por Danilo Baltieri

Depoimento de um leitor:

“Tenho um problema que, pelo meu ponto de vista, é decorrente do uso de cocaína e álcool. De um uns dois anos pra cá, tenho a sensação de que estou cheirando mal. Eu mesmo não sinto nada. Geralmente quando estou no trabalho, ou até mesmo perto de amigos, eles se sentem incomodados com a minha presença. Falo isso porque toda vez que estou perto de alguém, a pessoa fica fungando ou até mesmo esfregando o nariz, olhando com cara feia para mim e esfregando o nariz. Você deve estar pensando que é coisa da minha cabeça ou até neurose, mas não é! Estou sofrendo muito com isso e já não sei mais o que fazer. Preciso de ajuda. Parei de usar cocaína em 26/09/2016".

Resposta: Vamos, primeiramente, considerar que uma pessoa apresenta queixas de estar frequentemente sentindo cheiros desagradáveis. Estes cheiros podem ser sentidos como provenientes do meio externo, do próprio nariz, ou mesmo de frascos de perfumes antigamente percebidos como cheiros bons ou, no mínimo, não desagradáveis. A isso podemos dar o nome de disfunção sensorial olfativa.

Disfunções sensoriais envolvendo o olfato são relativamente comuns e são motivos corriqueiros de busca por auxílio médico especializado.

Na verdade, as queixas olfativas comumente são de natureza quantitativa (principalmente, queixas de redução na capacidade para sentir cheiros) e/ou de natureza qualitativa (principalmente, sensação de sentir cheiros ruins dentro do nariz ou mesmo fora).

As disfunções quantitativas podem ser assim classificadas:

a) anosmia: inabilidade para detectar quaisquer sensações olfativas;

b) hiposmia: redução na sensibilidade aos odores.

O termo disosmia tem sido utilizado para designar as disfunções qualitativas do sentido olfativo e pode ser assim classificada:

a) Cacosmia: presença de um odor desagradável e real, devido, principalmente, às infecções ativas das vias respiratórias;

b) Parosmia ou troposmia: a sensação distorcida de desprazer quando uma fragrância é apresentada ao portador. Trata-se de uma distorção da percepção.

c) Fantosmia, ou alucinação olfativa: a percepção de odores, quando no ambiente, não existe qualquer estímulo que explique tal percepção.

Infelizmente, até mesmo na literatura científica, os termos acima apresentam-se com significados diferentes e intermutáveis. Mas, para a proposta desta redação, consideraremos a parosmia como a disfunção olfativa em que odores desagradáveis são sentidos na presença de odores reais não desagradáveis, e a fantosmia como a disfunção olfativa onde odores desagradáveis são sentidos na ausência de quaisquer odores reais.

Existem diversas causas para tais sintomas que precisam ser adequadamente investigadas por médico especialista. Primeiramente, o médico otorrinolaringologista deve ser consultado para exames.

Na cacosmia, a presença de uma infecção ativa das vias respiratórias é esperada no exame clínico. Na parosmia e na fantosmia também não é incomum que o portador revele histórico de sinusites, traumatismos crânio-encefálicos, exposição continuada às substâncias tóxicas, doenças neurológicas, dentre outras.

Existem causas psiquiátricas para as parosmias e fantosmias bem como Transtornos esquizofrênicos e do humor, síndromes epilépticas, transtornos relacionados ao uso de álcool e de outras substâncias são algumas delas.

Segundo o seu relato, não ficou totalmente claro se você tem ou não a sensação de estar cheirando mal. O que ficou claro é que você julga a possibilidade de terceiros estarem percebendo em você um cheiro “mau” e, por isso, evitando você.

A cocaína pode provocar inúmeros problemas à saúde física e psicológica, como diversas vezes já dissertado neste site: o Vya Estelar. Um desses problemas é a indução de prejuízos na percepção e no pensamento. Quadros alucinatórios e delirantes, infelizmente, podem decorrer do consumo de substâncias psicoativas e são situações bastante reais e merecedoras do mais nobre tratamento médico.

Para relembrar, os principais efeitos de longo prazo provocados pelo uso da cocaína são:

a) hipertensão arterial;
b) destruição de tecidos nasais;
c) doenças respiratórias e cardíacas;
d) perda de dentes;
e) alucinações táteis e olfativas;
f) disfunções sexuais;
g) desorientação, apatia e exaustão;
h) perturbações do humor e irritabilidade;
i) sintomas depressivos.

Bom, imagino que você esteja sofrendo bastante com tais sintomas aqui reportados. Não deixe de procurar auxilio médico imediato. Provavelmente, uma consulta com um médico psiquiatra especializado irá ajudar você a superar tal situação.

Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracterizam como sendo um atendimento.