por Renato Miranda
Os Jogos Pan-Americanos de Toronto demonstram novamente uma típica realidade do esporte brasileiro: temos um bom destaque nas Américas, mas ainda estamos distantes dos principais países do esporte mundial. Para tal constatação basta verificarmos o desempenho de nosso país em Jogos Pan-Americanos e em eventos mundiais e olímpicos.
Mesmo considerando todo evento "regional" (sul-americano e pan-americano) como menos exigente, fica claro o quanto ainda nós temos de avançar em termos de prática esportiva e desempenhos olímpicos.
Em hipótese, por sua grandiosidade geográfica, diversidade populacional, condição climática entre outras características pode-se pensar um país com uma prática esportiva geral (esporte escolar, iniciação esportiva, lazer esportivo, esporte como exercício físico e preventivo) e de alto desempenho com muito mais repercussão.
Temos condições de revelarmos um número significativo de atletas e poderíamos fazer como os Estados Unidos: Utilizar os Jogos Pan-Americanos como oportunidade de revelar e testar novos talentos. Se isso acontece com um ou outro esporte (por exemplo, vôlei e futebol) por que não o fazemos em outros esportes?
Basicamente por que nossos jovens têm pouca atração pelos esportes menos populares em função de pouca: oportunidade de prática, divulgação, importância social e reconhecimento dos atletas.
Ademais surge a questão: como sobreviver (e viver bem!) sendo atleta profissional? Arrisco a dizer que mesmo no futebol, basquete e voleibol (para falar dos mais conhecidos) não é fácil. Agora imaginemos no handebol, judô, tênis, natação, ginástica e tantos outros.
Um maior número de praticantes em esporte desponta com a consagração de uma cultura que reconhece e valoriza o esporte como atividade importante para a vida das pessoas e para o país. Com um maior número de praticantes maior a possibilidade de surgir talentos que queiram se dedicar profissionalmente. Este é um clichê que por mais óbvio que pareça é um "caminho" que ainda não o percorremos de maneira satisfatória.
Uma cultura esportiva maciça começa com infraestrutura adequada (escolas com equipamentos esportivos funcionais, clubes e associações esportivas bem equipadas em grande número, instalações públicas de qualidade para as diversas modalidades), oportunidade (facilitação de acesso à prática das diferentes modalidades e formar profissionais de alta qualidade para trabalharem em todo país.
Nota-se que logo ao depararmos com o primeiro termo (infraestrutura) já há sinais que há algo errado no Brasil. Visite uma faculdade de educação física e desportos. Aposto que será algo decepcionante. Detalhe: vá com uma lista dos esportes olímpicos e veja se existe instalação que se assemelhe com uma boa possibilidade para a prática de esportes. Depois verifique o quanto se estuda de esportes olímpicos. Mais decepção!
Visite um grande clube de futebol (não vou tampouco considerar clube de cidade média!) e veja as instalações olímpicas. Salvo o esforço (olímpico) de um ou outro departamento de clube, você também não encontrará outra palavra a não ser decepção.
Ademais, grande parte (grande mesmo!) de jovens atletas brasileiros com potencial, ao chegarem à idade universitária (por volta dos 18 e 19 anos) são "estimulados" (pelas circunstâncias e família) a abandonarem o esporte, pois "chegou a hora de cuidar da vida e entrar para a universidade".
Enquanto nos Estados Unidos o esporte é uma das possíveis portas para se ingressar em uma universidade aqui, no Brasil, o esporte é um estorvo, um impedimento para se tentar uma outra possível carreira. Estudo e treino esportivo tornam-se antagônicos! Ou seja, na idade em que poderíamos estar conhecendo novos talentos, os mesmos estão "se aposentando".
Para mudar tal realidade: incentivo permanente e acesso ao esporte independentemente dos motivos que levam à sua prática.
A teoria é simples, a prática nem tanto. É preciso fazer muito para nossa realidade mudar. Os Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro servirão como medida real para avaliarmos o quanto ainda estamos longe de um caminho que poderia estar tão perto… Tão longe!