por Rosemeire Zago
Sete Pecados Capitais – Preguiça
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Este artigo sobre a preguiça encerra a série sobre 'Os Sete Pecados Capitais': gula, soberba, luxúria, avareza, ira e inveja, onde podemos perceber que todos estão totalmente interligados.
A preguiça é a pouca ou falta de disposição ou aversão ao trabalho, demora ou lentidão para fazer qualquer coisa. É o tédio ou a tristeza em relação aos bens interiores e espirituais. É um aborrecimento natural pelo trabalho no dia a dia , se o mesmo não tiver seu esforço recompensado.
Este sentimento faz com que as pessoas desqualifiquem os problemas e a possibilidade de solução. A preguiça não se resume na preguiça física, mas também na preguiça de pensar, sentir e agir. A crença básica da preguiça é "Não necessito aprender nada", levando a um movimento limitador das idéias e ações no cotidiano e traduzido pelo "deixa para depois". A origem da palavra vem do hebraico: atsêl, que pode ser traduzida por lentidão ou indolência. A preguiça é considerada pecado mortal ao se opor diretamente ao amor a Deus.
A característica básica da preguiça pode ser encontrada em pessoas que frequentemente adiam compromissos, decisões, projetos, mudanças, ou até simples afazeres rotineiros, comprometendo o resultado desejado, com a justificativa de que não houve tempo, ou que irá realizar outro dia, mas que na verdade, tentam ocultar uma insegurança exagerada em sua própria capacidade de agir. Utilizam-se do desânimo, esquecimento, como estratégia para fugir da necessidade de arregaçar as mangas e enfrentar a parte que lhes cabe realizar na vida. É como se sentissem imobilizadas perante à vida.
O chefe preguiçoso
No ambiente profissional a preguiça de planejar, de ordenar as idéias, de se preparar e pensar no futuro evidencia um líder que não utiliza metodologias no trabalho, mas que muda constantemente as decisões e os planos para o departamento ou para a equipe. O líder não consegue precisar quais as missões, objetivos e metas do departamento e dos membros da equipe, onde a mesma passa a trabalhar em "marcha-lenta", pois sabe que aquele pedido feito pelo líder poderá mudar em breve. A equipe não consegue relacionar os planos, objetivos e projetos do departamento com o planejamento estratégico e objetivos organizacionais. Está muito relacionada ainda com a má administração do tempo, pois as prioridades mal definidas fazem com que se faça mudanças constantes nos planos.
Todos essa série sobre 'Os Sete Pecados Capitais' foi baseada na lista de São Tomás de Aquino que explica o quanto é importante conhecer nossos instintos mais primitivos, nossa sombra como diz Jung, o lado escuro que todos nós temos, mas que é possível através da conscientização e do autoconhecimento, colocar luz onde só era escuridão.
Os "pecados" contêm a possibilidade de se desencadear em outros tantos pecados, daí serem chamados capitais e se fundamentam em algum desejo natural e instintivo. Podemos encontrar cada um dos pecados em nossas relações diárias e em nós mesmos. É preciso conhecer cada pecado e não reprimi-los, pois só assim conseguiremos compreender e transformá-los. Vamos a um breve resumo de cada um deles:
Inveja: produz ódio e destruição, onde a pessoa nega o valor do outro e em consequência o próprio valor, mas pode ser transformada em impulso para a busca de querer não o que o outro tem, mas acreditar ser capaz de buscar o que quer para si e valorizar tudo o que tem.
Ira: é a raiva ou o ódio, com perda do controle. É uma emoção totalmente destrutiva tanto para quem a sente como para quem se torna objeto dela, fazendo a pessoa agredir a todos, quando na verdade está agredindo a si própria. É preciso identificar a emoção que foi mobilizada e controlar a agressividade através da razão.
Gula: é o excesso no comer e beber, mas também pode ser entendida como gula intelectual. Na sua simbologia maior significa voracidade. Pode ser entendida como uma forma de fuga de muitas outras dificuldades ou ainda, dos próprios sentimentos. Para ser transformada, é preciso desenvolver a busca pelo equilíbrio não só através da comida, mas também do conhecimento.
Avareza: significa excessivo e sórdido apego ao dinheiro, com grande medo de faltar, uma percepção de escassez. É uma falta de contato com o mundo interno, gerando uma busca incessante por tudo que é externo. Também é citado por alguns autores o termo vaidade.
Soberba: leva o homem a desprezar os superiores e desobedecer as leis. É o desejo distorcido de grandeza. A pessoa que manifesta a soberba atribui apenas a si próprio os bens que possui. Esse pecado tem relação direta com a ambição desmedida pelo poder e o orgulho exagerado. É preciso desenvolver a humildade e principalmente a consciência do próprio valor enquanto pessoa, independe de posição ou aquisição. Alguns autores usam o termo orgulho; outros, cobiça.
Luxúria: é o apetite sexual insaciável, com exclusiva satisfação física. Pode representar uma fuga do amor, da intimidade e do compromisso e ser transformada se houver a possibilidade de troca, valorizando o sentimento, a intimidade, cumplicidade, que não podem ser desenvolvidos em relações rápidas e superficiais.
Preguiça: é entendida como lentidão ou falta de vontade em fazer algo; pode também demonstrar uma falta de confiança em si mesmo.
Todos os pecados têm em comum a busca da satisfação no mundo externo, onde se procura compensar a falta de amor-próprio e a necessidade profunda e inconsciente de fugir dos próprios sentimentos. A percepção de cada um dos pecados em nossos comportamentos e dos consequentes conflitos gerados por eles nos relacionamentos pode sinalizar a necessidade de um esforço consciente e racional de mudança.
Principal significado
'Os Sete Pecados' nos faz refletir ainda sobre o quão antigo e histórico é a busca pelo externo. Na verdade, as pessoas materialistas precisam crer que são superiores, seja através do poder, da aquisição de bens, do sexo, para quem sabe compensar a crença na insignificância da existência ou na falta de um sentido em que vivem. Demonstram uma ausência ou restrita visão de seus valores internos, não valorizando seu mundo íntimo como intuição, inspiração, percepção, mas supervalorizando os bens materiais, o poder e tudo mais que o dinheiro pode comprar; como se isso fosse a maior riqueza do homem.
Será esse o objetivo de nossa vida? O objetivo maior do ser humano não seria a evolução; sair da inconsciência para a consciência, da razão para a intuição, do ter para o ser? Será possível tornar nosso mundo melhor ou tornarmo-nos pessoas melhores buscando a solução no externo, apegando-se apenas aos prazeres deste mundo e ignorando a riqueza maior que existe dentro de cada um de nós?
À medida que os homens tomarem consciência do valor do seu próprio mundo interno, poderão deixar a doentia preocupação com as aparências, a frustração crônica causada pela busca incessante da fama, do poder e da riqueza, ou seja, das promessas do mundo externo e superficial e perceberem o quanto se torna importante aproximarem-se de sua essência.
Acredito que podemos transformar 'Os Sete Pecados Capitais' em aprendizagem ao percebermos que o maior sentido da vida é a conscientização da riqueza do nosso mundo interior, entre eles os sentimentos, a emoção, a sensibilidade, a naturalidade, tão frequentes nas crianças, mas que infelizmente os adultos vão perdendo ao criar tantas defesas e máscaras e assim se distanciam do que é verdadeiramente valioso e que dinheiro algum pode comprar, mas somente pode ser conquistado: o amor em sua essência mais pura.