por Danilo Baltieri
Resposta: Existem vários tipos de canabinóides naturais e sintéticos que podem ser obtidos ou derivados da própria planta cannabis sativa. Essa planta vem sendo utilizada, há séculos, pela humanidade para diversos fins, tais como, alimentação, rituais religiosos, práticas medicinais e propostas recreativas. O primeiro relato medicinal da planta cannabis foi atribuído aos chineses, que descreveram os potenciais terapêuticos dessa planta há cerca de 2.000 anos.
Aplicação terapêutica da maconha tem controvérsias
A aplicação terapêutica de alguns canabinóides é tema bastante controverso porque, apesar de algumas propriedades terapêuticas dos mesmos, esses compostos podem apresentar também efeitos ditos “psicotrópricos”, podendo induzir o abuso, a dependência, efeitos alucinogênicos e alterações cognitivas, principalmente através do consumo crônico.
A obtenção sintética de compostos do tipo canabinóides é uma área de grande interesse entre pesquisadores de todo o mundo. Indústrias e laboratórios farmacêuticos desenvolveram fármacos baseados nas estruturas químicas de canabinóides, mas as dificuldades para impedir seus efeitos “psicotrópicos” têm sido grandes. Uma exceção tem sido o Nabilone®, uma potente substância canabinóide, que tem apresentado bons resultados como anti-emético nos Estados Unidos da América e outros países. Dois exemplos de fármacos desenvolvidos com base em canabinóides são: o Marinol® (Dronabinol) elaborado pelo laboratório Roxane (EUA) e o Cesamet® (Nabilone) elaborado pelo laboratório Eli Lilly (EUA). Esses medicamentos têm sido comercializados para o controle da náusea, produzidas durante o tratamento de quimioterapia e como estimulantes do apetite, durante processos de anorexia desenvolvidos em pacientes com AIDS, nos EUA.
Efeitos terapêuticos
Os canabinóides têm efeitos sobre diversos órgãos e sistemas orgânicos, como o imunológico e reprodutivo. No entanto, os principais efeitos farmacológicos têm sido associados ao Sistema Nervoso Central. Pesquisas têm demonstrado a potencial utilidade médica dos canabinóides através dos seus efeitos analgésicos, controle de espasmos musculares em portadores de esclerose múltipla, tratamento do glaucoma, efeito broncodilatador, efeito anticonvulsivante, etc. No entanto, apesar desses potenciais efeitos “terapêuticos”, os principais efeitos “colaterais” têm sido: prejuízos de cognição e atenção, sintomas depressivos, efeitos sedativos, alucinogênicos, dentre outros.
Dessa forma, não imagine que o cigarro de maconha que muitas pessoas fumam possa ser utilizado com alguma proposta terapêutica, de forma séria, segura e eficaz. Isso não é verdade. O que sabemos é que existem vários compostos do tipo canabinóides que apresentam propriedades terapêuticas, embora também apresentem efeitos colaterais importantes e preocupantes.
Estudos sérios e onerosos estão sendo desenvolvidos ao redor do mundo para estabelecer relações entre a estrutura química de diversos compostos canabinóides e sua atividade sobre o Sistema Nervoso Central e demais sistemas orgânicos. Os efeitos “psicotrópicos”, como os citados acima, impossibilitam o uso de vários compostos com finalidades terapêuticas.
Abaixo forneço duas interessantes recomendações de leitura para sua apreciação:
Degenhardt, L., & Hall, W. D. (2008). The adverse effects of cannabinoids: implications for use of medical marijuana. Canadian Medical Association Journal, 178(13), 1685-1686.
Honório, K.M., Arroio A. & Ferreira da Silva, A.B. (2006). Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Química Nova, 29 (2), 318-325.