por Sandra Vasques
“Eu me masturbo às vezes de uma a três vezes num só dia. No entanto, não sinto tanto prazer na relação sexual como ao penetrar na vagina. A penetração não me da tanto prazer como a mão. Isso me preocupa muito, como faço para me curar?”
Resposta: O orgasmo é resultado de estímulos físicos e psicoemocionais.
Assim, é preciso entender ambos, para compreender o que pode levar, tanto homens como mulheres, a ter mais prazer com a masturbação e também ajuda-los a variar essa possibilidade. Aliás, essa é uma queixa mais frequente das mulheres. Elas reclamam muito mais dessa dificuldade em atingir o orgasmo com a penetração, se comparado ao momento em que estão sozinhas se masturbando.
Nem todas as pessoas se permitem à masturbação. Aliás, muitas mulheres só admitem que o parceiro toque seu clitóris e as conduza ao orgasmo. Elas se proíbem de fazê-lo. Essa situação é resultado de muita repressão sexual sobre as mulheres, as induzindo a sentir-se sujas, vulgares, se desejarem o prazer solitário.
Agora seria muito bom se todos, homens e mulheres começassem a se perguntar:
Por que é errado me acariciar e ter sensações de prazer?
Quem me disse isso?
Será que devo dar crédito e importância a essa história?
Acredito que ao não encontrarem respostas coerentes com o direito que têm sobre o próprio corpo, poderiam se questionar e começar a abrir novos caminhos para vivenciar novas, agradáveis e legítimas sensações prazerosas.
Assim, quando uma pessoa se permite e fica só, se acariciando, se tocando, tem a liberdade de explorar seu corpo, do jeito que gosta mais, no ritmo que mais a agrada, na posição que mais a excita, no ritmo e tempo necessários para alcançar aquele grau de excitação que resulta no orgasmo – na mulher contrações rítmicas da vagina, e no homem, dos músculos pubianos, a ejaculação e, em ambos, sensações intensas de prazer.
Quando estão sós, estão livres do olhar de outro ser, que poderia julgá-los, avalia-los, criticá-los, sem correr o risco de serem abandonados, se reprovados. E então chegamos ao medo tão cruel de sermos rejeitados, e acabarmos sós, ou tão ruim quanto, humilhados. E esse medo vai interferir de formas diferentes para homens e mulheres que encontram na masturbação, o melhor caminho para o prazer.
Culturalmente, homens e mulheres sofrem pressões desleais e cruéis, no sentido de serem controlados em relação à sua sexualidade. Apesar do peso maior cair sobre as mulheres, que só recentemente têm ganhado o direito de admitir que gostam sim de sexo e querem sim transar só por prazer, os homens também são penalizados. Existe uma mensagem passada nas entrelinhas de que o homem tem que saber tudo sobre sexo, tem que estar sempre disponível, sempre com vontade e tem sempre dar conta do recado. E mais, tem que fazer a mulher gozar sempre, como se tivesse um GPS mental que o conduzisse pelo corpo da mulher indicando o caminho certo para o prazer dela. Imagine o tamanho da responsabilidade, da pressão e do medo.
Se um homem acredita nessas bobagens e não as questiona, vai ver o sexo mais como uma prova, um teste de masculinidade, do que como um momento de desfrutar o prazer de estar em companhia de alguém interessante, estimulante e excitante. E para ter prazer com alguém é preciso antes que a pessoa conheça seu corpo, indique o que prefere, e se entregue às próprias sensações de prazer, que se permita desfrutar desse momento rico de trocas, que se permita brincar com a fantasia e a realidade, numa dança divertida, erótica, romântica, bem humorada que o momento enfim… possibilitar.
E as mulheres, muitas acabam tendo mais prazer na masturbação, por medo de dizer ao parceiro o que querem, preferem, por medo de serem julgadas vulgares. Mas há um medo pior, que pode levá-las a não dizer nada. É que muitos homens se sentem ofendidos, inseguros, quando a mulher tenta lhes dizer que uma carícia que eles estão fazendo precisa ser um pouco diferente, ficam bravos, se retraem. A mulher então desiste de falar. Se masturba e tem prazer; e depois transa com aquele homem e finge que teve prazer. E tudo isso porque os dois ficaram com medo, ele da reprovação e ela de ser abandonada. Que resultado lamentável!
Sentir prazer com a masturbação é um direito e não há nada de errado nisso. Mas, para ter tanto ou mais prazer numa relação sexual é preciso primeiro acreditar nesse direito, perder o medo e se permitir. Com certeza há grandes e saborosas descobertas a se fazer.