por Regina Wielenska
Testemunhei uma cena rápida na banca de jornais: pai e um casal de filhos, por volta dos nove e onze anos de idade, pararam na banca, o pai pediu o jornal enquanto o garoto observava o comportamento frenético da irmã. Os olhos da menina vasculhavam as mercadorias, e ela pedia coisas, "me deixa levar este brinquedinho? Ah não, esta revista é melhor, não, não, prefiro a outra".
O menino, que nem se interessou por algum produto, matou a charada ao dizer: "Fulana, você não está precisando de nada, é só pra sentir que comprou alguma coisa e não saiu de mão abanando". Uma análise admirável do contexto todo.
Desconheço a história de vida da família, mas criei uma explicação fantasiosa para o comportamento quase oposto de crianças supostamente criadas de modo semelhante. Pareceu-me que o pai teria tido a oportunidade de ensinar ao filho mais velho o valor do dinheiro, e a importância de comportamentos de moderação frente a objetos de fugaz consumo. Talvez o garoto precise gerenciar uma mesada apertada para comprar suas miudezas e a menina, por ser mais nova e não ter mesada, ainda não precise administrar as escolhas que faz, apenas pede o que lhe vem à cabeça e em algumas ocasiões ganha o que pede.
Uma segunda hipótese é que a menina seja mais influenciada por algum modelo feminino, da mãe ou avó. Na minha imaginação poderia ser alguém que sai pra comprar até o que não precisa nas situações em que se sente entediada, frustrada, triste ou ansiosa. Comprar, para uma mulher assim, equivaleria a "se dar um presente, uma questão de mérito, um modo de se confortar". Convivendo de perto com um modelo feminino que se comporta desse jeito, a menina aprende que comprar é poder, traz alegria, funciona como uma espécie de recompensa. Assim, cada ponto de venda parece um templo do consumo compulsivo e compulsório. Não resisto, tenho que comprar. A mercadoria piscou pra mim.
Uma conhecida me contava sobre a mãe: se no produto estivesse escrito "brinde", "grátis" ou "promoção" era certeza de que ela morderia a isca. Já comprara fraldas sem ter criança na família porque vinham dentro de uma sacola bonita, o tal brinde. Pessoas assim parecem não serem influenciadas pela regra de que o barato sai caro, ou de que não existe almoço grátis na sociedade de consumo. Pra que comprar uma blusa branca em liquidação, mesmo que seja um lindo modelo clássico com ótimo preço (uma desculpa típica na linha do me-engana-que-eu-gosto) se no armário residem duas outras peças similares em excelente estado?
Dicas para não comprar o que não precisa
Algumas perguntas a se fazer frente às tentações:
– Eu preciso disso objetivamente ou o que na verdade eu precisaria é de uma gota de vitalidade, alegria e me sentir confortável com quem sou, e não com o que tenho?
– Ainda que eu precise, tenho de fato os recursos financeiros, sem ter que me endividar ou pagar juros absurdos? Lembre-se de que no mundo das finanças um produto vendido em n parcelas sem juros é, na verdade, um produto com belos juros disfarçadamente embutidos no suposto preço convidativo.
– Se eu comprar, que importância terá esse produto daqui a um mês? Se eu não comprar, quanto lamentarei por não tê-lo comprado?
Vou torcer para que estas perguntas auxiliem eventuais leitores a se aventurarem mais no universo da moderação do consumo de forma que vocês consigam poupar hoje para depois conquistarem sonhos maiores e bem substanciais, como os estudos, a casa própria, uma viagem especial, um tratamento de saúde, a ida a um espetáculo ou ajudar os avós a viver melhor os anos que lhe restam. Tudo é uma questão de valores, e não de preços.