por Patricia Gebrim
Você já percebeu o medo que nós temos dessa coisa chamada intimidade?
Parece que toda vez que alguém começa a chegar perto demais de nós, acabamos dando um jeito de nos afastar. Às vezes fazemos isso conscientemente, dizendo que não queremos mesmo nos envolver. Mas muitas vezes agimos assim sem perceber.
Pense nas pessoas com as quais você convive no dia-a-dia, as pessoas das quais você poderia estar mais perto e desfrutar de um relacionamento próximo e acolhedor. Você se sente íntimo dessas pessoas? Quantas pessoas em sua vida conhecem você intimamente? A quantas pessoas você se revela totalmente?
Marido e mulher, muitas vezes, passam 20, 30, 40 (!) anos juntos sem nunca se tornarem íntimos. Passam anos e anos um ao lado do outro, mas não sabem o que se passa no íntimo de seu parceiro. Não conhecem os anseios, os sonhos, os medos daquela pessoa que dorme, dia após dia, na mesma cama, bem ao seu lado.
É fácil perceber essa dança nos relacionamentos. Em geral é assim que acontece …
Marcio conhece Clara e se encanta com ela. Eles começam a se relacionar e Marcio tenta aproximar-se de Clara a todo custo. Clara se mantém a certa distância, o que impede que uma intimidade se estabeleça de maneira mais profunda. Marcio insiste e insiste, até que Clara começa a relaxar e se abrir, a abrir as portas de seu coração para que Marcio possa entrar.
Nesse exato momento, um momento mágico em que a intimidade poderia se estabelecer em um nível mais profundo, algo acontece e Marcio se torna mais distante. Parece que já não quer estar tão próximo (agora que ela se abriu, se ele continuar aberto serão íntimos de verdade e ele não banca isso!). Frente à abertura de Clara, inconscientemente ele se afasta fugindo da intimidade.
Clara então sofre, tenta se aproximar, insiste por certo tempo, e então começa a se desencantar. Uma frieza vai surgindo, ela começa a se distanciar. Nesse exato momento, em que Clara se fecha, algo parece reacender em Marcio, que se abre novamente. E por aí vai… Deu para perceber?
É de enlouquecer qualquer um!!!!!
Perceba o quanto todos nós vivemos isso de vez em quando; perceba como, muitas vezes, basta que um casal estabeleça um clima de afetividade e harmonia, basta que dois corações comecem a se abrir e algo acontece. Como se uma alarme de alerta começasse a tocar:
– Perigo!!!Intimidade à vista!!!!
Então uma briga surge por um motivo bobo qualquer, o suficiente para que o casal volte à uma distancia “segura” novamente. Longe da tão temida intimidade.
Porque temos tanto medo dessa tal intimidade?
Temos medo porque associamos intimidade com vulnerabilidade. Se o outro for capaz de olhar tão profundamente dentro de mim, saberá quem sou, conhecerá minhas fraquezas. E se assim for, irá me rejeitar, ou pior, se aproveitará de mim. Esse é o medo que nos faz fugir do que mais ansiamos, criando um círculo vicioso de relacionamentos superficiais, baseados no medo e na desconfiança, relacionamentos que nos mantêm insatisfeitos e sós.
O triste nisso tudo é que, no fundo, todos nós ansiamos por intimidade. Todos desejamos amar e ser amados, desejamos um relacionamento onde possamos ser exatamente quem somos, desejamos um encontro mais profundo, um encontro onde não só nossos corpos ou nossos pensamentos conversem. No fundo desejamos uma troca de alma. Desejamos que o outro olhe bem dentro dos nossos olhos e pergunte:
– Quem é você hoje?
Para criar mais intimidade nos relacionamentos é preciso que sejamos capazes de correr riscos. Mesmo se nos ferirmos de vez em quando, ao nos abrirmos para mais intimidade também nos abriremos para recebermos mais afeto e consideração. Nos abriremos para amar e sermos amados pelo que somos, sem a necessidade de máscaras ou subterfúgios de afastamentos. Sem precisar nos esconder o tempo todo.
Ouça, para ser amado você não precisa ser forte, invulnerável ou perfeito. Basta ser quem você verdadeiramente é. Corra o risco de permitir que o outro enxergue o que se passa dentro de você.
Um amor só é real e válido quando sobrevive a esse olhar!
Se o preço para o amor for a negação do que se passa dentro de nós, acredite, não vale a pena…