por Antônio Carlos Amador
Para quem nos sentimos importantes hoje?
Para as pessoas que se esforçam em compreender-nos?
E será que quando nos sentimos compreendidos, nos sentimos amados?
“Tudo o que eu peço é que você compreenda como me sinto!”
Isso não parece um pedido descabido.
A compreensão é, possivelmente, o presente mais caro que alguém pode nos dar. Não estamos nos referindo ao valor em dinheiro ou em coisas, mas à doação de nós mesmos. Quando somos bons ouvintes, não somente com os ouvidos, mas também com os olhos e a intuição, podemos permitir que as outras pessoas se comuniquem, verificando se compreendemos bem e demonstrando isso.
Uma das qualidades da compreensão é neutralizar a solidão, mesmo que isso ocorra em ocasiões de curta duração. Ficamos no lado oposto da solidão e quando a frequência e a duração desses momentos vai aumentando isso indica que estamos gradativamente nos afastando dela.
É evidente que um relacionamento afetivo nem sempre se caracteriza por um acordo total entre as partes ou por uma similaridade de estilo de vida. Nem sempre podemos esperar que aqueles que nos são mais próximos concordem com tudo o que dizemos. Aliás, a base de um relacionamento saudável é a capacidade de discordar, sem deixar de transmitir uma mensagem de compreensão. A capacidade de sermos claros, diretos e honestos em nossa comunicação afetará a maneira como a outra pessoa perceberá e reagirá. A clareza exige que estejamos bem atentos àquilo que acontece conosco internamente e a maneira direta e honesta demonstrará quanto queremos ou podemos revelar sobre nós.
Nesse processo de procurar compreensão pode acontecer de nos doarmos às outras pessoas com a nossa presença. Mas, esse presente do “eu” nem sempre é apreciado, aceito e compreendido pelo que é.
Compreensivelmente, as crianças de vez em quando encontram dificuldades para escolher entre chocolates e pessoas, o mesmo acontecendo com os adultos num nível mais sutil e por motivos diferentes. Não podemos dar nada mais pessoal para alguém que nossos sentimentos e fantasias. Dar-nos significa mostrar o que está vivo em nós no momento, nossas ideias, opiniões, gostos, desgostos, preferências, desejos, sonhos, fantasias (que são, talvez, as mais difíceis de partilhar) e também expressar tristeza, sofrimento, medo, raiva, alegria, riso ou procurar algum contato.
Além das fantasias, a coisa mais pessoal que existe em nós são os sentimentos. Os pensamentos e ideias que partilhamos estão frequentemente sujeitos a julgamento e incompreensão, de modo que a perspectiva de tal reação pode às vezes fazer-nos hesitar em partilhá-los. Existe ainda uma relutância maior em dar nossos sentimentos, porque pode significar partilhar o componente mais pessoal de nossa pessoa, que estão no fundo de nosso ser. Mas, quando nos soltamos e nos entregamos nessa doação podemos ficar mais livres, e cheios de vida.
Por outro lado, as pessoas que têm disponibilidade para nos escutar não apenas estão se doando em reciprocidade, mas serão capazes de viver mais plenamente. A natureza do dar dessas pessoas poderá eventualmente ser difícil, porque ao escutarem elas terão que por de lado suas inclinações, preconceitos e noções prévias a nosso respeito, num esforço para se identificar com a nossa maneira de sentir e pensar. Isso poderá demandar um esforço para que elas sacrifiquem toda tendência a julgar, dar conselhos, fazer preleções, bancar moralistas, criticar ou interpretar erroneamente. Elas perceberão como é importante para nós sermos aceitos e apreciados incondicionalmente pelo que somos. E descobrirão que no processo de se esforçarem para nos compreender, novas energias começam a fluir nelas também. E elas entrarão em maior contato com seus próprios sentimentos, podendo experimentar a possibilidade de serem profundamente apreciadas e amadas pelo que são.