por Ceres Araujo
A tarefa de colocar limites aos adolescentes é árdua para pais e professores, principalmente nos dias de hoje. Estão longe os tempos repressores das cintas e das palmatórias. Felizmente, pertencem apenas ao "museu" da memória coletiva.
Na trajetória do desenvolvimento humano, cabe à adolescência, o confronto com o mundo dos pais e dos adultos em geral, para buscar a própria autonomia.
O desejo de independência, de dirigir o seu destino é louvável e muito desejável, mas nem sempre pode ser satisfeito em todas as ocasiões. É exatamente nesse ponto que surgem os conflitos, pela dificuldade imensa de lidar com frustração que os jovens tendem a apresentar na atualidade.
A baixa tolerância à frustração observada hoje não só em adolescentes, mas já em bebês e crianças e também em adultos jovens, decorre, a meu ver, de circunstâncias dos nossos tempos atuais, onde muitos pais não conseguem colocar limites adequados aos filhos. Ninguém nasce sabendo tolerar frustração. Esse é um aprendizado que se inicia no começo da vida.
Nas primeiras semanas de vida, o bebê estabelece o próprio ritmo de sono e de mamada, época onde a amamentação é em livre demanda, isto é o leite deve ser oferecido sempre que o bebê solicitar, sem seguir horários predeterminados. Ao redor do terceiro mês de vida é possível e necessário estabelecer os horários das mamadas e o bebê começa a aprender a tolerar esperas, base para a aquisição da tolerância à frustração posterior.
Mas, entre nós, em muitos casos, quando um bebê chora, a mãe vai imediatamente correndo atendê-lo, pois identifica choro com sofrimento e não deixa o filho aprender a tolerar esperas pequenas. Depois, existe a tendência de se continuar nessa linha: as crianças são satisfeitas em todos os seus desejos, muitas vezes adivinhadas em seus quereres, se condicionam a buscar o prazer imediato de suas necessidades e não aceitam interdições. Dessa maneira, não aprendem a aguentar tensões internas, não toleram esperas e não adquirem a possibilidade de lidar com frustrações.
É nesse contexto que muitas vezes se transformam em crianças difíceis, autoritárias, prepotentes, que não admitem ser contrariadas que não conhecem limites. Pais cansados, transformam o "não" em "sim", quando deveriam manter o "não". A família tende a funcionar como uma democracia, onde a criança tem voz ativa ou, não raro, funciona de fato, sob a égide do filiarcado, onde as crianças mandam. Nessa situação, os pais não são figuras de autoridade. Desse tipo de funcionamento na infância, surgem adolescentes sempre problemáticos.
Adolescência normal
A adolescência normal é a época de se fazer confrontos com os pais, para buscar a própria autonomia. As normas, as regras e mesmo princípios e valores dos pais passam a ser questionados e muitas vezes desobedecidos, para que o jovem descubra o que lhe serve e o que não combina com quem ele acha que é. É uma época de transição, marcada por experiências pessoais que nem sempre dão muito certo, mas que o adolescente tem direito de fazer. Mas, é importante lembrar que só desobedece quem aprendeu a obedecer.
A desobediência do adolescente que foi uma criança obediente é desejável e, portanto, precisa ser vista com bons olhos, pois é a base para posturas de afirmação positiva na vida adulta. Na relação pais-adolescente, surge a importância dos diálogos constantes, dos acordos e das expectativas positivas frente ao comportamento do filho. Ele precisa ser ouvido, tem direito a réplicas e a tréplicas. Por parte dos pais, sermões, imposições, castigos não adiantam e, pior, criam revolta e aumentam a possibilidade dos embates.
O adolescente precisa de limites e, muitas vezes, interdições em relação a seus desejos, pois vive uma fase de mudança e de instabilidade e, muitas vezes nem sabe bem o que quer. Os pais sempre serão os modelos primários para identidade, mas se foram figuras idealizadas (próximas de Deus) na infância de seus filhos, agora na adolescência deles, sofrerão uma desidealização necessária, para que o filho consiga sair do papel de filho e buscar a própria identidade. Isso também está no cerne dos conflitos na relação entre eles.
Muita paciência é requerida de ambas as partes na relação pais-adolescente. Se nas discussões, pelas características próprias à idade, o adolescente apresentar episódios de descontrole, tal evento jamais deverá determinar descontrole igual nos pais. Muita calma é desejável para que os acordos sejam firmados.
Mentiras são inadmissíveis, pois podem criar situações perigosas para o jovem. Os pais têm que ter conhecimento de onde está seu filho e ter segurança a respeito da conduta dele. Confiança incondicional deve permear essa inter-relação. Porém, se mentiras não são admissíveis, omissões devem ser toleradas por parte dos pais. Condutas omitidas dos adolescentes geralmente são um treino de autonomia e, além do mais, ele precisa aprender também a ser responsável pelas consequências de seu comportamento.
No que diz respeito à colocação de limites a adolescentes-problema, ela precisará ser mediada por um profissional de ajuda, que possa ter a competência para fazer a mediação entre pais, que não se constituíram como autoridade, e filhos desorientados. Com frequência, um grande trabalho terapêutico terá que ser feito, para definir os papeis e as condutas esperadas.