nós que nos permita certa paz e seguir adiante mesmo em meio a tantos desafios … mas não podemos ignorar o que nos circunda.
Para colorir um pouco este artigo cito uma singela passagem de um delicioso livro do Fernando Sabino que leio no momento. O livro chama-se “O menino no espelho” . Este trechinho fala de um menino que encontra um homem “que sabe das coisas”… aí vai um pedacinho do diálogo entre os dois:
“ – Você quer conhecer o segredo de ser um menino feliz para o resto de sua vida?
– Quero _ respondi.
O segredo se resumia em três palavras, que ele pronunciou com intensidade, mãos nos meus ombros e olhos nos meus olhos:
– "Pense nos outros”
Achei fantástico!
“Pense nos outros“ … Deixem-me, no entanto, tornar claro o que quero dizer com “fazer o bem”.
A primeira coisa que pode nos ocorrer é que para que façamos o bem precisamos ter alguma atitude humanitária. Claro! Afiliar-se a uma ONG, entrar em um grupo de voluntariado, engajar-se em trabalhos sociais … É claro que esses são caminhos bacanas aos que se sentirem sintonizados com eles, afinal existe muito trabalho a ser feito!
Mas não é disso que estou falando
No meu entender, de pouco adianta passar o dia inteiro trabalhando para ajudar as crianças carentes se chegamos em casa cansados e mal damos atenção a nossos filhos. De pouco adianta ter lindos objetivos humanitários se distribuímos farpas e mau humor por onde passamos.
“Fazer o bem”, a meu ver, é algo que pode começar sem que você precise mudar nada em sua rotina.
Experimente! Faça o que sempre fez, mas com outra qualidade. Com mais respeito, com mais atenção, mais olho no olho… mais gentileza. Tire o foco de você mesmo, dessa crença de que a coisa mais importante do mundo é a “sua” felicidade.
Comece a prestar mais atenção nas pessoas e, aos poucos – você verá – algo mágico começará a acontecer. Aos poucos o mundo se tornará mais gentil ao seu redor. E o mundo se tornará mais cuidadoso ao seu redor. E surgirão olhos que olharão também em sua direção…
Aah… eu queria saber explicar tudo isso tão melhor mas… vejam… sou imperfeita… resta a minha esperança de que você capte por trás de minhas palavras o seu verdadeiro significado.
Um último aviso (são tantas as armadilhas …).
“Fazer o bem” inclui fazer o bem a si mesmo!!!
Não adianta nada querer “fazer o bem” ao outro às custas de abandonar a si próprio. Para muitas pessoas o melhor “bem” que podem fazer é aprender a cuidar melhor de si mesmos, aprender a se respeitar mais, a ser mais gentil com seu próprio ser. Não podemos oferecer o que não temos, não é?
Espero que este artigo os inspire.